Política

Embaixada do Brasil no Chile era o QG do golpe

E X C L U S I V O

                     1965, 1971,1973

Mais do que os EUA

Embaixada do Brasil no

Chile era o QG do golpe

País é protagonista nos golpes de Estado na República Dominicana, Bolívia, Uruguai e Chile

 

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Infográfico

A escalada dos golpes

 

 

Entrevistas, pesquisas e texto final: Renato Dias

Infográfico e tratamento de imagens: Eric Damasceno

Webdesigner e edição de conteúdo: Lucas Pinheiro

 

Capturado, o que não é sequestro, em 11 de junho de 1970, sob a Copa do Mundo de Futebol, no México, o embaixador da Alemanha no Brasil, Ehrenfried von Holleben, acabou solto. Com a libertação e envio para Argel, a capital da Argélia, de 40 presos políticos. Sob a ditadura civil e mi­litar. No Brasil. Ela havia sido instalada em 1964. O diplomata do Brasil no Chile, des­de 1968, Antônio Cândido da Câmara Canto, com um jornal nas mãos, o mostra a dois ministros.

O periódico traz a fotografia dos revolucionários que estavam trancafiados em pose rumo ao exílio. O embaixador diz que a imagem revela que não há tortura a presos políticos no Brasil. Salvador Allende não tinha sido eleito ainda no país do Cone – Sul. A cena revela Vera Sílvia Magalhães, torturada, em cadeira de rodas, com apenas 37 quilos. Carlos Eduardo Pires Fleury, que tentara, após sessões de violência, o suicídio com um golpe de tesoura. No próprio peito.

Jeová de Assis Gomes, na lista, caíra nas mãos da repressão política e militar, e sofreu fraturas. Ativista ‘gauche’, Daniel Aarão Reis Filho também parou na máquina de moer carne. Ângelo Pezzuti foi cobaia no ensino do terror. Agentes do Estado aplicavam-lhes técnicas de tortura. Os métodos foram importados tanto da França em ‘guerra suja’ contra a Argélia, com Paul Aussaresses, quanto dos Estados Unidos das Américas, com o agente do FBI, Dan Mitrione.

Mais do que Richard Nixon, presidente dos EUA, Republicano, e Henry Kissinger, secretário de Estado. O embaixador do Brasil em Santiago, Antônio Cândido da Câmara Canto, obteve um papel estratégico. Na conspiração, ampliação das redes nacionais e internacionais de apoio, processo de desabastecimento e desestabilização da frágil democracia. Para o golpe de Estado civil e militar, de 11 de setembro de 1973, no Chile, que derrubou o médico Salvador Allende.

Nascido em Montevidéu, capital do Uruguai, em 25 de setembro de 1910, conseguiu nacionali­dade brasileira. Por supostos dispositivos constitucionais. A sua entrada na diplomacia ocorre em 1938. Um ano antes. Da Segunda Guerra Mundial. Cônsul de terceira classe. Nas funções de terceiro-secretário. Em Montevidéu. No Brasil, ocupa, em 1940, a direção interina da Divisão de Material e de secretário da Comissão de Concorrências do Ministério das Relações Exteriores.

Antônio Cândido da Câmara Canto é designado, em março de 1941, vice-cônsul em Rosário, Argentina. Mais: teria sido promovido, em dezembro de 1942, a cônsul de segunda classe. Março de 1943. É transferido para Costa Rica. Cinco anos consecutivos como segundo-secretário.  Além da função de Encarregado de Negócios.  Março de 1948. O regresso ao Brasil. Como auxiliar de gabinete. Do chefe do Departamento Político e Cultural do Itamaraty.

Em 1951. Promoção: a  cônsul de primeira classe. Ele serve como auxiliar de gabinete do se­cre­tário-geral do ministério. De forma interina, em 1952 e 1953, as funções de oficial-de-gabinete do ministro das Relações Exteriores, João Neves da Fontoura. O diplomata exerce em 1954 o cargo de auxiliar de gabinete do chefe do Departamento Político e Cultural e vira ainda minis­tro de segunda classe. Novo endereço: Lisboa, Portugal. Até o ano de 1957. Sob o salazarismo.

É nomeado em setembro de 1957. Para Madri, a capital da Espanha. Da ditadura de Francisco Franco, o ‘generalíssimo’. Um fascista. Como Antônio de Oliveira Salazar. Ele é Encarregado de Negócios. Já em 1960 irá chefiar a delegação do Brasil à primeira sessão da Food and Agricul­ture Organization [FAO — Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura] re­ferente às frutas cítricas. Ano de 1961: assume a chefia da Divisão do Cerimonial do Itamaraty.

Promovido a ministro de primeira classe, instala-se na chefia do Departamento de Admi­nistração do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Em 1968, o ano que não terminou, ele assume a Embaixada do Brasil, no Chile.  Até setembro de 1975. Homem conservador. Da Guerra Fria. Antônio Cândido da Câmara Canto morreu  no Rio de Janeiro. No dia 22 de março de 1977. O diplomata era casado com Maria Élida da Câmara Canto. Com quem teve seis filhos

 

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Infográfico

Imagens dos golpes e seus personagens

Informes confidenciais obtidos pelo Movimento de Justiça de Direitos Humanos, com sede em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, registram reuniões de Richard Nixon, Henry Kissinger, Vernon Walters e Emílio Garrastazu Médici. De 7 a 9 de dezembro de 1971. No Salão Oval. Da Ca­sa Branca. Washington. A capital dos Estados Unidos das Américas. Na pauta, tanto a elei­ção no Uruguai quanto a de Salvador Allende, no Chile. Dois países do Cone – Sul. Da América Latina.

Militares e delegados do Dops do Brasil participavam de supostas conferências bilaterais, atira Jair Krishke, presidente do MJDH. Com o intercâmbio de materiais produzidos em aparelhos de repressão nacionais, diz. Utilizados por seus similares no Cone -Sul. O ‘Dicionário de Termos e Expressões, Nomes e Siglas utilizados pelos Subversivos Terroristas’, elaborado pelo delega­do de polícia Edsel Magnotti, foi encontrado no Archivo del Terror, Assunção – Paraguai, frisa.

_ Uma série de 266 telegramas secretos teriam sido enviados e  recebidos pela Embaixada do Brasil, em Santiago, no Chile, entre os anos de 1973 e 1976.

Memorando da NSA

Já um memorando da Casa Branca liberado pela NSA [National Security Archives] informa que Richard Nixon relata ao primeiro-ministro britânico Edward Heath, em 20 de dezembro de 1971, que o Brasil teria fraudado as eleições no Uruguai. Para impedir a vitória das esquerdas. As eleições foram vencidas pelo Partido Colorado. Por uma diferença mínima. De apenas 12 mil votos. A Justiça Eleitoral teria ignorado até recurso formal que apontava as irregularidades.

Os Tupamaros, guerrilha marxista do Uruguai, com Pepe Mujica como um de seus líderes, cap­tu­ram, ato revolucionário, o que não é um sequestro, tipificado como crime comum,  em 31 de julho de 1970, o diplomata do Brasil no País, Aluysio Dias Mares Gomide. 205 dias de cativeiro. A sua libertação ocorre em 21 de fevereiro de 1971. Daniel Anthony Mitrione, agente do FBI e conselheiro das ditaduras civis e militares da América Latina, é  capturado e morto em 1970.

A ditadura civil e militar no Brasil teria planejado a denominada ‘Operação Trinta Horas’. De in­va­são do Uruguai. Em 1971. O nome seria uma referência à projeção de tempo. Para do­mi­nar o país. É que as eleições poderiam permitir a chegada da Frente Ampla, de es­quer­da, ao Poder.  Filme velho: Jacobo Árbens Guzmán, 1954; Fidel Castro Ruz, 1961; João Bel­chior Mar­ques Gou­lart, 1964; Operação Power Pack, República Dominicana, 1965 e 1966; Uruguai, 27 de junho.

_ De 1973. Golpe de Estado civil e militar. Juan María Bordaberry assume o poder. Absoluto. O Congresso Nacional é fechado. Censura à imprensa. Dura repressão aos Tupamaros.

De 1969 a 15 de março de 1974, o presidente da República do Brasil era Emílio Garrastazu Médici. Gaúcho, torcedor do Flamengo e do Grêmio, de Porto Alegre. Ele adorava um radinho de pilha. Para ouvir narrações esportivas. O homem jogava biriba. Em horário de ex­pe­­diente. Assim como deflagrou uma violenta repressão. Para liquidar. Com a esquerda em armas. Sob o impacto do Milagre Econômico, a sua aprovação popular chegou ao patamar de 82% _ Ibope.

Richard Nixon, Henry Kissinger, Vernon Walters, Emílio Garrastazu Médici participam de longas e exaustivas reuniões, anotam dossiês desclassificados, conta Jair Krishke. Para definir a partici­­pação do Brasil. Com Exército, Marinha, Aeronáutica, Serviço Nacional de Informações e Ciex [Centro de Informações do Exterior], que funcionava no Itamaraty, no Quarto Andar, desde 1966. Em um golpe de Estado civil e militar. Para acabar com socialismo democrático.

_ No Chile.

Sob a pressão do Escândalo de Watergate, acossado pelo The Washington Post, Richard Nixon pontua a Emílio Garrastazu Médici que o Brasil, por sua situação geográfica e cultural, teria facilidade de acesso aos militares do Chile. Mais: o Brasil queria ser o País hegemônico na região. Sem fronteiras geográficas. A ideia era acabar com as fronteiras ideológicas. Tempos Sombrios. Guerra Fria. Salvador Allende e Fidel Castro estavam sob o guarda-chuva da URSS.

Fitas cassetes

Fitas cassetes, sob a guarda do National Security Archives, apontam as participações do Brasil e dos EUA na manipulação das eleições do Uruguai e no golpe deflagrado em junho do ano de 1973, narra. História: o Chile deu amparo, sob Salvador Allende, a cinco mil exilados brasilei­ros. Homens, mulheres e crianças que fugiam da repressão política e militar. Arapongas do SNI e Ciex monitoravam os rotulados ‘subversivos’. Acusados pelo Estado Nacional de ‘terroristas’

As iniciativas eram mais brasileiras do que norte-americanas. O Brasil nunca quis, porém, dei­xar impressões digitais. A internacionalização das operações da ditadura civil e militar inicia-se, na República Dominicana, em 1965 e 1966. Com o envio de tropas e a instalação de uma dita­dura. Em 1966 manda espiões à Europa e Uruguai. Para vigiar exilados e as passagens à URSS, Leste Europeu e Cuba. Como o dossiê de Carlos Marighella feito pelo Ciex. Pós-OLAS, em 1967.

O Brasil deslocou oficiais treinados à sua embaixada no País do Cone – Sul. Para conspirações e treinamentos, frisa. Antônio Cândido da Câmara Canto articula. Com embaixadores de países da Amé­rica Latina e do Norte. A embaixada do Brasil no Chile estava instalada ao lado do Clube Militar. Se o golpe fracassasse, bastaria subir uma escada e pular à Embaixada do Brasil. Com a autorização oficial. Antônio Cândido da Câmara Canto seria o quinto homem da Junta Militar.

_ Ganhamos!

Com essa palavra, Antônio Cândido da Câmara Canto comemora a excelência do golpe de Esta­do civil e militar de 11 de setembro de 1973. Com o bombardeio do Palácio de La Mo­ne­da. Salvador Allende não se rende e morre. A perícia, depois, registraria como suicídio. Há contro­vér­sia. Artigo veiculado em ‘La Tercera’, em 3 de agosto de 2003, narra “A ajuda secreta dos mi­litares brasileiros”. O embaixador era rotulado como o ‘[…] quinto homem da junta [militar]’

Exército, Marinha, Aeronáutica e Carabineiros. O 5º nome seria o homem forte da Embai­xa­da do Brasil, em Santiago. Agentes do SNI, fundado por Golbery do Couto e Silva, ajudaram a criar a DINA. Controlada por Manuel Contreras. Chefe do SNI, João Baptista de Oliveira Fi­guei­redo possuía trânsito tanto com a Turma da Sorbonne, Humberto Castello Branco e Gol­be­ry do Couto e Silva, quanto com a linha-dura, Arthur da Costa e Silva e Emílio Garrastazu Médici.

A Operação Condor, uma espécie de consórcio das ditaduras civis e militares do Cone Sul para eli­minação de opositores nasceu no Brasil, garante Jair Krischke. Já em 1970. Com novas ope­rações em 1971. A associação dos aparelhos policiais de Estado do Brasil, Argentina, Chile, U­ru­guai, Paraguai e Bolívia é celebrada em Santiago, em 1975, explica. Como aponta docu­men­to exclusivo do Movimento de Justiça e Direitos Humanos. Sem a assinatura do Brasil, ele alerta.

_ O ditador do Chile Augusto José Ramón Pinochet Ugarte determinou o uso de Toxina Botulínica, Gás Sarín e Talio. Em 38 mil presos, torturados, desaparecidos forçados.

                                                                                                                                                   

R$ 1,3 bi

Documentos do MJDH revelam que o Brasil contribuiu também com suporte financeiro de US$ 115 milhões [os valores atualizados corresponderiam a R$ 1,3 bilhão] à ditadura do Chile, pós-golpe de 11 de setembro de 1973. Recursos enviados em três parcelas. Para equipamentos militares, açúcar, ônibus, caminhões. Um pedido de Augusto José Ramón Pinochet Ugarte. Sob Ernesto Geisel, o Brasil se tornou, em 1976, o maior comprador externo de cobre do Chile.

O Brasil executava operações de captura de indesejados no Exterior. A primeira ocorreu em 1970. Buenos Aires, a capital mais charmosa da América Latina. Com o sequestro, em solo estrangeiro, do coronel Jefferson Cardim Osório. O comandante da ‘Guerrilha de  Três  Passos’. No Rio Grande do Sul. Movimento derrotado em 1965. Sob a fúria de Olímpio Mourão Filho. A ‘Vaca Fardada’ , o mesmo que saiu de Juiz de Fora, Minas Gerais, no dia 31 de março de 1964.

_ Além de ter participado na criação da Ditadura Estado Novo, em 1937.

11 de dezembro de 1970

Relatórios mostram monitoramento de Jefferson Cardim Osório, seu filho, Jefferson Cardim, e um sobrinho uruguaio, Eduardo Lopetegui. “Os três saíram em um Aero Wyllis vermelho, de Colônia rumo a Buenos Aires. Registro: em um ferry boat”. Os três são presos no porto de Buenos Aires. Capturados e levados para o Aeroporto do Galeão. Rio de Janeiro. Brasil. O avião usado era do então ministro do Trabalho, Júlio Barata. O coronel ficou preso anos e anos.

A segunda, 16 de junho de 1971. Edmur Péricles Camargo, a vítima. O revolucionário viajava de San­tiago a Buenos Aires. Com destino final em Montevidéu. Para encontrar-se com exilados brasi­lei­ros. O comunista do PCB levava uma carta a João Belchior Marques Goulart. Operação os­tensiva. É retirado do avião. Com registros até no Diário de Bordo. É levado à força ao Bra­sil. O dissidente político é torturado e executado extrajudicialmente. Desaparecimento forçado.

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Golpe na Bolívia

A América Latina já havia sido palco de golpes de Estado. Civis e militares. Como a derrubada de Jacobo Árbens Gúzmán, em 1954, na Guatemala. Brasil, em 1964, com a queda do nacional-estatista, em sua versão trabalhista, gaúcho de São Borja, João Belchior Marques Goulart. Com a participação civil e militar do Brasil, cai a República Dominicana, em 1965 e 1966. O Paraguai vivia sob o poder absoluto do pedófilo e dono de um harém, o ditador Alfredo Stroessner.

Com o auxílio dos órgãos de informação e repressão dos EUA, a Bolívia liquidara a guerrilha de Ernesto Guevara de La Serna, Che, em 9 de outubro de 1967. O Mé­xi­co fuzilara estudantes em 2 de outubro de 1968. No Massacre de Tlatelolco. No mes­mo dia da Batalha da Ma­ria Antônia, São Paulo, Brasil, com a morte de José Guimarães, secundarista. Anastazio Somoza Debay­le per­ma­neceria até 19 de julho de 1979 no Governo Federal da Nicarágua. Na América Central.

General, Hugo Banzer deflagrou um golpe de Estado civil e militar na Bolívia. Em 21 de agosto de 1971, ele depôs  Juan José Torres e instalou uma ditadura. Baniu os partidos de oposição. Mais: ob­teve o suporte dos Estados Unidos[EUA], do Brasil e depois de 1973, do Chile. Por se­te anos consecutivos foi o ‘senhor absoluto’. Com a alta nos preços das exportações de bar­ris de petróleo pós-crise mundial de 1973, além de estanho e com empréstimos internacionais.

_ O que elevou a dívida externa da Bolívia a valores estratosféricos.

Saiba mais

O que os historiadores pensam?

 

 

Os EUA executaram intervenção direta em assuntos internos do Chile, admite o historiador Daniel Aarão Reis Filho [UFF]. Houve, porém, contradições  no aparelho de Estado americano, aponta. O embaixador dos EUA, em Santiago, mantém reservas em relação ao plano golpista pontua. Não devemos imaginar que a decisão de intervenção da Casa Branca deu o rumo do futuro, diz. No Chile, as forças reacionárias se articularam e a esquerda não se preparou, frisa.

Doutor em Educação, Fernando Casadei Salles diz que desde a eleição do médico, ex-se­na­dor, de linhagem marxista Salvador Allende, em 4 de setembro de 1970, ao Palácio de La Moneda, Brasil e EUA te­riam duas justificativas. A primeira, de evitar uma nova Cuba, no Cone-Sul, na América Latina, atira o pesquisador. Ex-preso político, torturado, sob a ditadura civil e militar no Brasil. A segunda, seria geoestratégica. Salvador Allende era o único não – alinhado.

_ Aos EUA, em 1973.

Os EUA, com a Operação Brother Sam, mobilizaram seu potencial bélico, o que explica a au­sên­cia de resistência do presidente da República, no Brasil, herdeiro de Getúlio Vargas, João Goulart, o que ocorreu no Chile, em 11 de setembro de 1973, afirma o historiador, do Estado do Tocantins, com estudos em Cuba, Paulo Henrique Costa Mattos. Os documentos desclas­sificados e abertos à consulta apenas desnudam o que já se sabia sobre Richard Nixon, atira.

Doutor da Faculdade de História, da Universidade Federal de Goiás, David Maciel analisa que a desestabilização de Salvador Allende iniciou-se antes de sua posse. Os documentos apenas comprovam, metralha. Os EUA têm um compromisso instrumental com a democracia, lamenta. Derrubam governos eleitos, desabafa. “Como o Brasil, em 1964, o Chile, em 11 de setembro de 1973, e o Brasil, mais uma vez, no ano de 2016, com a queda de Dilma Rousseff.”

Krumaré Zacariotti, radicado hoje no Estado do Tocantins, possuía nove anos de idade sob o Chile conflitivo. Ainda garoto, ele acompanhou os comícios e a eleição de Salvador Allende, socialista, relata. As direitas escondiam mercadorias e desestabilizaram a economia nacional, registra. As classes médias ficaram descontentes, avalia. Os caminhoneiros deflagraram greves, metralha. Conglomerados de Comunicação atacavam. Os EUA atuaram. Tempestade perfeita.

_ O 11 de setembro do Cone-Sul.

Os EUA destruíram a democracia e instalaram a ditadura de 17 anos do general Augus­to José Ramón Pinochet Ugarte, de 1973 a 1990, narra o ex – preso político e operador do Direito, Cristiano Rodrigues. Um membro da Associação dos Anistiados Políticos do Estado de Goiás, a Anigo. Salvador Allende elegeu-se em 1970, sofreu represálias e caiu, com o bombardeio e invasão do Palácio de La Moneda, em 11 de setembro de 1973, narra. “Chove sobre Santiago.”

Professor de Física, ex – membro do Molipo, preso político sob a ditadura civil e militar, por anos, André Tsutomu Otta avalia que a deposição de 11 de setembro de 1973, no Chile, é a có­pia dos golpes de Estado, civis e militares, que a humanidade, que classifica como civilização oci­dental e cristã, já testemunhou. O Molipo foi uma dissidência da Ação Libertadora Nacional, fundada em Cuba, e que teve 20 membros executados, 10 exilados e três sobreviventes.

A escritora Betty Almeida, autora de obra seminal sobre a vida do desaparecido político Ho­nes­tino Monteiro Guimarães, ex-presidente da UNE, a União Nacional dos Estudantes, desa­parecido político desde outubro do ano de 1973, sem entrega de seus restos mortais, informa que a luta de classes internacional tem uma escalada com a consolidação da Revolução Russa de 25 de outubro ou 7 de novembro de  1917; a Revolução na China, em 1949; e Cuba, 1959.

A pesquisadora analisa que a segunda metade do século XX teria sido palco de sucessivos golpes civis e militares contra Estados Democráticos de Direito. EUA e Reino Unido, com a Operação Ajax ou Golpe Mordad 28, em 1953, derrubam Mohammed Mossadegh, primeiro-ministro do Irã, fonte de petróleo em abundância, em 19 de agosto de 1953, relata. Jacobo Árbens Gúzmán, 1954, Guatemala. Invasão, em 1961, da Playa de Girón, em Cuba. Socialista.

O Brasil aparece na lista de Betty Almeida, em 31 de março, 1º e 2 de abril de 1964. Em 22 de fevereiro de 1967, golpe na Indonésia. Com Haji Mohammad Suharto. Um banho de sangue havia liquidado comunistas. Em 1965. Fontes apontam um número de 500 mil pessoas. Uruguai, 1973. Chile, 1973. Argentina, 1976. Bolívia, 1978. Granada, 1983. Sob novos forma­tos, Honduras, 2009, Paraguai, 2012, Brasil, 2016, e Bolívia, em 10 de novembro de 2019, pontua.

Sílvio Costa, doutor em Sociologia da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, lamenta o tempo de 50 anos exigidos para a desclassificação de documentos dos EUA em relação às suas participações em golpes de Estado civis e militares. Três anos de conspiração, em Santiago, destaca. Desde a eleição, em 1970. Salvador Allende foi eleito pela via democrática, fuzila. Até 11 de setembro de 1973, metralha. O golpe de 1964 teve os dedos dos EUA também, dispara.

_ 50 anos para registrar o que é de domínio público. A novidade é o registro. Os documentos. De Estado. Dos EUA.

Historiador graduado na UEG e jornalista formado na Alfa, o especialista em Geopolítica Mun­dial, estratégia militar e Contemporaneidade, Frederico Victor de Oliveira crê que os docu­men­­tos revelados pela NSA apenas confirmam o que a historiografia já registrava. Os EUA, sob a Guerra Fria, desestabilizavam economias, fragilizavam Estados de Direito, com golpes civis e mi­li­tares,e mantêm ainda intervenção no Cone-Sul, região com baixo déficit de democracia, diz

_ Como as tentativas e golpes contra Hugo Chávez e Nicolás Maduro, Manuel Zelaya, Fernando Lugo e Dilma Rousseff. Desde a Doutrina Monroe, os EUA operam no mundo.

Podcasts

David Maciel

Professor da Faculdade de História da UFG

Goiânia – Goiás

Sílvio Costa

Professor de Ciências Políticas da PUC

Goiânia – Goiás

Frederico Victor de Oliveira

Historiador e jornalista

De Iporá – Goiás

 Paulo Henrique Costa Mattos

Graduado e mestre em História

Professor da Universidade de Gurupi – Tocantins

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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