Marcelo Benfica Marinho
Opinião

Imprensa alternativa ou nanica

Anos 1960, 1970 e 1980

Marcelo Benfica Marinho

Que resgate maravilhoso da imprensa alternativa. E da Libelu. Foi o processo de abertura política no país, a partir do final da década de 70, que possibilitou o deslocamento e transição da vertente “Imprensa Alternativa” para a vertente “Comunicação Comunitária” dentro da concepção de fazer e vivenciar uma comunicação alternativa. O apogeu da Imprensa Alternativa teria sido entre 1975 – 1977, a partir da década de 80 uma parte da Imprensa Alternativa, trocou a luta política, a denúncia social, por questões tais como ecologia, comportamento, artes e assuntos ligados às minorias (homossexuais, negros, feministas etc.).

Quanto às críticas, estas quando são feitas, o são de forma mais humoradas. Surge, então, os jornais de partidos. Ganha certo alento a chamada imprensa sindical, a imprensa dos movimentos civis, movimentos pela posse da terra, pela posse urbana, movimentos dos sem-terra liderados por subgrupos da Igreja Católica Progressista, CPT. Podemos fazer um corte, de 1979 para cá, depois da anistia e da consolidação de novos partidos políticos. A década de 80 vai ser marcada por uma imprensa alternativa diferente. Estes jornais cumprem uma função de mobilização e defesa específicos. Movimento dos sem-terra, sem-casa, dos índios e dos grupos de empresários. São de pequena circulação, e esta é dirigida. 

Anistia, em 1979

A mobilização interna e externa obtida através da comunicação, o registro de imagens dos confrontos com as forças repressivas do Estado e a reconstrução da identidade destes grupos sociais a partir da produção de uma auto-imagem positiva, forçou uma mudança no tratamento dos conflitos sociais pelo poder público, especificamente em Goiás. A primeira questão que nos apresenta é a da existência e visibilidade da imprensa alternativa em Goiás. A ausência de citações e referências, a falta de alusão a Goiás nas obras que tratam do assunto – Imprensa Alternativa – ao nível nacional é corroborada pela opinião de vários jornalistas goianos de que, à primeira vista, não houve imprensa alternativa em Goiás e se houve foi inexpressiva, e destituída de suas características mais marcantes. Esta é a opinião de Joãomar Carvalho: 

Joãomar Carvalho

Houve imprensa alternativa em Goiás, durante a ditadura militar e a cooperativa de jornalistas – a PROJORNAL –, foi um caso emblemático de deslocamento e transição de uma concepção “alternativa” para uma “comunitária” de fazer e vivenciar a comunicação. Tal experiência teria sido possível pela articulação e interlocução entre as esferas culta e popular da sociedade, representados pela CPT (Comissão Pastoral da Terra) do segmento progressista da Igreja Católica, por professores e alunos da Faculdade de Comunicação e jornalismo da UFG, militantes políticos, jornalistas da PROJORNAL (Cooperativa de jornalistas de Goiás) e os ex-invasores – então posseiros urbanos de Goiânia –  da FEGIP (Federação Goiana de Inquilinos e Posseiros). Apesar da ausência de citações e referencias, da falta de alusão a Goiás nas obras que tratam do tema em nível nacional e da opinião de vários jornalistas goianos, houve comunicação alternativa, especialmente imprensa escrita em Goiás, durante a ditadura militar. Foram eles: O ABACAXI, O XARME, O GERMINAL, O ALTO DA POEIRA, O 4 DE OUTUBRO, O JORNAL DE DEBOCHE, O TOP NEWS, e a PROJORNAL. E inúmeros outros que não passaram da tentativa de existência. 

A cooperativa de jornalistas – a PROJORNAL – foi um caso emblemático de projeto de imprensa alternativa, tendo entre suas realizações o JORNAL DE DEBOCHE, que mais se aproximou do padrão nacional de imprensa alternativa. Deparei-me durante a pesquisa, com os inúmeros fracassos e os raros “sucessos” das experiências de comunicação alternativa, especificamente os jornais alternativos. Tais experiências tiveram como marca a transitoriedade, foram efêmeras. E o foram no Brasil e especialmente em Goiás por razões ora econômicas, ora políticas, ideológicas ou culturais. Não estando engajada com grandes poderes da sociedade-Estado, grupos econômicos ou culturais, sendo um dos pressupostos da comunicação alternativa a negação deste vínculo, ela sofre todo um processo de marginalização, boicote e tentativas de estrangulamento, que muitas vezes obtém êxito. 

Antonio Gramsci

A censura política e militar à liberdade de imprensa, foi substituída, a partir da abertura política, pela censura econômica, no caso dos jornais alternativos, através de mecanismos como o monopólio do papel, cartelização do comércio desta matéria-prima, sua cotação em dólar e consequentemente controle de preços por grandes grupos. Um elemento cultural e ideológico que se traduzia em deficiência de estratégia de comunicação, linguagem e distribuição era a incompreensão ou ignorância do conceito de hegemonia em Gramsci, o que fazia com que a comunicação alternativa na década de 70, mesmo quando supostamente dirigida às massas atingisse basicamente uma vanguarda intelectual. Frustra-se assim, um dos seus objetivos confessos, que era servir de instrumento de mobilização social contra a ditadura militar.

Os jornais alternativos utilizavam uma linguagem e conteúdos herméticos para as massas, além de circularem predominantemente em ambientes de intelectuais e de classe média.  Faltava, além da parte comercial, um sistema de distribuição. Somem-se a isso as tiragens não muito elevadas e a periodicidade nem sempre mantida, apesar de espaçadas. Outro elemento adicional de seu fracasso ou transitoriedade, diz respeito à organização administrativa. Para uns a comunicação alternativa não deveria ter caráter empresarial. Outros defendiam uma postura empresarial interna e também frente ao mercado. A polêmica estava armada, desgastando e dividindo as assembleias, reuniões e lideranças.

Marcelo Benfica Marinho

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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