Agonia _ Pedro Tierra
Agonia
Pedro Tierra
Morro a morte
mais longa,
a espantosa morte
de um continente.
Morro há séculos
no corpo dos povos
exterminados.
O coração lavrado
pelo fogo
dos bandeirantes,
bugreiros,
caçadores de escravos.
Sou a boca aberta de milhões,
ferida sangrando
na carne da História.
Dentes cerrados,
afio a flecha
a fogo e fúria.
Retorno à Terra
– alma de meu povo –,
sem paz.
Com as armas do meu uso
defendo sua memória
enterrada.
Retorno à Terra
e convoco os ossos
dos guerreiros degolados
EMANCIPADOS
pelo fogo do Arcabuz!
Retorno ao coração da terra
e dele retiro minhas armas:
o braço,
a borduna,
o canto dos mortos.
Levanto-me,
a corda dos arcos
retesada,
o corpo das lanças
refundido,
sem descanso avançam
os portadores do fogo!!
Observação
Este poema não foi escrito hoje. Foi dedicado aos povos indígenas do Continente durante a campanha contra a falsa “Emancipação dos Povos indígenas do Brasil”, promovida pela Ditadura Militar, sob a coordenação do Ministro Rangel Reis, em 1978
Pedro Tierra