Euler Ivo Vieira
Opinião

Alckmin à vice é exigência dos EUA

Karl Marx

Que fazer?

Vladimir Ilich Ulianov – Lênin

 

2022

 Euler Ivo Vieira

Especial para

www.renatodias.online 

Dentro do clima do 15º Congresso já desencadeado, a questão central que se impõe, é vislumbrarmos, através da densa cortina de interesses de classes em jogo, quais são os possíveis cenários para o Brasil, nos próximos meses e, particularmente, para as eleições presidenciais. Primeiramente, registro um certo recuo de forças políticas. Tanto de centro, como de direita e até das esquerdas. Para um afastamento imediato de Jair Bolsonaro.

Clã de Jair Messias Bolsonaro

Semanas atrás, havia um clima mais agressivo contra esse governo fascista, caminhando para uma indicação de impeachment. Dia 24 de julho de 2021 ocorreram, por todo o Brasil, as massivas manifestações populares contra Jair Bolsonaro.  Embora muito importantes, foram menores em tamanho. Porém, no meu entender, o pior é que não aconteceu a adesão significativa de novas forças políticas. Ao projeto de seu afastamento.

Ato do dia 3 de julho de 2021

 

Partidos e o centro, que estavam em aproximação ao Fora Bolsonaro, recuaram, mostrando um maior distanciamento ou certo esfriamento em aderir ao movimento. Também Jair Bolsonaro, mesmo com as manifestações, parece estar menos pressionado .  Ele agora passa momentaneamente para a ofensiva. Com ameaças explicitas de golpe. Se não agora, quando do resultado das eleições, da qual disputará.

Celso Amorim

Já prevendo a derrota certa, intensifica e mobilização de suas forças fascistas, na exigência do voto impresso, com o qual deseja fazer tumulto. Vieram ao Brasil e reuniram-se com ele membros do Departamento de EUA, ou mais exatamente, do “Estado Profundo”, do imperialismo norte-americano e do capitalismo mundial, como bem disse Celso Amorim.  Com certeza, trataram acima de tudo, do Brasil e América do Sul.

EUA

Para o “Estado Profundo”, núcleo pensante estratégico do capitalismo mundial, Bolsonaro tanto pode ser retirado, como até mesmo mantido, para se executar os interesses maiores do sistema capitalista, em crise crescente. Seja como for, pelo menos momentaneamente, os EUA puxaram o freio do fervor de crescente setores das classes dominantes do Brasil, que se aproximavam da campanha do Fora Bolsonaro, onde cultivam esperanças de dar um outro rumo nas questões da política e da economia brasileiras.

Parece que os EUA decidiram que é preciso dar um tempo, ainda que breve, no Fora Bolsonaro, até que se elabore com mais clareza, os caminhos a serem seguidos, para garantir que não haverá no Brasil, um retorno aos governos Lula e Dilma, igual ao do passado recente. Falando praticamente, os cabeças do “Estado profundo” capitalista, estão queimando pensamentos sobre como barrar o retorno de Lula, ou como garantir que se ele retornar, seja diferente dos rumos anteriores, de modo a não quebrar as orientações à América do Sul.

Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff

Tirar Bolsonaro é o problema mais simples para os EUA. A questão está em como impedir o retorno de Lula. E isso, no momento, é o centro. Sem isso resolvido, as coisas não avançarão. E todos os cenários são possíveis. Inclusive golpe militar ou de outro tipo. Para as elites dominantes, americana e brasileira, o problema não é Bolsonaro, mas Lula. Retirar Bolsonaro é fácil. O difícil é retirar Lula. Mas, na solução desse problema, se aflorou uma contradição, ainda que de menor monta, entre os interesses de parte das elites brasileira e dos EUA

Casa Branca

Sem ter um nome capaz de vencer Lula nas eleições presidenciais, por certo momento, as submissas elites vislumbraram que ele poderia ser a alternativa.  Lula inclusive, mudou sua situação jurídica no STF. Mas porque as elites brasileiras vacilam e aceitam até mesmo o retorno de Lula, aliado da China, considerada inimiga maior do imperialismo americano atualmente? É que essa elite brasileira também tem negócios com a China. E ganharam muito dinheiro no governo Lula.

Caricatura de Xi Jinping

Inclusive, refrescando a memória, é bom relembrar, para deixar ainda mais claro, que derrubar a continuidade do governo popular de Lula-Dilma, não teve a liderança das elites brasileiras. Acima de tudo, os interesses norte-americanos, pelas mãos da Lava Jato. O golpe contra Dilma, a prisão de Lula e a eleição de Bolsonaro, é da lavra do governo americano, particularmente de seu núcleo estratégico, de seu “Estado Profundo”. Por isso, nas eleições passadas, visando eleger um cão fiel aos americanos, estranhamente, um após outro, todos os líderes políticos de direita brasileira, foram sendo detonados, seja pela mídia, por processos.

O obscuro Bolsonaro, subserviente e leal “cão” das elites americanas, foi ungido presidente.  A sua eleição demonstrou ser um desastre, para se construir um mínimo de condições, que se possa definir como de uma nação de interesses próprios. Bolsonaro não é o melhor representante das elites econômicas brasileiras, inclusive no que diz respeito aos negócios com a China, para a qual vendem e de onde auferem seus maiores lucros. Na falta de um líder próprio maior, seus porta vozes pensavam que Lula poderia ser a alternativa.

Caricatura de Joe Biden

Isso parece ter acontecido, até que Joe Biden tomasse pé da situação em outros lugares do mundo e enfim se debruçasse melhor sobre o Brasil. Os patrões americanos têm interesse conflitantes com setores da elite brasileira.  Eles têm a China como maior adversária. Seja por questões econômicas, seja pelo perigo potencial que representa, na propagando do socialismo mundo afora.  Na medida que Biden vai assumindo o comando no momento, seus funcionários suprapartidários, seu núcleo estratégico da máquina estatal americana, vão impondo a mesma política agressiva de George Bush, Barack Obama ou Donald Trump.

Donald Trump

 

Ao focarem na América do Sul e no Brasil, deram uma rosnada para a ideia de suas elites, apoiarem o retorno de Lula. E manifestam que não aceitam Lula de volta. Embora estejam ainda arquitetando um possível retorno, com compromisso estrutural garantido.  A preocupação americana, fez os representantes das elites brasileiras, derem essa atual recuada no “Fora Bolsonaro”.  Por isso, esse silêncio parado no ar. Silêncio das elites brasileiras, não do povo. Também o próprio PT, novamente se iludindo, ou sonhando com uma neutralidade do governo americano, confia cegamente nas eleições do ano que vem, como se elas tivessem força divina, como se não fosse apenas uma mera ferramenta para enganar multidões.

Estrela do PT

A estratégia da direção petista se baseia na confiança do jogo democrático abstrato. Daí também o PT não tem pressa em retirar Bolsonaro. Não vê o perigo de sua presença na disputa eleitoral. Com a força de um presidente no exercício do poder.  O PT faz assim porque acredita que retirar Bolsonaro agora, abriria espaço mais favorável, para aparecer uma alternativa conservadora mais clara. Mais perigosa. Assim, seja pela contradição existente, embora de pequena monta, entre as elites brasileiras e os círculos dominantes americanos, seja pela estratégia do PT, o fato é que Bolsonaro, nesse momento parece respirar mais aliviado.

CPI

Até a CPI, já cheia de argumentos suficientes, para um impeachment, foi dilatada.  Por tudo isso, vejo que as coisas, a luta de classes no Brasil, está meio estagnada, girando em busca da solução do impasse, hoje colocado, de como impedir o retorno de Lula. Sem dúvida, entre as elites, preponderará a opinião, ou a força, da elite americana e sua orientação tática, de impedir um novo governo Lula.  As alternativas?  Trabalham várias simultaneamente. Não sendo Bolsonaro, cada vez mais desgastado, e com Lula ficando forte, muitas coisas podem ocorrer:

Luiz Inácio Lula da Silva em dois momentos históricos
  1. Primeiro retiram Bolsonaro. A seguir retiram Lula, que poderia ter grave problema de saúde ou mesmo pode morrer. Nesse caso poderia haver uma comoção social, e alguém do PT, ser eleito. Um perigo, porém, menor para os EUA, mesmo se esse “alguém do PT” tivesse a coragem de um enfrentamento com os EUA.

 

  1. Segunda hipótese: Deixar Lula ganhar e retirá-lo da cena, logo seguir. Mas quem será o vice?

 

  1. Deixar Lula ganhar e usar parlamentarismo para travá-lo. Esse caminho é muito fraco. Não garante com a força necessária, uma atitude de barrar a China.

 

  1. Fazer grande ameaça com golpes, fortalecer temporariamente Bolsonaro, até conseguir impor a Lula, um vice conservador e de confiança deles [americanos], como condição para sua eleição. Depois de pouco tempo, Lula ser afastado por doença ou morte. O vice assumiria em definitivo.  Aliás, esse caminho já é manjado no Brasil. Seja como for, quando esse impasse tiver um caminho mais claro, Bolsonaro chegará ao fim.

Conjecturas conspirativas? Talvez.  Mas nesse ponto, penso como Fidel Castro. Acredito nas conspirações. Principalmente, nas conspirações do governo norte americano e sua máquina estatal estratégica, seu “Estado Profundo”.  Até mesmo um golpe fascista no Brasil, não está descartado.  Mas, esse caminho poderia ensinar as massas do Brasil, o uso da luta armada de resistência prolongada. Um perigo para eles.

Geraldo Alckmin caricatura

A opção Geraldo Alckmin à vice

Reenvio para vocês a mensagem analítica que mandei em agosto do ano passado, onde digo que, ou matam lula ou exigem um vice de confiança deles. Vejam a alternativa número 4, que apontei naquela data. Geraldo Alckmin é exatamente ela.  Infelizmente, essa é a correlação de forças das classes no momento. Aqui não se trata de qualidades ou não qualidades de Geraldo Alckmin. Ele é a imposição estrutural norte americana, para aceitarem Lula presidente. Mesmo que meio longa, leiam minha análise de agosto do ano passado.

Palácio do Planalto, em Brasília, a capital da República

 

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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