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Um jornal a favor do contra

O Pasquim

Um jornal a favor do contra

Tarso de Castro, Paulo Francis, Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo, Henfil abusavam da irreverência, cutucavam a ditadura civil e militar e sobreviveu exatos 22 anos [1969-1991]

Renato Dias

Único. Singular. Irreverente. Abusado. Assim era ‘O Pasquim’. Semanário. Um tabloide lançado no Rio de Janeiro que chegou a obter uma tiragem de 250 mil exemplares. Com uma turma do ‘balacobaco’. Tarso de Castro, Paulo Francis, Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo. Sob a ditadura civil e militar que, com um golpe de Estado, derrubou o nacional-estatista, em sua versão trabalhista, João Belchior Marques Goulart. Gaúcho de São Borja. Uma noite que durou 21 anos.

_ Um jornal a favor do contra.

Esse era um de seus bordões antológicos. Um veículo que ri de si mesmo. Os jornalistas que integravam a multifacetada redação destilavam ironias. Uma parte parou atrás das grades.  A ideia era desdenhar das convenções e topar correr riscos, dizia um cartunista. É possível, sim, conceitua-lo como um tabloide especializado em humor corrosivo. Um sopro revigorante. Não custa lembrar, como anota a Mostra 50 anos do Pasquim, com linguagem e formas inventivas.

_ O Pasquim, corajoso como um rato. Um contra – atributo estampado na capa. Do semanário.

Doutor da Universidade de São Paulo, o professor Bernardo Kucinski, autor de frase seminal que aponta que a mídia latino-americana possui um DNA golpista, escreveu ‘Jornalistas e Revolucionários’. O livro relata a história e o papel da imprensa alternativa ou nanica. Nos Anos de Chumbo e de Ouro. De repressão política e militar. Com censura à imprensa, artes e espetáculos. Sob o Milagre Econômico. A obra aborda os tempos de revolução na imprensa no Brasil.

_ Um sopro revigorante. Consciência critica. Liberdade de expressão. Livre pensar? [Tempos Interessantes, uma expressão do historiador marxista inglês Eric Hobsbawn]

Henfil é o criador dos termos Putzgrila! eTop top top! Memória histórica. O Número 1 de ‘O Pasquim’ chegou às bancas no dia 26 de junho do ano de 1969. Um ano após a passeata dos 100 mil, em 26 de junho de 1968, no Rio de Janeiro. Detalhe: com 14 mil exemplares. Depois, às pressas, mais 14 mil. Ah! O primeiro entrevistado? Ibrahim Sued. Com um furo de reportagem. O general linha-dura do Exército, Emílio Garrastazu Médici, será o próximo presidente.

_ Da República, no Brasil. De 1969 a 15 de março de 1974. [Ibrahin Sued era colunista social]

‘O Pasquim’ sobreviveu, com dificuldades, à censura e de caixa, exatos 22 anos. De 1969 a outubro de 1991. Nada mais nada menos do que 1072 edições. O tabloide insurreicional, incendiário, carbonário, enfrentou, sem se curvar, três generais-presidentes da República: Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel, João Baptista de Oliveira Figueiredo. Dois civis: José Ribamar Sarney, autor do livro ‘Marimbondos de Fogos’, e Fernando Collor de Mello, ex-PRN.

_ O suposto ‘Caçador de Marajás’, que acabou alvo de impeachment, em outubro de 1992.

‘O Pasquim’, número 22, de 20 de novembro de 1969, traz na capa Leila Diniz. Em 14 de janeiro de 1971, Jorge Amado,  o entrevistado. Edição de 6 de novembro de 1973, Ângela Gillian, antropóloga, dos EUA, personagem entrevistada. Racismo no Brasil é denunciado. O censor do jornal é demitido. Número 300 _Censurado! Motivo: ironia de Millôr Fernandes. ‘O Pasquim’, número 409, 29 de abril de 1977, entrevista com o advogado, a lenda do Brasil, Sobral Pinto.

_ 60 anos de resistência.

‘O Pasquim’, número 456, 24 de março de 1978: Lula _ Salário mínimo é isso aí!  A edição especial de número 473, data de 21 de julho de 1978, o tema da pauta é Anistia. Já em 2 de novembro de 1979 a manchete de capa é ‘Prestes para o Pasquim’.  O Pasquim, número 1.072, aborda o acelerado processo de abertura ao capital externo, a desnacionalização da economia, desmonte do Estado Nacional, herança de Getúlio Vargas e de João Belchior Marques Goulart.

_ Usiminas, Petrobras, Vale do Rio Doce. Privatização é o cacete!

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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