O engodo dos números eleitorais

Fernando Safatle
Há um grande equívoco na programação dos números eleitorais, que confunde e tergiversa sobre as eleições. Pouca gente percebe a trama. Aqui em Catalão o candidato do grupo do Adib Elias que governa a cidade por 20 anos trombeteia aos quatro ventos sua vitória eleitoral obtendo 59,56 dos votos válidos, ou seja 31.730 votos.

Um belo feito, sem dúvida nenhuma, comemorado pelos desavisados. A maioria votou no candidato do grupo do Adib Elias. Contudo, se formos analisar mais devagar, a situação não é bem assim, mas completamente diferente. Senão vejamos. Esses 59,56% dos votos é em relação aos votos válidos, tão somente. Ora, se considerarmos os votos nulos, brancos e abstenção totalizam 30, 20%, número altíssimo.

E se relacionarmos os votos do candidato do grupo do Adib Elias com o total de eleitores o seu percentual cai para 42,60% do número de eleitores. Aí que está o enrosco. Eles relacionam com os votos válidos e nos consideramos os votos totais, incluindo os nulos, brancos e abstenções. Afinal, os que votaram nulo e brancos e os que se abstiveram não são também eleitores e não vivem na cidade? É claro que sim.

E votar nulo é branco e se abster não é uma maneira de demonstrar um voto de protesto, seja lá por motivo que for? Portanto, nada mais justo do que incluir todos eles no mesmo balão, como eleitores. O certo é que 59,55 não votaram no candidato do grupo do prefeito. Foi eleito, foi, mas não com maioria como apregoam, mas sim, com a minoria de 42, 60 % dos votos.

Outra questão a considerar é que os 24,54% que se abstiveram de comparecer prejudicou sensivelmente os votos da esquerda, isto porque simplesmente em Catalão o transporte coletivo praticamente não existe. Como uma pessoa que mora na periferia pode se deslocar para votar se não tem transporte coletivo, enquanto os comissionados são pressionados a comparecer senão são punidos. Tudo isso tem que se levar em conta. Não é justificativa de derrotados são fatos a se considerar.

Ninguém da esquerda contava com a vitória aqui, sabíamos muito bem que nossa vitória política tinha sido conquistada com antecedência desde o momento que conseguimos unir a esquerda depois de 24 anos, lançando candidatura própria. A vitória eleitoral, isso é outra história que deve ser contada depois, diante de tantas mazelas e injustiças que ocorre em um processo eleitoral.
Fernando Safatle é economista