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Histórias dos conspiradores

Chico Buarque

Renato Dias

Design gráfico: Eric Damasceno Kaji

Quarto general do Exército Brasileiro [EB] a ocupar o Palácio do Planalto depois de 2 de abril de 1964, o alemão luterano Ernesto Geisel destituiu Sylvio Frota, velho ministro da Guerra, no dia 12 de outubro de 1977. Para impedir retrocesso na abertura política lenta, segura, gradual. Aos 29 anos, o seu ajudante de ordens também fazia parte da conspiração. Da extrema-direita. O seu nome: Augusto Heleno Ribeiro Pereira.

Porto Príncipe, a capital do Haiti, o País mais pobre da América Latina. Quase 30 anos depois. A favela Cité Soleil é invadida por homens de capacetes azuis. Um saldo de 63 mortos e 30 feridos. Pobres, negros, desarmados, alvos de uma experiência de laboratório. O comandante da operação é um rosto conhecido. O Brasil chefiava a Minustah. O massacre ocorreu em 6 de julho de 2006. O general Augusto Heleno é exonerado.

Ex-guerrilheira da VAR -Palmares, Dilma Vana Rousseff, presa e torturada sob a ditadura civil e militar, criou em maio de 2012, a Comissão Nacional da Verdade. Para apurar os crimes de violações dos direitos humanos de 1964 a 1988. O general Augusto Heleno sai de sua zona de conforto. Ele retoma a cultura da conspiração. Um golpe pós-moderno depõe a inquilina do Palácio da Alvorada, em 2016. A história se repetia.

Folha de S. Paulo

Adido militar da Embaixada do Brasil na Polônia, o general Walter Braga Netto foi nomeado e assume em 22 de fevereiro de 2018 o cargo de interventor federal na área de segurança pública no Rio de Janeiro. A sua missão acaba em 1° de janeiro de 2019. Sob a sua intervenção, a vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes, seu motorista, são executados pelo ex-PM Ronnie Lessa. Ódio, pólvora e sangue no dia 14 de março.

O general Estevam Cals Theophilo Gaspar, comandante do Comando de Operações Terrestres-Coter do Exército Brasileiro, é um parente do ex-governador biônico do Estado do Ceará e ex-ministro de Minas e Energia, de 1979 a 1985, ainda sob a ditadura civil e militar, César Cals. Uma família com larga tradição nas Forças Armadas e um sólido desprezo pela democracia. Como mostra a história da República, no passado e presente.

Operador do Twitter, o general Eduardo Villas Boas publica um post em 3 de abril de 2018. Às vésperas do julgamento de um Habeas Corpus. No plenário do Supremo Tribunal Federal [STF]. O pedido de HC é rejeitado. Líder das pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva, alvo de Lawfare, é preso por 580 dias e impedido de disputar as eleições de 2018. O juiz que o condenou vira ministro e o general Augusto Heleno, chefe do GSI.

Registro: 22 de maio do ano de 2020. O Brasil enfrenta a Pandemia do Coronavírus Covid 19. Em tom de ameaça, o general Augusto Heleno emite uma Nota Oficial. O documento classifica como inconcebível, inacreditável e um perigo à estabilidade institucional nacional as investigações feitas à época contra o então presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, suspeito de anuência com atos antidemocráticos.

De janeiro de 2019 a 31 de dezembro de 2022, o gabinete principal do GSI estava adornado com fotografias de Golbery de Couto e Silva, Emílio Garrastazu Médici, Carlos Alberto de Fontoura, João Baptista de Oliveira Figueiredo, Octávio Aguiar, Ivan de Souza e até de Newton Cruz. Homens do SNI. O monstro criado em 25 de junho de 1964. Um Estado dentro do Estado. A sala de Augusto Heleno, na Esplanada dos Ministérios.

Mais: 5 de julho de 2022. Uma reunião em Brasília [DF]. Do ministério de Jair Messias Bolsonaro. Veja: o general Augusto Heleno anuncia que a Abin estaria já infiltrada na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. O dono da caneta que o exonerou em 2006 da missão no Haiti. Integrante do PT, sigla de Dilma Rousseff, a criadora da Comissão Nacional da Verdade. O oficial defende uma virada de mesa. Como 1937, 1964, 2016.

Jair Messias Bolsonaro conspira para fechar o STF, prender Alexandre de Moraes, lacrar o Congresso Nacional, cancelar as eleições de 2022, com o ministro da Marinha, Almir Garnier, generais Augusto Heleno, do GSI, Paulo Sérgio Nogueira, Defesa, Estevam Cals, Comando de Operações Terrestres. Além do ministro da Justiça, Anderson Torres. Com aval de Eduardo Villas Boas. Tenente coronel Mauro Cid é um operador.

Alexandre Ramagem ainda dava as ordens na Abin paralela. Carlos Bolsonaro mexia no Gabinete do Ódio. Valdemar Costa Neto teria cedido a estrutura e parte do fundo partidário do PL. Filipe Martins elabora a minuta do golpe de Estado civil e militar, Estado de Sítio e da GLO. Walter Braga Netto articula nas Forças Armadas e põe pressão. Maria Aparecida Villas Boas é a face pública de Eduardo Villas Boas nos acampamentos.

Um viúvo da ditadura civil e militar. É Paulo Renato Oliveira Figueiredo. Neto do diretor do SNI e ex-presidente da República João Baptista de Oliveira Figueiredo. Ditador que não proibiu o terrorismo da extrema-direita. Como os atentados à sede da OAB, em 27 de agosto de 1980, ao Riocentro, em 30 de abril de 1981, e a execução de Alexandre von Baumgarten, jornalista, no ano de 1982. Personagem adepto do capitão reformado.

explosivo

O neto do ditador João Baptista de Oliveira Figueiredo, Paulo Figueiredo, atua na Jovem Pan. A senha é A Festa da Selma. Deputados federais compartilham as informações. A capital da República é destruída em 8 de janeiro de 2023. Kids pretos deixam rastros. O projeto era promover um golpe de Estado e garantir a permanência de Jair Messias Bolsonaro no poder. Com longevidade. Estado autoritário com economia neoliberal.

Poder executivo, Luiz Inácio Lula da Silva resiste. Presidente do STF, Rosa Weber endurece. Sob Alexandre de Moraes, o TSE passa o facão. Rodrigo Pacheco, chefe do Congresso Nacional [Legislativo], reage. Os governadores de Estado defendem a democracia. A Igreja Católica progressista manifesta-se. Conglomerados de mídia denunciam. OAB e ABI protestam. Estados Unidos [EUA], Europa, Brics e Mercosul não aceitam.

O golpe de Estado civil e militar fracassa em 8 de janeiro. Uma tentativa de abolição violenta do Estado de Direito. Com grave destruição do patrimônio público tombado. O Brasil tem a oportunidade histórica de fazer a Justiça de Transição, retirar a GLO da Constituição, enquadrar as Forças Armadas, mudar os currículos e doutrinas militares, desestimular para sempre as rupturas e acabar com a impunidade oficial não republicana. Sem anistia.

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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