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Cultura da violência Mulher: vítima e culpada?

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Cultura da violência

Mulher: vítima e culpada

Histórias Escritas com Sangue _ Uma análise de processos judiciários de assassinatos de mulheres em Goiânia 1970_1984

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Neide Barros – Historiadora

Renato Dias

 

Assassinato de uma mulher por estar perdido de amor. É o eixo da defesa jurídica de um homem, réu confesso, pela execução. Do crime. Frase imortalizada em inquérito policial sob a guarda do acervo do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás. Em pesquisa realizada publicada em Histórias Escritas com Sangue _ Uma análise de processos judiciários de assassinatos de mulheres em Goiânia 1970_1984. Editora Brasil Publishing. Triste, trágico, porém, necessário.

A autora é Neide Barros. Nascida no Estado do Pará e radicada em Goiânia. Graduada em Direito, pela UniEvangélica, e formada em História. Na Universidade Federal de Goiás [UFG]. Com o título de especialista em História. Área de concentração: gênero. Mestre também em História. É pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas de Gênero. Mais: ela exerce as funções de professora da rede básica de ensino e de ensino superior. No Estado de Goiás.

 

A pesquisa investiga 14 processos criminais em Goiás, que envolviam assassinatos de mulheres, por parte de homens, explica a escritora. O recorte temporal  é do entre 1970 e 1984. O que totaliza dezesseis mulheres vítimas,  revela. De assassinatos e tentativas, conta. O eixo da narrativa masculina traz, para o Tempo Presente, mudanças e permanências, informa. Nos discursos das falas de réus de feminicídio do contemporâneo, atira.

 

_ Os réus justificavam que estavam fora de controle. Enlouquecidos.  Para culpabilizarem as vítimas. Elas sempre eram colocadas como pivôs da ação violenta do homem. 

 

Os discursos eram acatados até pelas instituições jurídicas do Estado, denuncia. Por exemplo, um delegado escreve em seu relatório que o réu tinha assassinado a vítima, pois estava “perdido de amor”, registra. Neide Barros alerta que nenhum dos casos foi a Júri.  Os processos acabaram arquivados.  Sem uma finalização que envolvesse uma ampla defesa jurídica, sublinha. Parte dos criminosos não foi encontrada pelo poder judiciário, lamenta.

 

_ A defesa acessada aparece nos discursos do réu, sob o Inquérito Policial. Como a justifi­cati­va da honra, insanidade, descontrole sob abandono, traição. Linha adotada pelos advogados

 

Desigualdade

O Brasil construiu uma sociedade fundada na desigualdade de gênero, fuzila a autora de Histórias Escritas com Sangue. O homem é educado para cultivar o machismo, reclama. Ao estímulo da violência, analisa a historiadora.  Ele aprende, desde cedo, que pode e deve controlar o corpo feminino, metralha. O que sustenta violências múltiplas, como assédio, estupro, violência doméstica, e em casos mais extremos, o feminicídio observa a professora.

 

_ O Brasil vive, hoje, a ascensão de discursos conservadores que veem a mulher como um ser inferior, que deve ser submetido e até mesmo objetificado. Goiás por ter bases no patriarcalismo rural, no qual historicamente o corpo feminino é submetido ao masculino, reforça o estereótipo do homem hiper – viril, que detém e controla a mulher.

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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