Ismael Silva de Jesus: crime sem castigo
Política

50 anos depois, crime pode ter castigo

Tortura e execução

Rubens Robine Bizerril é acusado

Rubens Robine Bizerril

Ismael Silva de Jesus tinha 18 anos

Sob a ditadura civil e militar, que Jair Bolsonaro defende 

Jair Messias Bolsonaro – O Estado de S. Paulo

Renato Dias

O ex – oficial do Exército Brasileiro [EB] Rubens Robine Bizerril pode ser condenado pela Justiça Federal pelo crime de prisão ilegal em 12 de julho de 1972, torturas e morte do estudante secundarista do Colégio Estadual Pedro Gomes, Ismael Silva de Jesus, em 9 de agosto do mesmo ano. Sob a ditadura civil e militar no Brasil.

 Sob a ditadura civil e militar no Brasil

O ativista, de apenas 18 anos de idade, era membro do Comitê Municipal do Partido Comunista Brasileiro. O PCB. Legenda da foice e do martelo fundada em 25 de março de 1922. Uma sigla centenária [1922-2022]. Eleito em 21 de maio de 1972, gerenciava uma biblioteca marxista. Destinada à formação política de militantes comunistas.

Assassinato em 9 de agosto do ano de 1972

O crime ocorreu nas dependências do 10° Batalhão de Caçadores, em Goiânia, Estado de Goiás. Mais: a versão oficial das Forças Armadas é que o líder estudantil marxista teria suicidado. No local funciona, hoje, em 2022, na capital, o 42° Batalhão de Infantaria Motorizada [42° BIM]. Codinome Olavo, nasceu no município de Palmelo. Em 1953.

Ismael Silva de Jesus

A cena do crime, no Exército, foi alterada 

Torturado por quase 30 dias consecutivos, com a divulgação de falso suicídio, assim como de informações inverídicas no laudo da autópsia. Uma fraude que contou com a colaboração de médicos legistas. O seu irmão Paulo Silva de Jesus também integrou a direção do velho ‘Partidão’. Ele foi preso, solto e sobreviveu. Tempos sombrios.

MPF oferece denúncia à Justiça Federal

A denúncia foi oferecida pelo Ministério Público Federal [MPF] à Justiça Federal. O titular da Ação Penal é o procurador Mário Lúcio Avelar. Rubens Robine Bizerril é acusado pela execução dos crimes de lesa-humanidade, como homicídio qualificado, sequestro e cárcere privado, além de falsidade ideológica e fraude processual.

Nove testemunhas e Rubens Robine Bizerril

Nove testemunhas colaboraram com o Ministério Público Federal [MPF]. Integram a relação Aguinaldo Lázaro Leão, Paulo Silva de Jesus, João Silva Neto, José Elias Fernandes, Laurenice Noleto Alves, Abrão Marcos da Silva, Washington Luiz Teixeira Rabelo. Além de Benito Pereira Damasceno. Assim como Dione Damasceno.

 

Paulo Silva de Jesus

 

 

explosivo
explosivo

Leia a denúncia do Ministério Público Federal

 

 

O que foi a ditadura civil e militar

Renato Dias

Fardados e civis derrubaram em 31 de março, 1º e 2 de abril de 1964 o presidente da República, João Belchior Marques Goulart. Com tanques e metralhadoras. Com o aval do Supremo Tribunal Federal, a corte suprema. O Congresso referendou a posse de Raniére Mazzilli e a indicação do primeiro general-presidente, marechal Humberto Castello Branco.

Golpe de Estado de 1964
Golpe de Estado civil e militar de 1964

Gaúcho de São Borja, ex-ministro do Trabalho, responsável pelo aumento real do salário mínimo, Jango, como era conhecido, é herdeiro do nacional-estatismo. Em sua versão trabalhista. De Getúlio Vargas. O rotulado de ‘Pai dos Pobres’. Getúlio Vargas suicidou-se às 8h30, do dia 24 de agosto de 1954, em seus aposentos presidenciais. No Palácio do Catete.

Getúlio Vargas

A capital do Brasil, à época, era o Rio de Janeiro, outrora Cidade Maravilhosa. Com a queda de Jango, 21 anos de ditadura civil e militar [1964-1985]. A operação teve a ostensiva participação dos Estados Unidos das Américas. Um saldo societal trágico. Com 479 mortos e desaparecidos políticos. Assim como 1.700 trabalhadores rurais executados. Além de 10 mil pessoas exiladas.

Cartaz dos mortos e desaparecidos - Quarta reportagem
Cartaz dos mortos e desaparecidos

O projeto Brasil Nunca Mais, organizado pelo Arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns e pelo reverendo Jaime Wright, registra que duas mil pessoas, perante o Superior Tribunal Militar, o STM, denunciaram terem sido torturadas. Na cadeira-do-dragão, socos, pontapés, telefones, pau-de-arara. A jornalista Míriam Leitão teve de ficar em uma cela com uma cobra ao seu lado.

Dom Paulo Evaristo Arns

Relatório da Comissão Nacional da Verdade, instalada em maio de 2012 e encerrada dia 10 de dezembro de 2014, aponta que seis mil membros do Exército, Marinha, Aeronáutica, Força Pública foram demitidos ou reformados. Um Grupo de Trabalho da CNV diz que 12 mil indí­genas morreram sob a ditadura civil e militar e sua política indigenista e de obras faraônicas.

Comissão Nacional da Verdade: os crimes da ditadura civil e militar

Pasmem: 39 mil trabalhadores e trabalhadoras foram reconhecidas pela Comissão de Anistia, órgão do Ministério da Justiça, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília [DF], a Capital da República, a terem direito à reparação econômica ou pensões. Por danos materiais, políticos, sociais e simbólicos. Medidas que prejudicaram as suas vidas. Tanto civis quanto militares.

Mais: a ditadura civil e militar, no Brasil, promoveu uma violenta censura às artes, publicação de livros, à imprensa, aos filmes, peças de teatro. Artistas eram perseguidos, presos, espancados e exilados. Como Caetano Veloso e Gilberto Gil, exilados na Inglaterra; Chico Buarque, na Itália; Geraldo ‘Caminhando’ Vandré. Jornais destruídos. ‘Empastelados’.

 Caetano Veloso na prisão
Caetano Veloso na prisão

O Ato Institucional Número 5, de 13 de dezembro de 1968, fechou o Congresso Nacional, Câ­ma­ra Federal, Senado da República, as assembleias legislativas e as câmaras munici­pais.   Centenas de governadores, prefeitos, senadores da República, deputados federais, depu­ta­dos estaduais, vereadores foram cassados. Em 1980, Luiz Inácio Lula da Silva foi preso. Por greve operária.

AI-5

O Congresso Nacional aprovou, em 26 de agosto de 1979, a Lei de Anistia. A medida sancionada não foi ampla, nem geral muito menos irrestrita. Os agentes do Estado pagos com o dinheiro do contribuinte para garantir a segurança pública, responsáveis por violações dos direitos humanos, assim como a sua cadeia de comando, receberam uma autoanistia da União.

Anistia, em 1979

A direita explosiva matou, com uma bomba endereçada à OAB, a secretária da Ordem dos Advogados do Brasil, Lyda Monteiro, em 27 de agosto de 1980. Um atentado à bomba no Riocentro, Rio de Janeiro, no show de Primeiro de maio de 1981, dia internacional dos trabalhadores, deixou os executores feridos. O crime permanece até hoje, 2021, impune.

Riocentro em 1981

O jornalista Alexandre Von Baumgarten, indigesto à ditadura civil e militar, acabou assas­sinado, no ano de 1982. A campanha das diretas de 1983 e 1983, que exigia o direito elementar de votar, caiu com a derrota da Emenda Dante de Oliveira, em 25 de abril de 1984. Contra o que poderia ser uma ‘revolução democrática’, como aponta o sociólogo marxista Florestan Fernandes.

Alexandre von Baumgarten

O Colégio Eleitoral é instalado. Tancredo Neves morre. José Sarney, ex-presidente da Arena e do PDS, legendas de sustentação da ditadura civil e militar, em ironia da História, assume. A Carta Magna sai em 5 de outubro de 1988. Com a manutenção da tutela das Forças Armadas como garantidora da Ordem Política e Social. Em 2021, militares estão em 23 órgãos da União.

– Um passado que não passa.

Blindados de Jair Bolsonaro

 

Hegemonia cultural

O relógio da História

A disputa pela memória

A disputa pela memória é permanente. Civil e militar, o golpe de Estado do ano de 1964 era para ter sido deflagrado, em 1954. Ele falhara com o suicídio de Getúlio Vargas. Em 24 de agosto, às 8h30, nos aposentos presidenciais, do Palácio do Catete, Rio de Janeiro. A capital da República, à época. Com um tiro no peito, acuado pelas Forças Armadas, deixa a vida e entra para a História. Sem ‘expiar a culpa’ pelas violações dos direitos humanos executadas sob o Estado Novo.

Getúlio Vargas suicida-se

Jânio da Silva Quadros, a etílica vassoura, alega ‘Forças Terríveis’ para assinar a renúncia, em 25 de agosto, de 1961. Nada. Tratava-se de um autogolpe. Não deu certo. Em tempos de guerra fria [1945-1991], o fantasma do comunismo é disseminado no Brasil. Ex-zagueiro do Internacional de Porto Alegre, nas categorias de base, João Belchior Marques Goulart, que atendia múltiplas demandas de adversários, registradas em cartas, é deposto. Em 1964.

Jânio da Silva Quadros

A data exata não seria 31 de março. As tropas de Olímpio Mourão Filho, a suposta ‘vaca farda­da’, saem de Juiz de Fora, Estado de Minas Gerais, e chegam à Cidade Maravilhosa apenas em 2 de abril. O general Amaury Kruel faz chantagem ainda com Jango. Auro Moro Andrade, pre­sidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, abre sessão, declara vaga a presidência da República, com o atingido ainda no Brasil, para Raniére Mazzilli assumir o cargo  no dia 2.

Olímpio Mourão Filho

Nacional-estatista, em sua versão trabalhista, herdeiro de Getúlio Vargas, ‘O Pai dos Pobres’,  ele encontrava-se em solo. Documento, um bilhete de próprio punho do inquilino do Palácio do Planalto, com a data de 4 de abril de 1964, solicita o empenho de um aliado para que obte­nha o seu asilo político no Uruguai, país do Cone-Sul, que faz fronteira com o Brasil. Acusado de comunista, nunca foi um adepto de Karl Marx e Friedrich Engels. Muito menos um corrupto.

Gregório Bezerra

O ‘Reino das Empreiteiras’ tem início, sim, sob a ditadura civil e militar. Com a construção de obras faraônicas. Como a Transamazônica, a Usina de Itaipu, a Ponte Rio-Niterói. Nascido no Uruguai, o embaixador do Brasil, no Chile, desde 1969, Antônio da Câmara Canto, nega ter ti­do torturas, no Brasil. Registro imagético: já em 1º de abril, em Recife, o velho comunista Gre­gó­rio Bezerra é torturado, com a sola dos pés em carne viva, e exposto à execração pública. 

 

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 20 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 20 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. 

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