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PT: luz no fim do túnel. Onde está o túnel?

Fernando Safatle

Recentemente assisti pela segunda vez o filme, Um sonho de liberdade. O filme relata a história de um banqueiro que foi preso por matar sua mulher e amante. Condenado a prisão perpétua convive com presidiários também com penas extensas. Tim Robbins, que faz o papel do banqueiro presidiário faz amizade com Morgan Freeman que já cumpre 30 anos de cadeia e conhece como ninguém os meandros do cárcere.  O banqueiro conhece as mutretas do fisco e presta relevantes serviços aos policiais e mais especificamente ao diretor da prisão ajudando-lhe a lavar dinheiro sujo.

Estrela do PT

Com isso desfruta de margem de manobra para se apropriar parte do botim e planejar sua fuga depois de cumprir 20 anos de cadeia. Mas o que me chama a atenção é a percepção arguto de Freeman sobre o comportamento de alguns presidiários que cumpriram 50 anos de cadeia, foram institucionalizados. Assimilaram e incorporaram integralmente a vida do cárcere que não conseguem mais viver fora da cadeia, seu mundo agora era aquele, o mundo lá fora já não mais lhe pertence. Assim é o que transformou Brooks, um presidiário que cumpriu 50 anos de cadeia e agora ganhou liberdade condicional. No entanto, Brooks não queria sair, seu mundo era na cadeia, onde detinha certo respeito e tinha seu espaço.  Solto, não conseguiu se adaptar a vida lá fora, se suicidou alguns dias depois. Brooks foi vítima de sua institucionalização. 

Palácio do Planalto

Acho que cabe aqui uma analogia com que vem acontecendo com o PT nos últimos anos, mais especialmente com os anos que vem ocupando o Palácio do Planalto desde 2003 até os dias de hoje.  De tanto fumar o cachimbo acabou por entortar sua boca. Claro, esse fenômeno não é particular do PT, mas próprio de todos os partidos de esquerda que ocuparam por vários anos o poder e assimilaram a legalidade burguesa como forma de governo. Afinal, quem hoje defende a legalidade burguesa, com todas as suas mazelas e contradições?  Mais do que ninguém, o PT. Quem hoje contesta essa legalidade burguesa assumindo um comportamento insurrecional, como vimos durante todo o governo Bolsonaro, culminando com a tentativa de golpe no dia 8 de janeiro? O PT caiu na armadilha e não mais consegue se desvencilhar desse entulho institucional e vai ter que defendê-lo até as últimas consequências se quiser continuar no poder.  Essa é a lógica de quem foi institucionalizado: defender até a última instância a legalidade burguesa com todas as suas mazelas e contradições. 

Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT

Querer que o PT se reconverta e assuma postura insurrecional, que nunca teve, isso não vai acontecer.  No máximo avançar para uma proposta social democrata mais consequente­mente o que dificilmente também pode acontecer diante de uma posição do atual governo de manter uma linha política de conciliação de classe, que evita sobremaneira o conflito de classe. Os movimentos sociais estão totalmente cooptados, isso desde o primeiro governo de Lula e continua assim até agora e o centrão exerce um apetite devastador pelos cargos e dinheiro público. A única voz dissonante, discorda dela ou não, é da presidenta do PT, Gleisi Hoffman, que critica alguns pontos do governo. Mas agora, vem sendo bombardeada pela eminência parda José Dirceu, taxando inclusive seu posicionamento de “covarde”. Essa a situação política nesse momento. Perspectivas sombrias para quem aposta em avanços mais intensos e transformadores. De onde pode surgir um lampejo insurrecional? Do Psol? Certamente não, caminha a passos largos para também ser institucionalizado.  Tem luz no final do túnel? Parece, do jeito que está, precisa primeiro achar o túnel. 

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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