Márcio Santilli
Política

Rua sem saída

Rita Lee

Márcio Santilli

Ao especular, em vida, sobre possíveis reações à sua morte, Rita Lee disse, entre outras coisas, que, eventualmente, poderiam dar o seu nome a uma rua sem saída. Eu entrei nessa rua, no tempo de Os Mutantes, e nunca mais saí. Em 1968, eu fiz 13 anos e ela era uns oito anos mais velha. Uma diferença significativa para aquela idade. Eram tempos de erupção ideológica, de amor livre e de novas linguagens musicais, no Brasil e no mundo. O movimento estudantil tomava as ruas, anunciando revoluções. Os Beatles sacudiam plateias planetárias e o rock and roll produzia diversos sincretismos pelo mundo afora.

A ovelha negra

O golpe militar de 1964 atropelou o direito à liberdade da minha geração, espalhando tortura, miséria, ignorância e censura por onde deveria haver aprendizagem e civilização. Apesar disso, o movimento “Tropicália” embalava corações e mentes. “Panis et Circenses” era o nosso grito de guerra, a metáfora contraposta ao regime de opressão.

A ditadura civil e militar

Capa do disco ‘Tropicália’, de 1968. Em pé (E-D): Arnaldo Batista, Caetano Veloso, Rita Lee, Sérgio Dias e Tom Zé. Sentados (E-D): Rogério Duprat, Gal Costa e Torquato Neto. Sentado em primeiro plano: Gilberto Gil. Na foto superior, segurada por Caetano Veloso: Nara Leão. Na foto inferior, segurada por Gilberto Gil: Capinam.

AI-5

Porém, 1968 terminou com a edição do Ato Institucional AI-5, fechamento do Congresso, violência contra a população. A ditadura censurou e perseguiu a Rita e os artistas nacionais. Mas a MPB de então era o nosso veículo de formação e informação. Paulista como eu, Rita foi, então, a mais exuberante tradução metropolitana da diversidade cultural brasileira.

Alvo da repressão

Há muitíssimo o que escrever e dizer sobre a sua passagem pelas nossas vidas. Mas, agora, não vale a pena diluir o sentimento essencial. Ela cunhou, para si mesma, o seguinte epitáfio: “Nunca foi um bom exemplo, mas era gente fina”. Com todo respeito, ela foi, para mim, um maravilhoso exemplo. Gente finíssima! Imensa gratidão!

Rita Lee

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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