Ângelo Lima
AgendaArteCultura

Imagens de um passado que não passa

Anos de chumbo

Imagens de um passado que não passa

Mostra de Cinema Político traz, hoje, 13h, no IFG, Goiânia, quatro produções cinema­tográficas que abordam de forma multifacetada o tema da ditadura civil e militar no Brasil

 

Renato Dias

Marcus Vinícius Beck

 

As marcas da ditadura civil e militar no Brasil e os movimentos sociais. É a primeira Mostra de Cinema Político  realizada pelo Cineclube Ismael Silva de Jesus. Com o suporte institucional do Cineclube Imigração, União de Cineclubes de Goiânia e Conselho Nacional de Cineclubes. Três filmes serão exibidos nesta segunda-feira, hoje, 25 de novembro de 2019. Horário: a partir de 13h. Point da vanguarda estética cinematográfica: no Auditório Julieta Passos. Do Instituto Federal de Goiás, o IFG. Campus de Goiânia, Goiás. É na antiga Escola Técnica Federal de Goiás.

Caricatura da ditadura civil e militar no Brasil
Caricatura da ditadura civil e militar no Brasil

O primeiro filme a aparecer na telona é ‘O cinema que não se vê’, com a impressão digital do cineasta Erik Ely, ano 2018. Duração de oito minutos. O segundo é ‘Marcas da ditadura na vida de um ator’, documentário celebrado pela crítica e público, assinado pela doutora da Uni­versidade Federal de Goiás, de raro talento na sétima arte, Rosa Berardo, 2017. Com a história trágica do ator Almir de Amorim, vítimas de torturas pós-1964. Terceiro,  ‘31 de março Brazil’, 2019, 5 minutos, animação. Com direção do inventivo Emerson Rodrigues. É do ‘balacobaco’.

Ângelo Lima

O premiado e multifacetado diretor Ângelo Lima, um ‘enragé’ no ano de que não terminou, 1968, anistiado político, cultuado no Brasil, América Latina e Europa, apresentará, na primeira Mostra de Cinema Política organizada pelo Cineclube Ismael Silva de Jesus, preso político do PCB assassinado em 9 de agosto de 1972, aos 18 anos de idade, ex-trabalhador do Cinco de Março, a sua produção, sucesso de crítica e de público, ‘Nódoas’. Uma abordagem singular dos anos de chumbo.  Ele produziu Retrato ¾ de um tempo. Visceral. Um soco no estômago.

Ditadura civil e militar - cinema político 1
Ditadura civil e militar – cinema político 1

Box

Saiba mais

O que foi a ditadura civil e militar – 1964 – 1985

Fardados e civis derrubaram em 31 de março, 1º e 2 de abril de 1964 o presidente da Repú­blica, João Belchior Marques Goulart. Com tanques e metralhadoras. Com o aval do Supremo Tribunal Federal, a corte suprema. O Congresso Nacional referenda a posse de Raniére Mazzilli e a indicação do primeiro general-presidente, marechal Humberto Castello Branco.

Gaúcho de São Borja, ex-ministro do Trabalho, responsável pelo aumento real do salário mínimo, Jango, como era conhecido, é o herdeiro do nacional-estatismo. Em sua versão trabalhista. De Getúlio Vargas, rotulado de ‘Pai dos Pobres’. Getúlio Vargas suicidou-se às 8h30, do dia 24 de agosto de 1954, em seus aposentos presidenciais, no Palácio do Catete.

Ditadura civil e militar - Tortura - cinema político
A repressão

A capital do Brasil, à época, era o Rio de Janeiro, outrora Cidade Maravilhosa. Com a queda de Jango, 21 anos de ditadura civil e militar [1964-1985]. A operação teve a ostensiva participação dos Estados Unidos das Américas. Um saldo societal trágico. Com 479 mortos e desaparecidos políticos. Assim como 1.700 trabalhadores rurais executados. Além de 10 mil pessoas exiladas.

O projeto Brasil Nunca Mais, organizado pelo Arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns e pelo reverendo Jaime Wright, registra que duas mil pessoas, perante o Superior Tribunal Militar, o STM, denunciaram terem sido torturadas. Na cadeira-do-dragão, socos, pontapés, telefones, pau-de-arara. A jornalista Miriam Leitão teve de ficar em uma cela com uma cobra ao seu lado.

Relatório da Comissão Nacional da Verdade, instalada em maio de 2012 e encerrada dia 10 de dezembro de 2014, aponta que seis mil membros do Exército, Marinha, Aeronáutica, Força Pública foram demitidos ou reformados. Um Grupo de Trabalho da CNV diz que 12 mil indí­genas morreram sob a ditadura civil e militar e sua política indigenista e de obras faraônicas.

Pasmem: 39,5 mil trabalhadores e trabalhadoras foram reconhecidas pela Comissão de Anistia, órgão do Ministério da Justiça, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília [DF], a Capital da República, a terem direito à reparação econômica ou pensões. Por danos materiais, políticos, sociais e simbólicos. Medidas que prejudicaram as suas vidas. Tanto civis quanto militares.

Mais: a ditadura civil e militar, no Brasil e em Goiás, promoveu uma violenta censura às artes, publicação de livros, à imprensa, aos filmes, peças de teatro. Artistas eram perseguidos, presos, espancados e exilados. Como Caetano Veloso e Gilberto Gil, exilados na Inglaterra; Chico Buarque, na Itália; Geraldo ‘Caminhando’ Vandré. Jornais destruídos. ‘Empastelados’.

O Ato Institucional Número 5, de 13 de dezembro de 1968, fechou o Congresso Nacional, a Câmara Federal, o Senado da República, as assembleias legislativas e as câmaras municipais. Centenas de governadores, prefeitos, senadores da República, deputados federais, deputados estaduais, vereadores foram cassados. Em 1980, Luiz Inácio Lula da Silva foi preso. Greve e LSN

O Congresso Nacional aprovou, em 26 de agosto de 1979, a Lei de Anistia. A medida sancionada não foi ampla, nem geral muito menos irrestrita. Os agentes do Estado pagos com o dinheiro do contribuinte para garantir a segurança pública, responsáveis por violações dos direitos humanos, assim como a sua cadeia de comando, receberam uma autoanistia da União.

A direita explosiva matou, com uma bomba endereçada a Sepúlveda Pertence, a secretária da Ordem dos Advogados do Brasil, Lyda Monteiro, em 27 de agosto de 1980. Um atentado à bomba no Riocentro, Rio de Janeiro, no show de Primeiro de maio, dia internacional dos traba­lhadores, deixou os executores feridos. Um morreu. O crime permanece até hoje impune.

O jornalista Alexandre Von Baumgarten, indigesto à ditadura civil e militar, acabou assas­sinado, em 1982. A campanha das diretas, iniciada em 1983, e que exigia o direito elementar de votar, caiu com a derrota da Emenda Dante de Oliveira, em 25 de abril de 1984. Contra o que poderia ser uma revolução democrática, como aponta o sociólogo Florestan Fernandes.

O Colégio Eleitoral é instalado. Tancredo Neves morre. José Sarney, ex-presidente da Arena e do PDS, legendas de sustentação da ditadura civil e militar, em ironia da História, assume. A Carta Magna sai em 5 de outubro de 1988. Com a manutenção da tutela das Forças Armadas como garantidora da Ordem Política e Social. Em 2019, militares estão em 30 órgãos da União.

– Um passado que não passa.

Vejam os números:

– 479 mortos e desaparecidos

– 1.700 trabalhadores rurais executados

– 10 mil pessoas exiladas

– Duas mil pessoas, perante o Superior Tribunal Militar, denunciaram terem sido torturadas.

– 6 mil membros do Exército, Marinha, Aeronáutica, Força Pública foram demitidos ou reformados

– 39,5 mil trabalhadores e trabalhadoras foram reconhecidos pela Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, com direito à reparação econômica. Civis e militares.

– 12 mil indígenas morreram sob a ditadura civil e militar e sua política indigenista e de obras faraônicas

– Censura às artes, publicação de livros, à imprensa, aos filmes, peças de teatro

– Artistas eram perseguidos, presos, espancados e exilados. Como Caetano Veloso e Gilberto Gil, exilados na Inglaterra; Chico Buarque, na Itália; Geraldo Vandré…

– Jornais destruídos

– O Ato Institucional Número 5, de 13 de dezembro de 1968, fechou o Congresso Nacional, a Câmara Federal, o Senado da República, as assembleias legislativas e as câmaras municipais

– Centenas de governadores, prefeitos, senadores da República, deputados federais, deputados estaduais, vereadores foram cassados.

 

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

Avatar photo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *