Jose Dirceu
Opinião

Ventos democráticos

2022 na agenda da América Latina

José Dirceu de Oliveira e Silva

Exercitei ao máximo o diálogo sem deixar de defender nosso projeto político, o meu partido, o PT, e Lula, seu legado e liderança. Mas fiz isso com a convicção de que, para retomar o caminho democrático e da justiça social em nosso Brasil, precisamos construir pontes ao lado da mais ampla mobilização popular. O objetivo é assegurar não apenas uma vitória eleitoral em 2022, mas, principalmente, condições para governar atendendo às demandas mais urgentes de nosso povo trabalhador: direitos básicos de bem-estar social, paz e segurança para suas famílias, oferta de emprego e serviços públicos universais e o fim dos flagelos da fome e da miséria, que nos abatem novamente.

Luiz Inácio Lula da Silva em dois momentos históricos

Por fim, faz-se necessário combater a criminosa política negacionista com relação à pandemia e à ciência, além do ataque sistemático à cultura, à educação e ao meio ambiente, restaurando a imagem do Brasil no mundo e restabelecendo no país o respeito à Constituição de 1988 –rasgada pelo golpe de 2016 e pelos processos sumários, de exceção e políticos da Lava Jato e pela captura e aparelhamento das instituições do Estado no governo Bolsonaro.

Clã de Jair Messias Bolsonaro

O Brasil corre o risco de ficar à margem das mudanças de um mundo em transformação, seja pela revolução científica, seja pela ascensão da China e de um novo mapa geopolítico que se configura. Para que isso não aconteça, vamos ter que retomar a integração regional e latino-americana, e fazendo um esforço concentrado em educação, ciência e tecnologia. Tudo isso exige abandonar dogmas e políticas econômicas que só interessam a uma minoria rentista.

Xi Jinping

Nunca é demais reafirmar que, sem pôr fim à concentração de renda e riqueza e sem soberania nas decisões econômicas, não encontraremos o caminho do desenvolvimento nacional. Este exige distribuição de renda e a retomada do papel do Estado como planejador e indutor do crescimento. A revolução climática, energética e científica em nível mundial já é um fato. O neoliberalismo está condenado a desaparecer. A disputa a que assistimos é se haverá uma regressão, como foi o nazifascismo, ou uma evolução para uma nova sociedade mais democrática e justa, ou mesmo revoluções sociais.

Adolf Hitler
Adolf Hitler

O Brasil está em condições de aproveitar essa janela de oportunidade histórica para mudar e deixar para trás a regressão social, política e cultural que Bolsonaro representa. Mas não só ele: é preciso deixar para trás também o modelo econômico da concentração de renda que só serve às elites, oprime o povo e nos condena à mediocridade, quando somos uma potência e temos todas as condições de ocupar nosso lugar no mundo.

Gabriel Boric eleito presidente da República do Chile

Os ventos que vêm de nossa vizinhança geopolítica e cultural, das lutas e vitórias na Bolívia, no Peru, na Colômbia, na Argentina e, agora, no Chile, nos indicam o caminho a seguir. No 2º turno, Gabriel Boric, o presidente eleito do Chile, obteve apoio de um amplo leque de forças políticas além do Apruebo Dignidad (PC, RD, Comunes, Convergencia Social e FRVS), frente oficial de apoio ao candidato da esquerda, e da própria ex-Concertacion que reunia PS, PPD e DC. Mas foi o chamado “estalido” social, a juventude, os pobres, os indígenas e os trabalhadores que asseguraram a ida do ex-líder estudantil para o 2º turno, ainda que com menos votos que os obtidos pelo candidato da direita, José Antonio Kast –um Bolsonaro piorado, se é que isso é possível. O cenário demonstra a força da direita e de seus ideários e interesses e serve de alerta para nós. O risco da vitória de um candidato de extrema-direita polarizou as ruas e provocou uma mobilização eleitoral há muito não vista, que teve como resultado a vitória de Boric.

Chile – Manifestações _ 2021 – Boitempo

Para surpresa de muitos, Kast não só reconheceu a vitória de Boric antes mesmo do término das apurações como cumprimentou o novo presidente. Um gesto que revela como estamos no fundo do poço com Bolsonaro e seu ataque constante às urnas eletrônicas e à democracia, sua pregação de ódio e violência. Sebastian Piñera, o presidente atual, logo depois da eleição, recebeu o presidente eleito no Palácio de La Moneda. Simbolicamente, Boric disse que “se o Chile foi o berço do neoliberalismo, também será sua tumba”. Isso demarca um espaço e um tempo histórico e nos indica também um caminho. Desejo a todas e todos um 2022 de paz e saúde, energia para a vida e para a luta, com a certeza de que retomaremos o fio da história com Lula presidente.

 

 

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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