Eleições

O que diz a eleição?

Amanhã vai ser outro dia, de Chico Buarque

Renato Dias 

Após o desastre eleitoral de outubro de 2016, ano trágico do golpe de Estado pós-moderno que depôs Dilma Rousseff, o PT cresceu nas urnas eletrônicas de 6 de outubro de 2024, em comparação com o resultado geral de 2020. A sigla já obteve 8, 8 milhões de votos válidos. Veja: ela aumentou de 179 para 248 o número de prefeituras sob o seu controle, disputa mais 13 no segundo turno e elegeu 3.118 vereadores no país. Um crescimento de 550 cadeiras. Mais: o número de mulheres eleitas é de 876.

A legenda irá enfrentar as direitas no segundo turno, dia 27 de outubro de 2024, em Fortaleza [CE], Natal [RN], Porto Alegre [RS], Cuiabá [MT] e em São Paulo, maior cidade da América Latina, com a ex-prefeita e ex-ministra da Cultura Marta Suplicy como a vice do deputado federal e sociólogo Guilherme Boulos [Psol]. Em uma ampla frente democrática e popular. O partido fez alianças políticas e eleitorais com Eduardo Paes, Rio de Janeiro, e João Campos, Recife. O PT não lançou nomes em Salvador e Curitiba.

Alvo de Lawfare e Fake News, ainda refém das redes digitais que produzem dependentes químicos dos algoritmos, em tempos sombrios de Guerra Cultural com a Inteligência Artificial, o partido hegemônico nas esquerdas cresce no Nordeste e Sudeste, mantém o mesmo espaço no Centro-Oeste e cai no Norte e Sul do Brasil. É o que mostra o mapa oficial do Tribunal Superior Eleitoral [TSE]. Anabolizadas por emendas parlamentares bilionárias, a direita e a centro-direita ganharam as eleições.

O PSB venceu em 312 cidades e faturou 3.557 mandatos. Tradicional aliado desde 1989, o PC do B conquistou 19 administrações e terá 354 representantes nas câmaras municipais. Em tempo: o Partido Democrático Trabalhista contabiliza 151 gestões e 2.479 vereadores. PV, 14 prefeituras e 487 vereadores. Psol concorre em duas no segundo turno e fez 80 nos legislativos. Rede Sustentabilidade, quatro mandatos e 171 parlamentares. Unidade Popular, PCR, PCO, PCB e PSTU não elegeram ninguém.

Daniel Aarão Reis Filho 

“Extrema direita não venceu” 

Daniel Aarão Reis Filho

A extrema direita não ganhou as eleições de 6 de outubro no Brasil, analisa Daniel Aarão Reis Filho, professor doutor emérito de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense [UFF].

PSD, MDB, União Brasil e Republicanos elegeram o maior número de prefeituras nos 5.700 municípios do País, informa o pesquisador com exclusividade ao Portal de Notícias www.renatodias.online

Legenda do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro, o Partido Liberal projetava eleger 1.500 prefeitos e elegeu 500. O que não deixa de ser expressivo, alerta o escritor e intelectual público.

O que pensa a Academia

Peruano, o professor doutor da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, Carlos Ugo Santander, diz que o Brasil não saiu da encruzilhada que a extrema direita impõe à normalidade democrática.

Mesmo com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro, a extrema direita quer ganhar as eleições de 2026 para intervir no STF, reduzir as suas prerrogativas e destituir o ministro Alexandre de Moraes, observa.

O cientista político defende a renovação dos quadros das esquerdas, assim como o desenvolvimento de estratégias inovadoras e a abertura de espaços de participação social mais democráticos.

A professora doutora em História da UFG Alcilene Cavalcante avalia que o resultado das eleições assombra. Pelo pragmatismo, frisa. Ele sinaliza, mas não determina o pleito de 2026, destaca.

Desde a redemocratização, as esquerdas nunca tiveram a hegemonia das milhares de prefeituras no país, ela explica. Já as direitas, nunca tão fragmentadas, mostraram a sua verdadeira face, pontua.

O campo progressista no Brasil fica ou deveria ficar de sobreaviso, com o radar ligado, quanto ao que poderemos voltar a experimentar já no ano de 2026. É o alerta explosivo de Alcilene Cavalcante.

Longe de derrota absoluta” 

É a análise de Betty Almeida 

O resultado das eleições não é de uma derrota completa das esquerdas, informa a professora doutora aposentada da UFPB e escritora Betty Almeida. A direita conquistou corações e mentes, pontua.

Mais: com a narrativa de repúdio às instituições democráticas, de defesa do empreendedorismo, da meritocracia no capitalismo. Ilusão que produz trabalho precarizado, sem direitos, ela observa.

Betty Almeida, biógrafa de Honestino Monteiro Guimarães, avalia que o segundo turno, em 27 de outubro, traz também uma possibilidade real de vitória para as esquerdas nas urnas eletrônicas.

Roberto Abdalla, vice-diretor da Faculdade de História da UFG

Clayton de Souza Avelar, historiador marxista de Brasília [DF] 1
Clayton de Souza Avelar, historiador marxista de Brasília [DF] 2

Sigmund Freud

Sigmund Freud – caricatura

Autoanálise das esquerdas

A ex-deputada estadual Isaura Lemos afirma que o discurso antissistema e a pauta de costumes da extrema direita seduzem, hoje, um percentual elevado da população no Brasil. Conservadores, descontentes e desiludidos, dispara.

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, deveria cortar o pagamento dos juros da dívida, ampliar os investimentos em Saúde, Educação, Habitação, Infraestrutura e promover mudanças, adverte a líder do PC do B.

Historiador adepto das ideias de Leon Trotski [1879-1940], Fred Frazão diz que o crescimento da extrema direita é fenômeno global. No vácuo deixado pela esquerda, explica. Ela esconde ou rebaixa o seu programa em conciliação, critica.

O PT, seu setor hegemônico, precisa hoje deixar de ser liberal, revogar o arcabouço fiscal, o Novo Ensino Médio, reformas trabalhista e previdenciária, não atacar o piso da saúde e educação, nem privatizar presídios, reclama o sindicalista do Psol.

Com discurso raivoso, a extrema direita cresceu nas eleições no Brasil, admite o professor de História Reinaldo Pantaleão. O avanço dos conservadores de linhagem fascista ocorre no mundo, insiste a UP. “Ela não é combatida com energia e rigor”.

Ronaldo Caiado fabricou Fred Rodrigues na TBC para atacar o PT e Lula e, hoje, a criatura é maior que o criador, em 2026 lançam Wilder Morais, Sandro Mabel será derrotado e Daniel Vilela também, frisa o advogado Edilberto de Castro Dias [PT].

Edilberto Dias

As direitas ganharam fôlego para 2026, vê o historiador, jornalista, pesquisador da geopolítica mundial e de Questões Militares Frederico Vitor de Oliveira. Os adeptos de Jair Messias Bolsonaro crescem nos municípios, ele fuzila.

Apesar dos indicadores econômicos positivos, como o crescimento do PIB, redução do desemprego, trabalho formal, ampliação dos investimentos externos, controle da inflação, redução do dólar, o impacto não chega ao bolso, diz.

As esquerdas perdem, hoje, a Guerra Cultural, aponta. A batalha das narrativas, faz o diagnóstico. “Entenda: para os aparelhos ideológicos das direitas, como os conglomerados de comunicação, nas redes digitais e ainda nas igrejas”, frisa.

Dica de Leitura para o Brasil, hoje

Extrema direita avança, sim

David Maciel 

Professor doutor de História da UFG 

Os resultados eleitorais confirmam o avanço político e ideológico da extrema direita, particularmente do PL e do Republicanos, que estão entre os que mais conquistaram prefeituras e adotam posições fascistas. Os partidos de centro direita (o chamado Centrão) que tiveram melhor desempenho, como PSD, MDB, PP e União Brasil tem adotado posições cada vez mais próximas da extrema direita e se aliado aos partidos de extrema direita, quando não acolhem candidatos fascistas entre seus quadros. Os partidos de esquerda tiveram resultados muito ruins, muito aquém do necessário para derrotar a extrema direita e o fascismo, apesar do contentamento dos que consideram o pequeno avanço do PT um sucesso. Isto torna evidente o fracasso da política de não enfrentamento e de acomodação política adotado pelo governo da frente ampla na contenção e anulação da extrema direita. Além disso, essa vitória eleitoral, política e ideológica faz o eixo em torno do qual gira a política brasileira se mover ainda mais para direita. Neste cenário, a manutenção da política de não enfrentamento obriga o governo da frente ampla a acompanhar esse movimento, se aliando ainda mais com as forças de direita, o Centrão, assim dificultando ainda mais o cumprimento do programa que o elegeu. Nessas condições, a disputa de 2026 tende a ser pautada pelo neoliberalismo e pelo conservadorismo, mesmo que a frente ampla apresenta Lula como candidato. Isto torna urgente por parte do governo e da esquerda o abandono da política de não enfrentamento e de acomodação com a extrema direita, particularmente com o bolsonarismo. É preciso enfrentar a extrema direita nos planos político, ideológico, mobilizatório e judicial, sob o risco de termos um resultado eleitoral ainda pior em 2026, com um governo de extrema direita e um congresso capaz de abolir legalmente o que resta da democracia restrita vigorante no país.

A Internacional

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

Avatar photo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *