Pedro Tierra
Arte

Agonia _ Pedro Tierra

 

Agonia

Pedro Tierra

 

Morro a morte 

mais longa, 

a espantosa morte 

de um continente.

Morro há séculos 

no corpo dos povos 

exterminados.

O coração lavrado 

pelo fogo 

dos bandeirantes, 

bugreiros, 

caçadores de escravos.

Sou a boca aberta de milhões,  

ferida sangrando 

na carne da História.

Dentes cerrados, 

afio a flecha 

a fogo e fúria.

Retorno à Terra 

– alma de meu povo –, 

sem paz.

Com as armas do meu uso 

defendo sua memória 

enterrada.

Retorno à Terra 

e convoco os ossos 

dos guerreiros degolados 

EMANCIPADOS 

pelo fogo do Arcabuz!

Retorno ao coração da terra 

e dele retiro minhas armas: 

o braço, 

a borduna, 

o canto dos mortos.

Levanto-me, 

a corda dos arcos 

retesada, 

o corpo das lanças 

refundido, 

sem descanso avançam 

os portadores do fogo!!

Observação

Este poema não foi escrito hoje. Foi dedicado aos povos indígenas do Continente durante a campanha contra a falsa “Emancipação dos Povos indígenas do Brasil”, promovida pela Ditadura Militar, sob a coordenação do Ministro Rangel Reis, em 1978

Pedro Tierra

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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