David Maciel
Política

Docentes pela democracia na UFG

Docentes pela Democracia

O atual processo de nomeação da nova reitoria da UFG revela uma contradição que  pode afetar negativamente a vida universitária: para evitar a completa perda de autonomia diante do governo Bolsonaro, com a indicação de um interventor bolsonarista, engole-se a perda relativa desta mesma autonomia, na medida em que se aceita a imposição autoritária do atual presidente. Ou seja, em nome de se impedir a intervenção aberta conforma-se com uma intervenção velada. Esta situação resulta dos limites da atual forma de escolha de gestores nas IFES que, infelizmente, não foi alterada em outras conjunturas mais favoráveis e hoje pagamos o preço frente ao atual ato arbitrário do governo protofascista.

Reitoria da UFG

A posição manifesta pela reitora eleita, pelo ex-reitor e seus principais aliados nas entidades representativas da comunidade universitária, aceitando “com indignação” a intervenção velada do governo por não ser ilegal, revela o tamanho do imbróglio. O Movimento Docentes pela Democracia, antecipando essa possibilidade, pois desde as primeiras nomeações de reitores por parte do governo Bolsonaro ficou clara sua intenção golpista e de desrespeito à autonomia das IFES, sempre defendeu a organização de um amplo processo de mobilização política da comunidade universitária e da classe trabalhadora em defesa da autonomia universitária e das liberdades democráticas. Continuamos enfatizando que esta ainda é uma tarefa fundamental.

Contorcionismo

Ainda não chegou ao público em geral as razões pelas quais não houve candidatura a reeleição do professor Edward. O fato é que a escolha da Vice-Reitora para ser candidata se consolidou, bem como as expectativas de sua nomeação (com menor resistência do MEC). Garantida sua vitória no processo eleitoral mais uma vez prevaleceu o contorcionismo político, optando-se por “driblar” este mesmo processo, indicando na lista tríplice mais dois nomes que sequer concorreram às eleições para reitor, mas que pertencem ao grupo do atual reitor e da candidata eleita. Em última análise, ao invés da mobilização, prevaleceu a escolha adotada pelo CONSUNI e por entidades como a ADUFG, isto é, a ideia de “emparedar” Bolsonaro, deixando-o sem alternativa e forçando-o a nomear um dos três nomes do mesmo grupo, caso contrário este teria que romper o próprio processo de nomeação a partir da lista tríplice, instituído pela Ditadura Militar e em vigor desde então.

Edward Madureira
Edward Madureira

A “esperteza” do grupo dirigente da reitoria deu certo, a ciranda girou, mas continua no mesmo lugar! A “indignação feliz” manifesta durante a semana pelos principais protagonistas deste enredo revela o autocontentamento com uma pretensa “jogada de mestre”. Porém, criou-se assim a situação esdrúxula que vivemos no momento em que a apatia, a desmobilização e a “indignação feliz” são as armas de que dispomos para lutar contra o arbítrio protofascista! Consideramos que a luta pela real autonomia universitária exige a abolição do sistema de lista tríplice, este entulho herdado da Ditadura Militar, e o estabelecimento de eleições diretas pela comunidade universitária como único critério para a escolha de reitores, diretores de unidade e demais instâncias dirigentes das IFES. Esta é uma luta que deve começar agora, envolvendo todos os setores da comunidade universitária e a sociedade civil dos trabalhadores, sob pena de preservar o atual cenário de desmobilização e despolitização e de fragilizar a UFG diante de novos ataques do governo.

A ditadura civil e militar

A autonomia universitária, instituída como princípio constitucional em 1988, vem sendo paulatinamente restringida ao longo das décadas. Após 2016, a autonomia residual existente tem sido duramente combatida pelo movimento golpista (teto de gastos, perseguição das manifestações acadêmicas – política da mordaça, nomeação de reitores derrotados ou não eleitos pela comunidade, congelamento de salários, destruição das carreiras dos servidores públicos e fim da estabilidade – PEC 32). O resgate da autonomia como princípio constitucional, capaz de revogar a legislação ditatorial das listas tríplices, exige um amplo movimento unitário e de mobilização de toda a comunidade acadêmica e da sociedade em geral. Defender a Universidade no contexto atual, além de resistir aos ataques proto-fascistas, necessita de um projeto de Universidade para o país que se materialize como instituição chave das transformações progressistas e de radicalização democrática da sociedade brasileira. Conclamamos a comunidade, neste ano de 2022, forjarmos um pujante movimento de resistência universitária, denunciando e combatendo os ataques a Universidade e a sociedade.

Constituição Federal de 1988

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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