Ucrânia, um ano: beco sem saída?
Rússia versus Ucrânia
Longe de uma guerra de curta duração
Renato Dias
Com extensão territorial de 603.500 km2, além de uma população de 43 milhões de habitantes, o segundo país mais populoso do Leste da Europa, a Ucrânia jorra sangue após um ano de guerra em suas fronteiras. O inimigo mora ao lado. A Rússia. Sob a presidência do autocrata, capitalista, que sonha com o Velho Império Russo, o ex-KGB Vladimir Putin. Adepto das ideias ortodoxas de Alexander Duguin. O seu suposto guru. O criador da Quarta Teoria Política Global.
Levantamento não oficial apontaria para 100 mil soldados e 40 mil civis no conflito bélico. Assim como uma projeção de até 15 mi de refugiados. Homens, mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos. Eles fogem para a Polônia, República Tcheca, Eslováquia. Mais: França, Reino Unido, Alemanha e Rússia. A rede de infraestrutura militar em frangalhos. Setenta por cento das cidades já estiveram sob fogo cruzado: fortes bombardeios. A economia em um quadro de terra arrasada.
A guerra Rússia e Ucrânia é, sim, tragédia humanitária. Com um desastre econômico global. Veja: ela atinge os cinco continentes. Como provoca uma grave crise sanitária e ambiental, com a violação em ampla escala de direitos humanos e das convenções de guerra. Um alto retrocesso civilizatório. O que era projetado pelo Kremlin para ser de curta duração chega a 365 Dias em 24 de fevereiro de 2023. Com elevadas baixas no contingente de suas Forças Armadas.
O que produz ruídos internos. Com seguidos protestos nas ruas faíscas, barulho, prisões. Um descontentamento silencioso. Vladimir Putin conta também com um largo cinturão de suporte político e social. À escalada do suposto imperialismo euroasiático. A estratégia dos EUA [Estados Unidos das Américas] e da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN, é a de terceirizar o enfrentamento com a Rússia com a Ucrânia. Até exaurir os recursos do rival geopolítico
EUA, OTAN e CEE cultivam, hoje, o espírito da Guerra Fria. De 1945 a 1991. A URSS foi extinta em 25 de dezembro do mesmo ano. Como o Pacto de Varsóvia. O socialismo realmente existente saiu derrotado. Longe de ser o fim da História. A OTAN deveria ter anunciado a sua célebre missa de sétimo dia. História: não foi o que ocorreu. Acordos que impediam a integração de países do velho bloco socialista foram desrespeitados A OTAN fez cerco às fronteiras da Rússia.
Apesar do horror da guerra e das sanções econômicas estabelecidas pela América do Norte e Comunidade Econômica Europeia, a Rússia obterá um leve crescimento em 2023 de 0,3%. É o que aponta o Relatório Anual do Fundo Monetário Econômico [FMI]. Os números apresentados contribuirão para o aquecimento da economia global. A previsão para o ano de 2024 é de um salto no PIB. O Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no País: 2,1%
A Rússia exporta, hoje, comoditties sem ter o dólar como a moeda padrão. Os BRICs já estão em fase de reestruturação. Rumo a um mundo multipolar. Mais: não optaram por votar, na Assembleia Geral das Nações Unidas, resolução contra Moscou, 49 países. Vladimir Putin estreitou os laços comerciais, diplomáticos e militares com China, Índia, Irã, Síria, Coreia do Norte, Cuba, por exemplo O Brasil negou-se a aliar-se à OTAN, em 2023. Mesmo com o pedido de Olaf Scholz.
Espectro da Terceira Guerra Mundial
Boaventura de Souza Santos, sociólogo português
Renato Dias
Um espectro ronda, hoje, 2023, a Europa. O fantasma de uma nova Guerra Mundial. A terceira. A primeira ocorreu de 1914 a 1918. A segunda, 1939 a 1945. Sem contar ainda a violenta explosão da Iugoslávia. Em seis Repúblicas. A observação é do sociólogo da Universidade de Coimbra, Portugal, Velho Mundo, Boaventura de Souza Santos.
É o continente, dos cinco existentes, mais violento dos últimos 100 anos, analisa o cientista social. O conflito bélico de 1939 a 1949 deixou um saldo trágico de 80 milhões de mortes, informa o pesquisador. Um regresso civilizatório. Os conflitos do século 20 na Europa começaram sem motivos e razões fortes e previsão de término rápido.
A Guerra Civil na Espanha, de 1936 a 1939, que levou à uma ditadura civil e militar de 36 anos, com mais de 500 mil mortes e 200 mil desaparecidos, teria sido a antessala para a eclosão da “maior carnificina da História” Contemporânea. É o que diz, em um visceral pessimismo critico, o intelectual público. “A guerra Rússia e Ucrânia pode ampliar-se?”
Academia
Não há perspectiva de paz, diz David Maciel
Conflito terá duração indeterminada, vê Fernando Casadei Salles
Renato Dias
Um ano de guerra, com nível de destruição considerável e alto grau de mobilização militar tanto na Ucrânia quanto da Rússia. A análise é do professor doutor da Faculdade de História, da Universidade Federal de Goiás [UFG], David Maciel. É uma guerra por procuração, resume. O governo de Volodymyr Zelensky é corrupto e ilegítimo, diz o pesquisador.
Não há no horizonte, hoje, a perspectiva de celebração de um acordo de paz, registra. A OTAN quer arrastar a Rússia a um lamaçal, explica. Com o envio de mais armamentos, atira. Moscou irá afundar-se, em um Vietnã, gastará recursos materiais, equipamentos bélicos e humanos, perde legitimidade e fragiliza o bloco Rússia e China, crê.
A Rússia não atingiu ainda os seus objetivos estratégicos, define. Como a liberação total de áreas como as de Donetsky e Lugansky, observa o docente. O projeto é desgastar o novo “hegemon”, explica. A sua meta é avançar em áreas da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a URSS, extinta em 1991, relata David Maciel.
Já o professor doutor em Educação da Universidade de Sorocaba [Uniso], Fernando Casadei Salles, lembra que a guerra é um conflito que começa sem saber como e quando irá terminar. A Rússia projetou uma guerra de raia curta, rápida, define. Nem mal começou os seus estrategistas se viram obrigados a reformular as previsões, avalia.
O intelectual público registra a mudança para uma guerra de longa duração. Com duração determinada, insiste. Logo depois, com acentuado grau de indefinição, as projeções exigiram um ajuste maior para a indefinição do conflito, pontua. De longa duração as previsões passaram para o de conflito de tempo indeterminado, afirma.
A guerra Rússia versus Ucrânia iniciou-se coloquial, geográfica e até territorialmente determinada e mudou-se para um caráter internacional, interpreta Fernando Casadei Salles. Uma eventual previsão para o fim do conflito exige um raciocínio complexo e depende da visão que se possa ter sobre o resultado do acirrado conflito internacional entre os blocos de poder na batalha, diz
24 de fevereiro de 2022 e 2023
Motivação econômica e Guerra por procuração
Renato Dias
Graduada e mestranda em Sociologia, a pesquisadora do Núcleo de Estudos de Crimes e Violência [Necrivi], Faculdade de Ciências Sociais [UFG], Jully Anne admite a necessidade urgente de um acordo de paz. Ela recorda-se da Revolução Colorida na Ucrânia em 2014 e da escalada belicista anti-Rússia de Volodymyr Zelensky
De linhagem marxista, em sua matriz roja trotskista, o sociólogo de São José dos Campos [SP], Guilherme Soares, informa repudiar a participação dos imperialismos e da OTAN, na guerra que completa um ano no dia 24 de fevereiro de 2023. Assim como evitar ilusões de que a Rússia cumpriria um papel progressista no Leste Europeu, fuzila.
Especialista em cobertura internacional de guerra, que testemunhou in loco a ocupação pós-2003 contra o Iraque, o jornalista Afif Sarhan analisa que a Rússia quer consolidar a sua hegemonia geopolítica, econômica e militar na região. Sem respeitar a soberania e autodeterminação das populações do Leste da Europa, desabafa. Trágico, diz.
Filósofo e ambientalista de Brasília, Márcio Santilli sublinha que um acordo de paz é sempre possível. O que supõe mudanças de posturas que não estão dadas, hoje, reflete. A Rússia quer anexar territórios no leste e sul do país, conta. “A resistência local é mais aguerrida do que se esperava e do que havia ocorrido à época da anexação da Crimeia.”
Jurista, Fernando Luiz Dolci diz classificar Vladimir Putin como autocrata. Ele define a Rússia como capitalismo de oligarquia. Uma ditadura política, atira. O motivo real, hoje, do conflito seria a entrada da Ucrânia na CEE, a Comunidade Econômica Europeia, o que isolaria, na economia global, o extremista, um neoconservador como Viktor Orban, vê.
O historiador marxista Reinaldo de Assis Pantaleão reforça a tese de que as guerras possuem motivações econômicas. Com a disputa pela hegemonia, diz. O neonazismo ampliou a ramificação na Ucrânia, aponta. Um terreno fértil para obter financiamento da OTAN, insiste. “É criar ambiente hostil a Vladimir Putin, que quer o Velho Império”
Distante do acordo de paz
Com anexação de Donetsk e Lugansk
Renato Dias
A Ucrânia está, hoje, um ano após o início da guerra, sob escombros, admite o jornalista graduado na UniAlfa, formado em História pela Universidade Estadual de Goiás [UEG], Frederico Vitor de Oliveira ao Portal.
Moscou havia prometido um conflito rápido, recorda – se. O Kremlin até definiu o ataque como Operação Militar Especial, informa o especialista em geopolítica internacional. Nada saiu como programado, revela.
A BBC contabiliza 100 mil militares e 40 mil civis da Ucrânia mortos na guerra, pontua o repórter investigativo. Sob sombras, um segredo do Estado Autocrático, não há, hoje, dados oficiais de baixas da Rússia, diz.
Nem Ucrânia, OTAN e EUA, muito menos Rússia emitem sinais claros e concretos de que a assinatura de um acordo de paz possa ocorrer nos seis primeiros meses de 2023, sublinha Frederico Vitor de Oliveira.
O novo czar, como é rotulado Vladimir Putin nos conglomerados de mídia ocidentais, não abre mão também de anexar as repúblicas de maioria étnica russa tanto de Donetsk quanto de Lugansk, frisa o periodista.
Direto dos EUA
Com cheiro de Terceira Guerra Mundial
Renato Dias
Enid Antero, de Atlanta, na Georgia, Estados Unidos das Américas [EUA], diz ao Portal de Notícias www.renatodias.online que um acordo de paz depende de concessões dos dois lados. Rússia e Ucrânia/Otan.
Tanta destruição, desmonte da economia e da infraestrutura do País, com milhares de mortos, lamenta. Não é possível que a dor não permitirá o fim do atual conflito no Leste Europeu, frisa a norte-americana.
A guerra possui motivações econômicas, a disputa pelo poder e na geopolítica mundial, explica Enid Antero. Por mais poder e até recursos, dispara. É preciso, urgente, mudar as mentalidades políticas, ela afirma.
É um passo silencioso para a eclosão da Terceira Guerra Mundial, observa Rogério Oliveira Diniz, de Fort Lauderdale, Florida, EUA. A Primeira Guerra ocorreu de 1914 a 1918 e a Segunda Guerra de 1939 a 1945.
Mais: o suporte de equipamentos bélicos enviados, hoje, pelos EUA à Ucrânia, sob Volodymyr Zelensky, tecnologia de última geração e alto poder destrutivo, produziram estragos nas Forças Armadas da Rússia, crê
Trata-se de uma contraofensiva violenta da Ucrânia, com a ajuda da OTAN, assim como com recursos dos EUA e Alemanha, frisa. A guerra prolonga – se, o que é ruim a Vladimir Putin, presidente da Rússia, ele fuzila.
Markus Sokol
Nem Biden, muito menos Putin, afirma
Renato Dias
Um ano depois a guerra na Ucrânia é uma ameaça direta à Europa, admite o economista polonês radicado no Brasil, Markus Sokol. Ela repercute nos cinco continentes, aponta. Os povos querem a paz, não a guerra e o cortejo de sofrimentos que ela traz para crianças, mulheres e homens, define-a. Vladimir Putin embarcou em uma aventura, critica-o. Ele não defende os interesses dos russos e deve retirar suas tropas da Ucrânia, dispara.
Já o presidente dos EUA, Joe Biden, do Partido Democrata, que lidera a OTAN, está por trás do conflito, não defende os interesses da Ucrânia e sim dos monopólios privados que querem apoderar-se das riquezas da Rússia, explica. A escalada para uma conflagração maior constitui-se em uma ameaça à humanidade, alerta. É preciso um cessar-fogo imediato, propõe. A União Europeia, hoje, treina 15 mil soldados ucranianos, informa.
As entregas de armas à Ucrânia aumentam de forma acelerada, revela o marxista da IV Internacional, a central mundial da revolução fundada em 1938, na França, Por Leon Trotski [1879-1940]. As sanções econômicas dos EUA servem para trustes ocidentais e oligarcas do petróleo terem lucros extraordinários, denuncia. Para o despejo do gás de xisto estadunidense no lugar do gás russo, levando a Europa a uma crise industrial e à inflação.
Os governos da Europa impõem brutais cortes nos orçamentos públicos para financiar Exércitos e armamentos, relata ao Portal de Notícias www.renatodias.online As medidas levam à uma reação em grandes greves como não se via há décadas na França e Inglaterra, sublinha. Mundo afora, os povos sentem a desorganização das cadeias produtivas e o desabastecimento, como o de fertilizantes, um dos fatores da crise no Peru, pontua.
O trotskista Markus Sokol avalia que um ano de guerra criminosa deve ser um fator de indignação. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acerta ao condenar a invasão, rejeitar o alinhamento político e militar com a Ucrânia de Zelenski que lhe foi proposto pelo presidente francês, Emanuel Macron, e o chanceler alemão, Olaf Scholtz, assim como, na Casa Branca, em Washington, Estados Unidos das Américas, Joe Biden, fuzila.
Não à guerra!
A chamada “volta do Brasil” no cenário político mundial, como um protagonista de peso, deve ser um momento de retomada da soberania nacional e da luta pela paz, crê. Um ponto de apoio para que os trabalhadores e o povos do mundo se unam para exigir o fim da carnificina e o cessar-fogo imediato, diz. “Não à Guerra” é o título do Manifesto lançado ainda em dezembro por cerca de 400 lideranças políticas e sindicais de 40 países, inclusive do Brasil, atira.
Vera Lucia
Solidariedade à resistência operária
Na Ucrânia
Renato Dias
Agressão militar iniciada pelo presidente da Federação Russa, Vladimir Putin. Assim Vera Lucia, presidenciável do PSTU e Polo Revolucionário, define a guerra na Ucrânia.
Para tomar terras férteis, ricas em minérios, áreas industrializadas, para estabelecer um governo submisso às ordens de Moscou, diz a operária e revolucionária mundial da LIT.
As Forças Armadas da Rússia arrasaram a Ucrânia, ela informa. Cem mil mortos, além de feridos, relata. Mais: oito milhões de refugiados, como a destruição das cidades.
100 mil mortos
A celebração do armistício, de um acordo de paz somente será possível com a retirada de 100% das tropas do vasto território da Ucrânia, sem anexação, frisa Vera Lucia.
Sem neutralidade
A neutralidade do presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva [PT], é posição que favorece Vladimir Putin, diz. Ela é solidária e apoia a resistência ucraniana.
Vera Lucia afirma ao Portal de Notícias www.renatodias.online defender o fim da OTAN, condenar a reforma trabalhista de Volodymyr Zelensky e a retirada das tropas russas.
O Ocidente conduz a Ucrania para um fim trágico no enfrentamento a Rússia. Não que a Ucrânia não mereça uma boa surra pelo papel nazifascista que tem liderado a nível mundial.