Bolívia 2024 e 2019
Renato Dias
Fardados e civis deflagraram um golpe de Estado para tentar depor o presidente da República da Bolívia, Luís Arce, foram derrotados e presos. O líder era o general e ex-comandante Juan José Uñiga.
A operação mostra DNA autoritário e com forte desprezo pela democracia das Forças Armadas da América Latina, crê o professor doutor da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, o peruano Carlos Ugo Santander.
Seduzidos por civis de extrema-direita, relata o intelectual público. A diferença é que na Bolívia os militares acabaram na cadeia e no Brasil eles ainda cultivam a impunidade, registra, hoje, o docente.
As Forças Armadas da Bolívia já possuem um histórico consolidado de autocracia, anticomunismo e tradição de golpes de Estado, observa o professor doutor da Faculdade de História da UFG, David Maciel.
O pesquisador marxista da história do Tempo Presente diz ser, hoje, uma ilusão apostar em suposto compromisso com a democrático dos militares da Bolívia. Como no episódio do ano de 2019, ele atira.
O presidente da República da Bolívia, Luís Arce, sofreu, sim, uma tentativa real de golpe de Estado, não está claro o papel dos Estados Unidos e mesmo dos adeptos de Jair Messias Bolsonaro [PL], dispara.
Tanto em 2019 quanto em 2024 a Bolívia serve de exemplo para o Brasil, avalia Jully Anne, graduada em Ciências Sociais e mestre em Sociologia pela UFG. “Ela deve inspirar os defensores do Estado de Direito”.
Como no caso da Bolívia, o Judiciário no Brasil precisa agir com eficácia para punir o alto escalão do 8 de janeiro de 2023, afirma. Militares, políticos e financiadores envolvidos, ela também cobra punição.
Lá e cá
Análise de Markus Sokol
Identidades de Bolívia e Brasil
Nascido na Polônia, radicado no Brasil e naturalizado brasileiro, o economista trotskista graduado na USP, Markus Sokol [SP] diz que o golpe de Estado sem apoio fracassou e ataca a reação da Casa Branca.
Tanto o presidente da República, Luís Arce, encarou o general do Exército Juan José Uniga quanto a população nas ruas, com o movimento da COB, colocaram as tropas para correr, fuzila o internacionalista.
O episódio na Bolívia mostra a necessidade urgente, hoje, de uma cabal punição aos envolvidos na conspiração de 2021 e 2022, que culminou em 8 de janeiro de 2023, com a revogação do Artigo 142, ele reclama.
Diálogos
O que a esquerda pensa?
O fascismo tem capilaridade nas Forças Armadas na América Latina, o que explica, hoje, as sucessivas tentativas de rupturas institucionais, de golpes de Estado, informa o historiador Reinaldo Assis Pantaleão.
Marxista, o professor de História lembra que o 8 de janeiro de 2023 no Brasil, com ataques vis, violentos, às sedes dos Três Poderes da República teria espalhado a experiência também para o continente.
Historiador, além de adepto das ideias de Karl Marx e de Leon Trotski, Fred Frazão aponta que a derrota do golpe de Estado na Bolívia ocorreu por falta de apoio social da extrema-direita. Ele propõe uma greve geral.
Com uma mobilização das massas da cidade e do campo para barrar a escalada golpista, pontua. O socialista já cobra, no Brasil, da PF, PGR e STF, o julgamento, condenação e prisão de Jair Bolsonaro.
O sindicalista Rosemar Cardoso Maciel denuncia o golpe de Estado civil e militar na Bolívia, aprova a solidariedade de Luiz Inácio Lula da Silva e defende o julgamento e condenação de Jair Bolsonaro e aliados.