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O conto do capitão e o que diz a lei

Chico Buarque

Renato Dias

Tentativa de golpe de Estado civil e militar, trama para a abolição violenta do Estado de Direito, com a destruição do patrimônio público tombado e até formação de uma organização criminosa constituem parte dos crimes que a Polícia Federal deverá apontar em relatório especial a ser enviado à Procuradoria Geral da República. Veja: atos ilegais que envolvem o ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro [PL]. A PGR poderá ou não denunciar o acusado ao Supremo Tribunal Federal. Caso o STF admita a denúncia, ele vira réu e com risco de condenação. O tempo da Justiça não é o cronológico. É o devido processo legal.

Nove investigações mobilizam a PF, hoje. A tentativa de ruptura institucional obtém o foco. O ataque às sedes dos Três Poderes, em 8 de janeiro de 2023, seria o ápice disruptivo. A subversão da ordem contém ainda provas robustas. Com alta conspiração da Esplanada dos Ministérios gravada em vídeo, minuta com previsão de Decretos de Estado de Sítio, GLO, além de intervenção autoritária no TSE e prisão do presidente da corte, Alexandre de Moraes, o cancelamento das eleições, o afastamento do presidente da República eleito em dois turnos de outubro de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva, a um novo mandato com reeleição.

Jair Messias Bolsonaro teria transferido quase R$ 1 milhão para conta bancária nos EUA. Ele deixa o Brasil em 30 de dezembro de 2022. Eventual consolidação do golpe de Estado civil e militar em 8 de janeiro, com o suporte das Forças Armadas, em processo de disputa, assim como a colaboração da cúpula da PM do Distrito Federal e de fração dos seus “adeptos amotinados” em frente aos quartéis, traria o capitão reformado do Exército Brasileiro [EB] de volta ao País. Para assumir o poder. Uma missão. Com o referendo das ruas. O ataque ao Capitólio, nos EUA, que daria certo. O delírio fracassa.

A arquitetura da destruição investigada era um ousado projeto político, ideológico, religioso, financeiro, de manutenção do poder federal, coletivo. Com a anuência dos generais Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Estevam Cals Theophilo Gaspar, Paulo Sérgio Nogueira. Do almirante Almir Garnier e do ministro da Justiça, Anderson Torres. Homens do agronegócio, indústria e mercado integravam o núcleo da subversão da ordem. Mais: os apóstolos da boa nova evangélica e católica também faziam coro ao príncipe. A estratégia incluiria as milícias digitais, ativistas CACs. Reunião ministerial de 5 de julho de 2022 pede virada de mesa.

A PF apura o escândalo de desvio de joias da Arábia Saudita que pertencem à União. Inquérito aberto desvela o papel protagonizado pelo Gabinete do Ódio, milícias digitais, Abin paralela, a operação organizada para a falsificação de vacinas de Jair Messias Bolsonaro e Michele Bolsonaro para ingresso nos EUA, gastos estratosféricos nos cartões corporativos. Não estão descartadas novas operações, celebrações de colaborações premiadas para o Raio X da engrenagem completa da máquina de delitos que operou no Brasil de 2019 a 8 de janeiro de 2023. Surpresas podem ocorrer. Brasília está sob tensão.

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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