Gilney Viana
Política

Em Memória de Manoel da Conceição

Em Memória de Manoel da Conceição

Gilney Viana

Flávio Dino, Manoel da Conceição e Luiz Inácio Lula da Silva

 

Manoel da Conceição, líder camponês,

fez história, conhecida em vida.

História de vida que sintetiza a história da resistência camponesa,

aos latifundiários e grileiros, à ditadura militar e ao agronegócio.

Manoel, o camponês,

em sua simplicidade de ser, de ver e lutar,

antecipou a teoria da autonomia camponesa

diante do capital e do latifúndio,

e da sua potencialidade revolucionária,

para mudar a sociedade, o Brasil, o Mundo.

Manoel fez da Bíblia uma leitura da sociedade

e um instrumento de luta para mudá-la.

Inicialmente fundando escolas para ensinar

o camponês a ler;

e depois acenando-lhes com a utopia

da bem-aventurança na terra.

Encontrou na Igreja Católica, o apoio quando atacado;

a defesa diante da perseguição política,

e o asilo, após ser resgatado dos centros de tortura

da ditadura militar.

Manoel, o líder camponês,

jamais negou sua classe, seu povo, sua luta.

Entendeu o que é inimigo de classe,

ainda em sua juventude, quando vivenciou

a ação da Polícia que assassinou 7 camponeses de Pirapemas

que ousaram desafiar a lei não escrita do latifúndio

que ao camponês não era permitido se organizar

e muito menos lutar pela terra.

Não sem resistência desesperada,

que resultou na morte do tenente e de um soldado.

Seja quando organizou três mil camponeses

no Sindicato camponês de Pindaré Mirim, em 1963,

desestruturado pelos militares golpistas de 1964.

E o reorganizou no pós-golpe, liderando os camponeses

em defesa das suas roças, invadidas pelo gado dos latifundiários,

lançando a palavra de ordem “gado que come roça, come bala”,

seguida da prática.

Ao ato simbólico dos camponeses,

os senhores de terra e de gado responderam

com o ato real da violência ilegítima do Estado.

No dia 13 de julho de 1968, lembra bem Manoel,

a polícia cercou a reunião em que promovia assistência médica

aos camponeses, e deram o grito:

Quem é Manuel da Conceição?

Sou eu – assumiu e se apresentou,

logo atingido pela fuzilaria que lhe custou a perna.

Preso, sem assistência médica, teve que amputá-la.

Quando o governador Sarney tentou lhe cooptar,

ele recusou, mostrando lhe a perna mecânica:

“Minha perna é minha classe”.

Como se não bastasse o aprendizado da vida,

agregou ao ensinamento da Igreja, o ensinamento de

um partido político de esquerda, a Ação Popular. E foi para São Paulo.

Aprendeu e ensinou à Oposição Sindical, em 1968.

Viajou o mundo e se encantou com a China socialista.

Retornou mais uma vez ao Mearim,

agora munido de uma teoria revolucionária

que lhe parecia consistente porque fazia do camponês

um protagonista da história.

A estratégia da guerra revolucionária a partir da base camponesa do Mearim

não resistiu à repressão militar,

mandando-lhe para a prisão e para a tortura

da qual saiu quebrado fisicamente e

inteiro moralmente.

Preservou-se e preservou o sonho do protagonismo camponês,

na revolução socialista.

Mais uma vez a Igreja Católica foi o seu refúgio, o seu asilo.

Em Genebra continuou a luta sob outras formas,

até que retornou ao Brasil, com a anistia política,

para organizar o PT, a CUT, o CENTRU e retomar a luta camponesa,

sob nova conjuntura, sem negar os ensinamentos

das lutas passadas.

Aventurou-se pela política institucional em Pernambuco e

depois se recolheu ao Maranhão, seu território de origem.

Em Imperatriz, estabeleceu sua última base camponesa de resistência,

Até que se apagou a chama da vida

E explodiu a chama da História.

Gilney Viana – Poeta e militante

Gilney Viana

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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