Contragolpe

Renato Dias
O cerco a Jair Messias Bolsonaro [PL] aponta para a sua provável condenação no Suprema Tribunal Federal [STF], avalia o professor doutor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense [UFF], Daniel Aarão Reis Filho, ao portal www.renatodias.online

O ministro do STF, Alexandre de Moraes, determinou que o ex-inquilino do Palácio do Planalto use tornozeleira eletrônica, não estabeleça contatos com Eduardo Bolsonaro, permaneça longe das redes digitais e distante das embaixadas e diplomatas e recolha-se de 19h às 7h.

O pesquisador diz que se os golpistas de 11 de novembro de 1955, fevereiro de 1956, em Jacareacanga, Pará, 1959, em Aragarças, Goiás, além dos homens que sublevaram após 25 de agosto de 1961, tivessem sido julgados e condenados, o Brasil poderia ser um país diferente.

O golpe de Estado civil e militar de 2 de abril do ano trágico de 1964, um dia que durou 21 anos, que depôs o presidente da República, João Belchior Marques Goulart, que mudou o curso da História, não teria consumado, observa, hoje, o especialista do Tempo Presente.

Nem a tentativa frustrada de 8 de janeiro de 2023, com o ataque às sedes dos Três Poderes, em Brasília [DF], a capital da República, analisa o historiador. Mesmo assim, ele afirma ser indispensável a derrota política, ideológica e cultural da extrema direita no Brasil e no mundo.

Peruano, Carlos Ugo Santander, professor doutor de Ciências Sociais da UFG, crê que a decisão do STF é legal, pertinente e oportuna. A conspiração internacional, as ameaças e assédio à soberania nacional, com os arroubos de Donald Trump, já exigem prisão preventiva, observa.

Ex-reitor do IFG, Paulo César afirma que a série de medidas estabelecidas por Alexandre de Moraes são providenciais. Para a garantia da ordem jurídica, pontua. Além de uma demonstração inequívoca de independência do Poder Judiciário e também da soberania nacional, atira.

Jair Messias Bolsonaro, desde o Exército e em sua longa passagem pela Câmara Federal, com sete mandatos, no baixo clero, em Brasília, insulta o Judiciário e tenta fragilizar as instituições. Governo Federal, PGR e STF mostram ao mundo a solidez da democracia, sublinha.

A resistência aos ataques é fundamental, relata Paulo César. Interesses privados e geopolíticos nacionais e internacionais não pouparão os seus esforços para desestabilizar a economia, o Tarifaço é o exemplo, e impedir o atual protagonismo do Brasil no mundo globalizado, dispara.

Crítico, o professor doutor de Ciências da Religião Antônio Lopes define, hoje, Jair Messias Bolsonaro como gestor do caos, negacionista e um conspirador contra a democracia. Ele frisa que as restrições impostas pelo STF não seriam suficientes para frear sua delinquência.

Um adepto das ideias de Karl Marx [1818-1883], o educador herdeiro de Paulo Freire lembra ser necessário ainda derrotar o Centrão no Congresso Nacional. O ativista cobra a mobilização popular. “Para a ampliação dos direitos dos trabalhadores e aposentados”.

Professora aposentada da Universidade Federal da Paraíba, Betty Almeida lembra que Jair Messias Bolsonaro quase foi expulso do EB, era um deputado federal inexpressivo e que ganhou a eleição em um cenário disruptivo e especial, com a exploração dos “instintos primários”.

Um desastre para o País. Assim ela faz referência ao mandato de 2019 a 2022 do capitão reformado. É a biógrafa de Honestino Monteiro Guimarães. O ex-presidente da União Nacional dos Estudantes [UNE] desaparecido político em 1973. Sob a ditadura civil e militar.

Ele tentou impedir a posse do eleito Luiz Inácio Lula da Silva, com planos de assassinatos, fez uma tentativa vil de golpe de Estado, fracassou, enfrenta um julgamento e ataca, com Eduardo Bolsonaro, seu filho, a soberania e as instituições do Brasil, metralha.

As medidas executadas por Alexandre de Moraes contra o réu têm o objetivo de impedir a obstrução da justiça, os bombardeios à economia e ao Poder Judiciário, com agitação nas redes digitais e também eventual fuga com o suporte da Casa Branca, afirma.


‘Ideal seria prisão preventiva’
Renato Dias
Líder da Unidade Popular [UP], uma frente integrada pelo Partido Comunista Revolucionário [PCR], o historiador marxista Reinaldo Pantaleão já cobra celeridade no julgamento, amplo direito à defesa e condenação aos fascistas dos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

A soberania nacional será conquistada somente com os movimentos sociais urbanos e rurais nas ruas e praças, acredita o professor. Ditadura civil e militar no Brasil nunca mais, repete a palavra de ordem o velho revolucionário. A democracia não será destruída, frisa.
Advogado e presidente do PSTU, o trotskista Rubens Donizete analisa que o passivo de crimes de Jair Messias Bolsonaro é suficiente para a decretação de prisão preventiva. “A tornozeleira eletrônica corresponde a uma jóia de presente”, critica o sindicalista.

Os recursos que financiaram a viagem de Eduardo Bolsonaro aos EUA, deveriam ser alvo de investigação minuciosa, recomenda. A família conspira contra a soberania nacional e a democracia no Brasil, reclama o Operador do Direito. “Os EUA são uma República de Bananas”.
Da esquerda do Psol, o professor de História Fred Frazão, seguidor de Leon Trotski [1879-1940], revela que as medidas preventivas foram necessárias. Pelas tentativas de fuga aos EUA, no ano de 2022, e ao refúgio na Embaixada da Hungria, em 2024, ele denuncia.

O uso da tornozeleira eletrônica, previsto por lei, é uma opção para manter o réu acusado de cometer crimes sob monitoramento, vigilância e controle da PF, PGR e STF e permitir a conclusão do processo e do julgamento, explica o dirigente e ativista político e sindical.
Ex-membro do Comitê Gregório Bezerra [CGB], o socialista Itamar Borges avalia que Alexandre de Moraes conduz com serenidade e firmeza o processo judicial de 8 de janeiro de 2023 e atende com determinação as demandas da PF e da Procuradoria Geral da República.

Em tempo: Jair Messias Bolsonaro sabe que será condenado e busca uma saída política com a Anistia, constata o servidor público da PGR. O que exige um contra-ataque tanto de Luiz Inácio Lula da Silva quanto do STF contra as ameaças, hoje, de Donald Trump, ele insiste.
O líder nacional, hoje, do Movimento Comunitário Trabalhista, instância do PDT, Jordaci Matos classifica o tom da resposta a Donald Trump como à altura do que a crise exige. As medidas do STF estão dentro da lei, desabafa. O clã conspira com o imperialismo, atira.

Com uma longa história na esquerda brasileira, o dirigente aponta ainda que Alexandre de Moraes respeita o devido processo legal e Luiz Inácio Lula da Silva adota postura certa para garantir a soberania e a estabilidade da jovem e frágil democracia no país do cone-sul.
‘Clã fere direito e princípios
das Relações Internacionais’
Renato Dias
Professor de História e sindicalista em Brasília, Clayton de Souza Avelar afirma que Jair Messias Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro cometem um crime de lesa-pátria. Mais:eles atingem a economia do Brasil e ameaçam com medidas hostis à soberania nacional.

O clã Bolsonaro fere de morte princípios do Direito e das relações internacionais, alerta Uma família ligada às milícias e que usa o Estado aos seus interesses privados, ataca. As medidas do STF são uma resposta a Donald Trump, que quer ser o Imperador do Mundo, resume.

Presidente do SindSac [DF] e quadro do Psol, ele defende avançar para taxar as grandes fortunas, reduzir impostos de quem ganha menos, além de reduzir a abissal desigualdade econômica, social, educacional no país. Uma das chagas históricas, afirma o intelectual público.

Pesquisas mostram
isolamento de líder
Renato Dias
Levantamento realizado pelo Instituto Quaest aponta que 59% dos usuários das redes digitais aprovaram as medidas cautelares impostas ao ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro. A pesquisa monitorou contas no Reddit, Instagram, Facebook, X, Tumblr, YouTube.

Já pesquisa qualitativa divulgada pelo Monitor do Debate Público, do IESP e UERJ, mostra que as sanções ao Brasil anunciadas por Donald Trump uniram os eleitores de Luiz Inácio Lula da Silva e de centro. Eles vêem “interesses próprios” do líder do PL e da extrema direita.

Números da Genial/Quaest relatam que 72% dos eleitores reprovam o Tarifaço contra o Brasil anunciado por Donald Trump sob o mantra de suposta perseguição política e judicial a Jair Messias Bolsonaro, 77% dos eleitores independentes rejeitam a taxação.

Donald Trump, BRICs, Tarifaço e os Bolsonaro

Fernando Safatle
Não cabe uma análise circunscrita ao campo jurídico sobre as restrições impostas por Alexandre de Moraes a Jair Bolsonaro para impedir a obstrução da justiça. A questão envolve aspectos que devem ser abordados.

Primeiro, havia a suspeita de que Jair Bolsonaro pudesse pedir asilo, afinal apesar de seu enfático desmentido, ele, em 2024, dormiu por duas noites na embaixada da Hungria. Portanto, não é descabida a tornozeleira eletrônica. Segundo, depois do pronunciamento de Lula reafirmando o seu firme propósito de defender a soberania nacional e não se submeter às intimidações de Trump, pairou no ar possibilidade de escalada de novas retaliações americanas.

Era necessário se prevenir. Antes de mais nada é necessário inserir essa questão na geopolítica global e entender porque Trump voltou suas baterias contra o governo Lula. A questão não é econômica, mas essencialmente politico/ideológica. Eles acusam Lula de colocar a questão ideológica acima de tudo, o que de certa forma é verdade, mas também se movimentam pela questão ideológica.

Trump não aceita um país da América Latina ter uma postura contrária a ele. Ora, Lula em várias oportunidades se posicionou contrário, seja no caso da guerra da Ucrânia, em relação à Israel e, sobretudo, em relação aos Brics. É um dos incentivadores de substituir o dólar nas transações comerciais. Trump acredita que tudo isso visa desvalorizar o dólar.

Trump é produto da crise de hegemonia que vem atravessando a economia americana. É a resposta que os americanos deram para soerguer uma economia combalida que vem perdendo terreno pra China. Por isso, quer retirar os EUA dos conflitos, sobrecarregados com os gastos militares. Mas as contradições em que estão mergulhados são tremendamente grandes e não permitem que ele concretize seus objetivos. O complexo industrial-militar não permite a retirada das guerras, é a dinâmica que domina a economia americana.

Na mesma medida em que expulsa Zelensky da Casa Branca e diz que a guerra não é dos americanos e que não vai dar mais dinheiro, no outro dia volta atrás e se submete aos interesses do complexo industrial militar.Afirmar que Jair Bolsonaro é perseguido e submetido a um processo injusto e incongruente do ponto de vista jurídico e que deve ser anistiado é mera justificativa para adotar medidas punitivas diante de um país que não respeita a democracia e os valores ocidentais.

Não foi distorcendo os fatos, montando uma justificativa escandalosa e manipulando a mídia ocidental que prepararam a opinião mundial para as invasões ocorridas no Iraque e em outras partes do mundo? Eduardo Bolsonaro não vem ameaçando em atracar porta-aviões e tudo mais? Diante da firme posição do governo brasileiro em não transigir com a soberania e da posição tomada por Alexandre de Moraes em colocar tornozeleira eletrônica em Jair Bolsonaro, qual será agora a atitude de Trump?

Vai ter uma escalada punitiva? Cada vez Trump se complica politicamente mais ainda mexendo com amplos setores da população brasileira. Implicou com o PIX, como se não bastasse com os comerciantes da 25 de março em São Paulo, vendendo pirataria e fazendo concorrência desleal aos americanos. Se tem pirataria cabe às autoridades brasileiras tomarem providências e não Trump.

Ou seja, fica cada vez mais evidente o estímulo que os falsos patriotas estão fazendo de ingerência indevida de Trump nos assuntos internos. Um tiro no pé, criando as condições para Lula capitalizar politicamente e se recuperar eleitoralmente visando 2026. Vamos aguardar os próximos desdobramentos.
Fernando Safatle é economista
