Entrevista especial
Renato Dias
A insurreição de 25 de outubro de 1917, século XX, na velha Rússia, teve golpe e revolução, informa com exclusividade ao Portal de Notícias www.renatodias.online o historiador Daniel Aarão Reis Filho.
Aos 78 anos hoje, o professor doutor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense [UFF] cita o pesquisador francês Marc Ferro como um dos pioneiros na formulação original da abordagem.
Em outubro de 1917 houve golpe e também revolução, explica. Outubro desemboca em decisões revolucionárias, como sobre o novo poder, questão agrária, a paz, saída da guerra, nacionalidades, revolução social, diz.
As operações insurreicionais ocorreram sem a autorização das instituições democráticas, os Sovietes, conselhos plurais de operários, soldados e camponeses, frisa o escritor. O que seria um golpe de Estado bolchevique.
Vladimir Ilich Ulianov [Lênin] feriu interesses e nunca será unanimidade, crê. Veja ainda: fanático e tirano, para os liberais, resume. Já os comunistas o veneram, atira. Os críticos de esquerda veem virtudes e defeitos, fuzila.
O Testamento de Lênin era dirigido ao XIII Congresso do Partido Comunista contém críticas contundentes a Josep Stálin, então secretário-geral, por indicação dele, advertia sobre a necessidade de afasta-lo, conta.
Mais: Daniel Aarão Reis Filho revela também que logo após a revolução fundou-se a República Socialista Federativa Soviética da Rússia. Ela englobava as nações não-russas, afirma. Tema objeto de polêmicas, destaca.
A primeira Constituição Revolucionária em julho de 1918 que consagrava a República Socialista Federativa da Rússia e a segunda, em 2022, com a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas [URSS], ele registra.
Não era somente uma mera troca de nomes, insiste. A URSS seria estruturada na livre autonomia, com direito à secessão, explica o estudioso das revoluções russas, assim como das esquerdas revolucionárias.
Até a desagregação da União Soviética, ela era a única potência a rivalizar e a fazer sombra aos Estados Unidos, além de ser hegemônica no movimento comunista internacional, destaca o intelectual público.
A URSS fornecia suportes financeiros aos PCs no mundo e ao PCB, admite. Nada de extraordinário, alerta. Dezenas de milhares de dólares, relata. Em tempo: os valores não eram decisivos, ele deixa bem claro.
Cuba, que fez a revolução em 1959, tornou – se dependente dos subsídios da URSS, nas áreas Militar e do Petróleo, vê, A Nicarágua não teve dependência soviética, avisa. Nem o socialismo real na Ásia, ele detecta.
A humanidade esteve próxima da Terceira Guerra Mundial em outubro do ano de 1962 sob a crise dos mísseis, narra. Sob Nikita Kruschev [URSS], Fidel Castro Ruz [Cuba], além de John Fitzgerald Kennedy [EUA].
A URSS instalou foguetes, ogivas atômicas, em Cuba, os EUA desferiram um embargo, pressionaram, a União Soviética retirou-os com o compromisso de a Casa Branca não invadir a ilha, interpreta o episódio histórico.
Controvérsias marcam até hoje as análises dos fatores que teriam provocado a efetiva desestruturação da União Soviética. É o que ele diagnostica. A consolidação do fim ocorre em 25 de dezembro de 1991.
Os excessivos gastos militares à época para ter paridade com os EUA, o que inclui a corrida espacial, é o primeiro elemento que contribuiu para o enfraquecimento da URSS sob a Glasnost e a Perestroika, diz.
A desorientação política constitui ainda a tônica dos rumos da economia, sociedade e Estado executados desde 1985 por Mikhail Gorbatchev entre a socialdemocracia ou socialismo com mercado, metralha.
Economia política: a grave crise econômica é a terceiro ponto, com o alto desemprego e a inflação, acredita. As nacionalidades não russas alimentaram a desestruturação, examina o processo Daniel Aarão Reis Filho.
Após referir-se a Nobel de Literatura Svetlana Alexiévitch, o escritor menciona a falência cultural, da convicção no mito da suposta superioridade. “Com as dúvidas que levam à desestruturação cultural,” atira.