Braga Neto, Augusto Heleno e Jair Bolsonaro
Política

‘Bolsonaro odeia a democracia’

Neofascismo no Brasil

Sérgio Amadeu diz que fenômeno é global e que neoliberalismo rompe os limites da democracia

explosivo
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O sociólogo e doutor em Ciências Políticas, Sergio Amadeu, assina ‘Como derrotar o fascismo’, Hedra e Veneta

 

Renato Dias

Com uma agenda neoliberal, fundada na irracionalidade, em ruptura com a democracia, com forte inserção na rede mundial de computadores, o fascismo tardio no Brasil quer destruir os direitos trabalhistas, previdenciários e humanos. Uma plataforma de subserviência ao capital e aos EUA. Assim o sociólogo e doutor em Ciências Políticas Sergio Amadeu conceitua o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro [PL]. Como o band leader de um fascismo tardio. Com o jornalista Renato Rovai, o intelectual público lança, com selos da Hedra e Veneta, o livro Como Derrotar o Fascismo _ Em Eleições e Sempre [Maio de 2022]. Leia a íntegra da entrevista exclusiva concedida ao Portal de Notícias www.renatodias.online

 

Desfile de blindados sob Jair Messias Bolsonaro, uma ameaça de golpe de Estado

 

A possibilidade de deflagração de um golpe em 2022, no Brasil, é real?

Sergio Amadeu – Jair Bolsonaro vai para as eleições porque não conseguiu dar um golpe militar. Ele criou a suspeita com o processo eleitoral para tentar suspender ou desrespeitar o resultado das urnas. Jair Bolsonaro tem mais de 51% de rejeição em todas as pesquisas realizadas, por isso, ele diz que não aceitará o resultado. A questão é se o Exército vai se prestar a golpear novamente a democracia para defender um governante inepto, corrupto e ligado às milícias.

 

Benito Mussolini faz passeio de moto

É possível conceituar a Era Jair Messias Bolsonaro como fascista?

Sergio Amadeu – O mundo vive um processo de fascistização. A maioria dos neoliberais decidiu romper com a democracia para aplicar sua perspectiva econômica. Assim, a extrema-direita se ligou completamente ao fascismo. Jair Bolsonaro é o típico elemento fascista. Ele odeia a democracia, mas não teve força para destrui-la. Ao mesmo tempo, atua falando para suas hordas de reacionários, fundamentalistas religiosos e defensores da ditadura militar. Esse núcleo duro é ampliado com os ruralistas, banqueiros e com parte do empresariado que sonha em liquidar todos os direitos trabalhistas e sociais. Jair Bolsonaro é o líder do fascismo tardio no Brasil.

Jair Bolsonaro faz passeio de moto _ Poder 360

O fascismo defende a hipertrofia do Estado e Jair Bolsonaro e Paulo Guedes adotam receituário de destruição do Estado e de direitos. Não é uma diferença substancial?

Sergio Amadeu – O fascismo do século XX defendia um Estado corporativo. O fascismo atual é fundamentalmente neoliberal, mas sua característica operativa principal é a irracionalidade, a defesa cega do líder e as ações ilimitadas para se manter no poder de Estado. A sua articulação no Brasil passou principalmente, não exclusivamente, pelas redes digitais. O novo fascismo defende a tortura, o extermínio dos diferentes, mas clama pela liberdade de expressão (SIC!). Jair Bolsonaro fala contra a corrupção e pratica o roubo descarado do cartão corporativo, tomava parte do salário dos funcionários de seu gabinete, enfim, o fascismo não tem coerência discursiva. Ele quer destruir o debate racional e instaurar a verdade baseada na vontade do líder.

Andrezj Duda: neofascista da Polônia, hoje

Utopias regressivas: fenômeno é global?

Sergio Amadeu – O neoliberalismo quer destruir a democracia e resgatou o fascismo do esgoto histórico para financiá-lo e torná-lo tecnologicamente ágil e moderno. Mas o fascismo e seu poder instrumentário atual querem destruir a diversidade, a democracia, os direitos sociais e trabalhistas e implantar um governo patriótico-entreguista e submisso ao poderio do líder mais forte. No caso brasileiro, Jair Bolsonaro, que é entreguista, bate continência para a bandeira norte-americana.

Sérgio Moro - caricatura
Sérgio Moro e Globo

Quais condições permitiram a ascensão de Jair Bolsonaro?

Sergio Amadeu – Jair Bolsonaro é um imbecil que era eleito deputado federal pelos militares aposentados e pelos fascistas tradicionais. Não tinha como vencer uma eleição geral. É uma pessoa não confiável e ligada às milícias. Todavia, o demotucanato, a Globo, a maioria da mídia e os banqueiros articularam o Ministério Público e parte do Judiciário para retirar a esquerda do governo. Assim criaram um cenário propício ao autoritarismo e à desinformação. A Lava Jato era a mentira em movimento. Sergio Moro é um verdadeiro criminoso que foi alçado à condição de herói. Inesperadamente, a desinformação foi apresentada como verdade indiscutível, ou seja, o PT foi declarado mais corrupto que o Centrão, que o DEM. O PT foi apresentado com mais recursos de campanha que o PSDB. Piada. Tanto é que nem Deltan Dallagnol, nem Sergio Moro conseguiram indiciar mais petistas do que políticos do MDB, PP e PSDB. A corrupção é incrustrada nas elites econômicas que são cínicas. Nesse cenário, Jair Bolsonaro, um ignorante, rei das rachadinhas, defensor de grupos de extermínio, de milícias era a expressão maior da farsa. Ele aniquilou o centro e hegemonizou a direita e aproveitou a campanha de destruição da esquerda montada pelo demotucanato e pela Globo.

Jair Bolsonaro  e Fabrício Queiroz
Jair Bolsonaro  e Fabrício Queiroz

Jair Bolsonaro possui chances de reeleição?

Sergio Amadeu – Dificilmente poderá vencer as eleições com uma rejeição superior a todos os demais candidatos e além dos 51%. Ocorre que seus marqueteiros sabem disso. A estratégia bolsonarista é simples. Torrar dinheiro público com o Centrão e expandir a desinformação para criar uma rejeição igual ou superior a dele no candidato de oposição. Sem criar um caos informacional, Jair Bolsonaro não tem como vencer as eleições. Por isso, é importante que seja derrotado no primeiro turno.

Lula e Geraldo Alckmin: PT e PSB

Qual a ideia central do livro?

Sergio Amadeu – A ideia é produzir um guia para as pessoas juntarem os amigos e atuarem nas redes sociais online para enfrentar as ondas de desinformação e combaterem as ideias reacionárias do fascismo. Escrevemos um guia com algumas sugestões de ação que pessoas não especializadas em marketing ou redes possam fazer.

O jornalista Renato Rovai

Veja a capa do livro

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 20 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 20 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. 

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