Francisco Celso Calmon
OpiniãoPolítica

A Geopolítica da Dor

Explosivo

A Geopolítica da Dor

Francisco Celso Calmon

Qualquer sofrimento passa, mas o ter sofrido, não

Belchior

Nos duelos dialéticos entre Vírus e Protozoários foram à lona os paralelos arrivistas embromadores, e a Ciência saiu límpida e vencedora para benefício da vida dos brasileiros. Entretanto, quantos foram cobaias desse embuste de charlatões, vivandeiras das janelas públicas, que ousaram fazer Experimentos, irresponsavelmente, sem distinguir C de E, V de P, numa miscelânea de interesses escusos que só trouxeram prejuízos humanos e financeiros ao povo e ao erário? Para tanto, contaram com o patrocínio do arquétipo da subversão de qualquer ordem e hierarquia, seja do saber científico, seja da estrutura institucional, Jair Genocida Charlatão Bolsonaro.

Lágrimas caindo

Lágrimas

Perdidos no negacionismo, os bolsonaristas, para dar dignidade aos seus argumentos, apelam para os números. Em sua defesa, em meio a perda de popularidade, começaram a brandir algo como um livro caixa onde contabilizam PIB, mortos, e sobreviventes da pandemia. Com alquimias matemáticas tentam arranjar um saldo que lhes favoreça. Fazem uso do que chamam de “números frios”, ou seja, justificam por que os valores humanos não contam nessa “contabilidade”. Não se comovem. Nas redes sociais bolsonaristas iniciaram a divulgação de números embaralhados e comparações esdrúxulas sobre a pandemia no Brasil, para que, vangloriando-se na confusão, possam desviar a atenção de suas responsabilidades no descaso com a saúde pública, produto da incompetência e da ação guiada por conceitos anticientíficos.

Jair Bolsonaro

Ao serem analisados, os números que os bolsonaristas apresentam não mostram mais do que uma tentativa de blindar a direita no poder. Não há nada nesses números onde se possa ver algo para auxiliar na adoção de medidas para salvar vidas. O que se encontra neles é o contrário, é um esforço para sugestionar o povo de que estamos, com outros poucos países, na vanguarda do combate à pandemia e, também, de que os índices de contaminação não são tão graves assim. Quando o bolsonarismo usa os números arranjados a seu arbítrio para malversar os fatos e escamotear o sofrimento, aí sim há que se falar de frieza, a frieza da maldade.

Esse é um dos motivos por que o Bolsonaro perdeu apoio entre a parcela de seus eleitores que, no entanto, não eram seus acólitos. Mas os números de mortos não estão escritos com giz, não são um problema estatístico usado numa sala de aula. A dor de quem perdeu alguém nessa tragédia também faz parte do gráfico onde se vê a quantidade de vítimas. A manipulação de números nesse cenário de desolação revela o significado da expressão “falta de empatia” (palavra que não entra nas aulas de matemática). Bolsonaro quando fala para comentar as mortes causadas pela pandemia é grosseiro e desalmado, parece que se satisfaz com isso, e até ao tentar se controlar, fala como se tivesse decorado o que diz. O sofrimento produzido pela pandemia é humano demais para seres desumanizados compreenderem sua extensão. Os bolsonaristas não sabem como explicar conceitos que não se encaixam na lógica primitiva que usam para contabilizar mortos, sobreviventes, desempregados, população de rua e PIB. Fracassam quando procuram comparar o número de mortos pela pandemia no Brasil com o de outros países. Em seu afã de inocentar o governo de um genocídio, criam uma particular geopolítica da dor.

Brasil ladeira abaixo

Os sinos dobram e os ouvidos antes moucos começam a sentir as badaladas que chamam à participação de todos nessa onda que parece formar um mutirão de indignação, pois entenderam que não basta chorar os seus mortos, pedir auxílio de migalhas assistenciais e a elas ficarem gratos, porque já passou da hora, mas não do momento, devido à correlação de forças, de dar uma basta radical ao bolsonarismo. O genocida do Planalto fomenta a balburdia em todas os poderes e instituições da República, em especial no Exército, de onde saiu praticamente expulso, e mantém celular rancor, mágoa e ressentimento da instituição centenária. Esta percepção não precisamos de Freud para explicar, pois está aos olhos de quem quer enxergar sem antolhos.

Sigmund Freud

Atacadas por várias pragas – covid-19, Bolsonaro, estagnação econômica – ainda não entramos em coma, mas que o Brasil está na porta da UTI, sob os auspícios do curandeiro genocida e seu gabinete paralelo, já não há mais dúvidas, há provas e convicções. A polarização é entre a vida e a morte, que cada brasileiro assuma o seu lugar nesta travessia e cobre dos responsáveis. A ode à vida será o contraponto estratégico à geopolítica da dor. Ao encerrar quero registrar e agradecer ao Jaime Cardoso, fraterno camarada da Geração de 68, que me enviou um texto que aproveitei integralmente e inspirou este artigo, cujo título é seu.

A passeata dos 100 mil em 26 de junho de 1968, no Rio de Janeiro, sob a ditadura civil e militar

Francisco Celso Calmon, ex-coordenador nacional da Rede Brasil – Memória, Verdade e Justiça

O artigo saiu originalmente no Jornal GGN

 

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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