Marcos Cipriano, jornalista
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O motorista da alegria

Claudemir Socorro Ludugério

Marcos Cipriano

Especial para o Portal de Notícias

www.renatodias.online

Uma criança preta, de origem humilde, que um dia ousou desafiar o mundo triste e a pobreza pronta e acabada que lhe fora apresentada, já nos primeiros anos de vida. Parananense da pequena Santa Amélia, de 3 mil habitantes, Claudemir Socorro Ludugério é filho de uma prole de 11 irmãos.

Claudemir Socorro Ludugério

Até os 7 anos de idade, morava num rancho de bambu. No primeiro dia de aula, foi para escola descalço, por não ter um sapatinho. A sacola onde levaria os cadernos foi improvisada. Era um saco daqueles que se usa para embalar arroz. Claudemir tinha um sonho, que lhe parecia distante: ser motorista de caminhão e fisiculturista.

Claudemir Socorro Ludugério

O ideal manteve-se vivo por anos e anos. Claudemir repetia seu mantra: “Acreditar e nunca desistir”.  Chegou a trabalhar como servente pedreiro e lavrador, antes de começar a correr atrás de seus objetivos. Casou-se, teve cinco filhos, mas depois da separação foi morar em Itatiba (SP).

Acreditar e nunca desistir

Estava selado do futuro daquele garoto, que começou a trabalhar na roça, para ajudar os pais, por volta de 9 anos, mas que nunca abandonou seus sonhos.  “Sempre procurei ser feliz naquilo que faço e acredito”, diz. Claudemir sempre gostou de dança. O balanço do Flashback incendiou suas veias. Curtia tudo: Michael Jackson, Cindy Lauper, Madonna, Tina Turner.

Michael Jackson

Também se inspirava nos filmes de Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenegger e pensava em participar de competições de fisiculturismo.  Claudemir, o @motoristafisiculturista – é hoje um fenômeno da Internet. Suas redes sociais já somam mais de 1,4 milhão de seguidores e seus vídeos 50 milhões de visualizações. E os números não param de crescer. O seu conteúdo principal: ensaiar passinhos e dançar com pessoas que cruza em suas viagens, como motorista interestadual de ônibus.

Uma das performances que ele fez, na qual dançava a música Sending All My Love no terminal da Barra Funda, em São Paulo, recebeu elogios do vocalista da banda Linear, Charlie Pennachio, que enviou um vídeo o parabenizando. Na vida, Claudemir passou por dois dramas, que quase o fizeram desistir:  Dia 15 de dezembro de 2020 perdeu um filho de 23 anos, assassinado em Campinas, São Paulo. 

23 anos

Na época encontrou forças na mãe, uma senhora de 84 anos, que sempre lutou contra as adversidades após perder pai, mãe, irmãos, irmãs e filhos, “mas tava lá firme, forte”. No mesmo mês de dezembro 2021, o motorista fisiculturista perdeu a mãe. Hoje ele mora em Goiânia e vive a maior parte do tempo na estrada, sempre levando a alegria aos passageiros que transporta, para os quatro cantos do país.

Goiânia

E o motorista da alegria, com sua melanina típica do lindo e alegre povo africano, nos remete a um pensamento do grande pacifista sul-africano Nelson Mandela: “Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós. Não está apenas em um de nós: está em todos nós. E conforme deixamos nossa própria luz brilhar, inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo. E conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente, libera os outros.”

Nelson Mandela

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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