Um bicho no palco

Cinebiografia de Ney Matogrosso é visceral
Renato Dias
Alvo de homofobia, com assédio moral e até violência doméstica, ele sai de casa, serve em 1959, na Aeronáutica, muda-se para Brasília, em 1961, trabalha como enfermeiro, entra para um coral, sonha em fazer teatro, opta por São Paulo e o artesanato, embarca para o Rio de Janeiro, vira cantor de banda, provoca, explode. Sob a ditadura civil e militar no Brasil. É a vida louca de Ney Matogrosso.

O grupo Secos e Molhados lança no mercado fonográfico as músicas Rosa de Hiroshima e Sangue Latino. As canções caem como uma bomba atômica. Mais: na indústria do entretenimento. Rádios, os shows lotados, séries intermináveis de entrevistas. Já o perfil andrógino do vocalista corre o país. O dinheiro entra e sai. A unidade dura dois discos e dois anos. Somente. Carreira solo à vista.

Em tempo: o artista incendeia os palcos. Veja: escandaliza a sociedade careta da época. O que incomoda o departamento de censura. Tempos sombrios. Com Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista de Oliveira Figueiredo. O intérprete único assume a sua identidade sexual, inova a Música Popular Brasileira [MPB], arrasta multidões seduzidas para os seus “explosivos espetáculos”.

Ney Matogrosso estabelece um romance tórrido com o anárquico Cazuza. O cantor mantém um relacionamento longo ainda com o médico Marco de Maria. O primeiro morre vítima da AIDS: 7 de julho de 1990, aos 32. Ícone do rock nacional. O segundo também em 1993. Uma geração devastada nas décadas de 1980 e 1990. Os modernos tratamentos aos portadores de HIV surgem anos depois.

Filme: Homem com H
Duração: 130 minutos
Roteiro e direção: Esmir Filho
Protagonista: Jesuíta Barbosa
Avaliação: Excelente
Em cartaz: Cine Cultura