Etanol e economia verde no Brasil
Etanol e economia verde no Brasil
Fernando Safatle
O governo emitiu nessa quarta medida provisória que autoriza aos produtores de etanol vender direto aos postos de combustíveis sem a intermediação das distribuidoras. Com isso, corta-se o passeio do etanol do produtor às distribuidoras e das distribuidoras aos postos de combustíveis, eliminando os custos desnecessários do frete e da intermediação. Ê um passo importante para reorganizar a cadeia produtiva do etanol, mas não suficiente.
Vejamos porquê. O sistema vigente moldou um processo altamente concentrado na produção do etanol em todos os níveis. A atual produção de etanol está concentrada em apenas 350 grandes usinas e concentrada regionalmente em mais de 60% da produção no Estado de São Paulo. O restante se distribui 12% em Goiás, além do Paraná e assim como estados do Nordeste. A venda direta do etanol aos postos de combustíveis somente beneficiará aos consumidores desses estados que estão nas proximidades das grandes usinas.
A grande maioria dos consumidores que ficam equidistantes continuam a pagar o frete do passeio do etanol. Para que a grande maioria da população se beneficie é necessário realizar um amplo programa de incentivo e fomento da produção do etanol em escala nacional. De modo a permitir a produção de micro, pequenas e médias destilarias, alijadas que foram da sua produção todos esses anos. Sendo assim, na medida em que se incremente e democratize sua produção levando a praticamente a todos os municípios através das micros, pequenas e médias destilarias os consumidores como um todo poderão se beneficiar.
Não apenas os efeitos multiplicadores se farão presentes na economia nacional, fortalecendo as economias locais e regionais, na medida em que geram emprego e renda. Se fizer um programa de 1 milhão de micro e pequenas e médias destilarias poderá se gerar no mínimo 2 milhões de novos empregos diretos, além dos outros milhares através da produção de moedas e outros equipamentos necessários à sua produção, uma tecnologia de total domínio nacional. Ainda, ao produtor rural pode utilizar todo o subproduto da cana, como bagaço e vinhoto para o trato do gado. Um programa amplo de autossuficiência energética, pois o produtor produz seu próprio combustível e vende ao posto o excedente.
Assim, cada produtor teria potencialmente um poço de petróleo debaixo de seus pés, melhor, produzindo anualmente energia limpa e renovável. O país ganharia um poder energético extraordinário. Emergeria como uma potência na produção de energia limpa e renovável, se inserindo na geopolítica mundial com renovada e robusta força. Não foi por acaso que na década de 80 pressionaram para acabar com o Proálcool. Era a maneira que os EUA seguraram o Brasil, não deixando deslanchar na produção de energia limpa e renovável até que eles desenvolvessem uma tecnologia própria, através da produção do etanol com o milho. Assim o fizeram e produzem hoje mais etanol do que o Brasil.
Cabe a nós dar um passo mais a frente incentivando e fomentando a criação de 1 milhão de micros, pequenas e médias destilarias para emergir como potência energética e reconfigurar a economia nacional desconcentrando sua produção regionalmente e produzindo um efeito multiplicador para frente e para trás na economia. Assim, as micros, pequenas e médias destilarias poderiam fornecer para o mercado interno e as grandes usinas abastecer o mercado internacional, demandante de uma produção do etanol.