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Uma rajada de submetralhadora

Um segundo

Uma rajada de submetralhadora

Como o assassinato de Marie­lle Franco e Anderson Gomes escancara o submundo do crime?

Não há um dia sequer em que eu não chore. É muita dor            

Marinete da Silva, mãe

Uma morte. Sob encomenda

Chico Otavio e Vera Araújo

          As duas testemunhas oculares não depuseram

Chico Otavio e Vera Araújo

 

Renato Dias

Um segundo apenas. Uma rajada de submetralhadora. De fabricação alemã. A terra de Adolf Hitler. Uma HKMPS. A fábrica é a Heckler e Kock. A munição usada, pasmem, pertencia a um lote da Polícia Federal. Um órgão de Estado. Arma de elevada precisão. Cirúrgica. Com um silenciador. Os vidros explodem. Estilhaços voam.  O atirador, de elite, estava em um Cobalt 1.4. De cor preta. Modelo LF. O veículo desapareceu. Trocando em miúdos: virou pó. Assim ma­ta­ram Marielle Franco. Vereadora gauche. Em 14 de março de 2018, 21h30. Rio de Janeiro. ‘Outrora’ Cidade Maravilhosa. Atual República das Milícias, do crime organizado e da banda podre das polícias civil, militar, federal e até das Forças Armadas. É o que relatam Chico Otavio e Vera Araújo. O título do livro, seminal, é ‘Mataram Marielle _ Como o assassinato de Marie­lle Franco e Anderson Gomes escancarou o submundo do crime carioca. Editora Intrínseca.

 

_ 208 páginas. Com informações exclusivas.

Uma morte. ‘Sob encomenda’. Jornalista, Fernanda Chaves, que também estava no carro, consegue escapar ilesa. Marielle Franco, mulher, negra, oriunda do Complexo de Favelas da Maré. Na zona norte. Uma área controlada pelas milícias. Aos 38 anos de idade. Ex – auxiliar de Marcelo Freixo, deputado federal do Psol. Historiador destemido que presidiu a CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] das Milícias. Na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Um membro do Partido Socialismo e Liberdade. A sigla criada no ano de 2004. Legenda de esquerda. Não custa lembrar: nascida de uma costela do PT. A parlamentar havia sido eleita em 2016. Registro do Tribunal Superior Eleitoral [TSE]. Com 46.502 mil votos válidos. Uma ecossocialista. Mais: ativista LGBTQIA+. Observação: com uma sólida formação intelectual. Socióloga e mestre. Além do seu tempo. Ela estava casada com a arquiteta Mônica Benício.

_ Não há um dia sequer em que eu não chore. É muita dor.

É o que relata, em prantos, a sua mãe, Marinete da Silva. Quatro balas atingiram Marielle Franco. Na cabeça. Em sequência. A munição pertencia ao lote da Polícia Federal adquirido pela União _ UZZ – 18. As duas primeiras equipes que investigaram o duplo homicídio deixaram graves falhas. Nada de procurar testemunhas oculares do crime. Explosivo: um morador em situação de rua viu a execução. O Cobalt 1.4, de cor preta, pressionara o Agile, carro em que estavam os três. Um atirador ‘forte’, que usara um silenciador em sua arma, sentado no banco de trás, com uma touca ninja na cabeça, dispara. Consumado, o carro dos homens enviados escapa. Em alta velocidade. Pela Rua Joaquim Palhares. Uma mulher, com um bebê no colo, com mais duas crianças, também viu as mortes. Os tiros: com um som abafado. O que explica a utilização de um silenciador moderno. Na submetralhadora _ HKMPS.

_ As duas testemunhas oculares não depuseram.

Prisões e arquivo morto

Nem a Polícia Civil muito menos a Polícia Federal analisaram as submetralhadoras da PF. Estranho. Aliás, singular. Inusitado. As milícias e os traficantes de drogas ilícitas controlariam 300 áreas. Do Rio de Janeiro. Como currais eleitorais e centros econômicos. Com 1,7 milhão de eleitores. Após três anos _ 2018, 2019, 2020 _ o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa seria preso apontado como o executor de Marielle Franco e o ex – PM {RJ]  Élcio Quei­róz, como o motorista do Cobalt 1.4 na noite do crime: 14 de março de 2018. Ronnie Lessa era morador do Condomínio Vivendas da Barra. Vizinho do atual presidente da República, Jair Messias Bolsonaro [Sem partido]. Já o chefe do denominado ‘Escritório do Crime, Adriano da Nóbrega, morreu em fevereiro de 2020. Após cerco total. No Estado da Bahia. Acuado. Sem proteção. Uma suposta queima de arquivo? Somente o tempo irá responder à interrogação.

 

Serviço

Lançamento editorial

Livro: ‘Mataram Marielle _ Como o assassinato de Marie­lle Franco e Anderson Gomes escancarou o submundo do crime carioca’

Editora: Intrínseca

Número de páginas: 208

Autores: Chico Otavio e Vera Araújo

Avaliação crítica: Excelente *****

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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