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Charles Aznavour, a voz da França

Renato Dias 

A extrema direita na França, Reunião Nacional, com o seu projeto político de poder xenófobo, racista, colonial e ainda neoliberal, sofreu uma derrota espetacular no segundo turno das eleições legislativa. A frente republicana, ampla, de unidade da esquerda e o centro democrático, obteve a maioria e irá escolher o primeiro-ministro.

O Premier Gabriel Attal deve, hoje, renunciar ao cargo. Ele tem encontro protocolar, em Paris, capital do País, com o presidente atual da República, Emannuel Macron. Mais: o liberal prevê a abertura de uma temporada de crises políticas. Já que nem a esquerda, muito menos o centro democrático ou a extrema direita obtiveram maioria absoluta.

O mandato de Emannuel Macron terminará apenas em 2027. Veja: as urnas do histórico 7 de julho de 2024 recusaram a agenda política conservadora da Reunião Nacional e mandaram também um recado ao centro democrático, hoje, no Palácio dos Elysée. A sede do poder executivo da França. Ao dar um alto percentual de votos às esquerdas.

A coalizão de esquerda, hoje, é a Nova Frente Popular. Ela é formada pela FI, a França Insubmissa, liderada por Jean-Luc Mélenchon, Partido Socialista [PS], Partido Comunista [CPF], Partido Operário Independente [POI], trotskista, e os verdes, Ecologistas. A sigla do centro democrático é o Juntos. Os dois blocos fizeram aliança.

Quem é Jean-Luc Mélenchon 

Nome da Nova Frente Popular cotado para o posto de primeiro-ministro da França, Jean-Luc Mélenchon possui 72 anos de idade, é um exímio orador e tem sólidas posições políticas e ideológicas de esquerda.

O esquerdista disputou as três últimas eleições à presidência da República. Em 2012, 2017 e 2022, pleito em que ficou em terceiro lugar e perto do segundo turno. O mandato presidencial é de cinco anos.

Jean-Luc Mélenchon condena a Reforma da Previdência Social executada por Emmanuel Macron [Juntos],  denuncia os crimes de Israel na Palestina e veta o racismo, a xenofobia e a intolerância.

 

Gilvane Felipe, historiador
Edilberto de Castro Dias, advogado
Djalma Araújo, influencer digital
Itamar Correia, cantor e compositor
Clayton de Souza Avelar, historiador

Daniel Aarão Reis Filho 

Cenário de instabilidade, prevê historiador 

A previsão, hoje, é de um osso duro de roer para formação do novo governo, afirma com exclusividade ao Portal de Notícias renatodias.online o professor doutor de História da Universidade Federal Fluminense [UFF] e escritor, Daniel Aarão Reis Filho.

Uma situação anômala e é até provável que a República da França entre em um longo período de instabilidade política, avalia o pesquisador da História Contemporânea. Uma frente entre a Nova Frente Popular e o Juntos será um desastre, ele observa.

Os resultados são problemáticos, admite o historiador. Apesar de barrarem a chegada ao poder da extrema direita, o Reunião Nacional, o cenário é incerto, explica. Uma aliança com Emannuel Macron será um grave erro político, diz Daniel Aarão Reis Filho.

Há espaço para esquerda 

que se afirma, diz Safatle 

O professor de Filosofia da Universidade de São Paulo [USP] Vladimir Safatle diz, em um post no Instagram, que a esquerda, na França, mostrou como se luta contra o fascismo. Com programa consistente, atira.

O intelectual público aponta também que a aliança celebrada pela Nova Frente Popular e o Juntos foi definida pela ala mais radical e venceu as eleições de 7 de julho de 2024 contra todas as projeções políticas.

O pesquisador e ideólogo da esquerda brasileira insiste ainda que em momentos históricos de extremos há espaço para uma esquerda que se afirmei como tal. A Reunião Nacional amargou derrota eleitoral.

O que pensa Lula 

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, aplaude o que classifica como demonstração de maturidade das forças políticas na França que se uniram contra o extremismo nas eleições legislativas.

O chefe de Estado diz que o resultado na França e a vitória do Partido Trabalhista no Reino Unido reforçam a importância do diálogo entre os progressistas e devem servir de inspiração, hoje, à América do Sul.

Reino Unido e França 

Breno Altman não vê identidade 

Editor do site Opera Mundi, o jornalista Breno Altman sublinha que a esquerda na França apostou em uma frente popular, com identidade própria, e comandou a vitória contra a extrema direita. O escritor diz não ser possível comparar as eleições na França e na Inglaterra. Moderados, os trabalhistas estariam mais próximos do perfil de Emmanuel Macron, do centrista Juntos, destaca. A ascensão da esquerda abre novos caminhos, afirma o marxista.

A derrota da extrema direita 

A virada da Nova Frente Popular nas eleições parlamentares da França revela as particularidades da Quinta República, ensina que os partidos liberais e a própria democracia burguesa já não conseguem mais deter o fascismo sem a esquerda. A análise é de Itamar Borges. A França Insubmissa possui uma forte presença na juventude, diz. Um golpe no sonho da extrema direita que queria a reedição do Regime de Vichy, alfineta o pensador.

Nascido na Polônia e naturalizado brasileiro, o economista trotskista Markus Sokol relata que os institutos de pesquisas erraram feio e não captaram o humor das ruas da França. A esquerda ganhou as eleições de 7 de julho de 2024, fuzila. A maior bancada da Nova Frente Popular é da França Insubmissa, ele explica. Não houve uma suposta vitória do centro, informa, hoje, o aliado no Brasil de Jean-Luc Mélenchon, o nome mais cotado à função de primeiro-ministro do País.

Uma eventual vitória na França da extrema direita seria a reedição do massacre à Comuna de Paris, a colaboração com os nazistas que a ocuparam sob a segunda guerra mundial, alerta o digital influencer Francisco Celso Calmon.  A França da resistência, dos ‘partisans’, venceu o pleito, observa. Além de enviar um recado a Emmanuel Macron: sem a esquerda não há garantia da democracia, sem a participação do povo, o governo é frágil, ele analisa.

O professor de História Reinaldo de Assis Pantaleão, adepto das ideias de Karl Marx [1818-1883], diz que a eleição dos trabalhistas e da esquerda independente no Reino Unido, assim como a derrota da extrema direita na França, em reviravolta surpreendente, mostram o isolamento das direitas na Europa, o Velho Mundo. Dois países centrais, estratégicos no continente, afirma o historiador. O que deve refletir no mundo todo, ele, animado, acredita.

O cordão sanitário formado para impedir o ascenso da Reunião Nacional, versão feminina de Donald Trump, deu certo por quatro fatores, frisa o sociólogo Fernando Silva. A unidade das esquerdas na NFP sob Jean-Luc Mélenchon, a fragilidade de Emmanuel Macron, a tática de desistência de mais de 200 candidatos e a alta, 61,4%, a maior desde o ano de 1981, participação dos eleitores, pontua, hoje, o mestre em Sociologia. Analista da geopolítica mundial.

Pesquisador da História do Tempo Presente, Fred Frazão avalia que a crise estrutural do capitalismo produz a explosiva polarização entre a esquerda e a extrema direita no mundo. Trotskista, ele propõe pressão total sob Emmanuel Macron para a indicação de um Premier da França Insubmissa. Mais: o sindicalista crê que o melhor caminho para enfrentar, hoje, o fascismo global seria greves e as manifestações de massas de trabalhadores da cidade e do campo.

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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