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Acerto de contas com o passado

Trotski é reabilitado

Novo filme de Nanni Moretti

Renato Dias 

A estátua de Josep Stálin [1878-1953], velho ditador da URSS, na Praça dos Heróis, é derrubada em uma revolta popular na noite de 23 de outubro de 1953, em Budapeste.

As tropas do Pacto de Varsóvia, um dos símbolos da Guerra Fria [1945-1991], invadem a Hungria, fuzilam dissidentes e estabelecem a sórdida paz dos cemitérios.

Um acerto de contas com o passado. Além da elegia ao cinema de arte. É o que Nanni Moretti celebra em “O melhor está por vir.” O título original é “O Sol do Amanhã.”

Com tinturas autobiográficas, o diretor põe o dedo em riste na amnésia social, que tenta apagar da memória que o PCI da Itália teve dois milhões de filiados. “Comunistas.”

Mais: a repulsa ao bigodudo Josep Stálin [1878-1953] é visceral. Veja: a homofobia do velho dirigente do PCI na comuna no interior da Itália também é exposta à execração.

O realizador de 70 anos Nanni Moretti faz um exercício de metalinguagem. Com a produção de um filme dentro do filme e com um festival de referências históricas.

Ele traz uma crítica ácida à Netflix, empresa que está presente em 190 dos 195 países ligados à Organização das Nações Unidas [ONU], e às suas regras para o cinema, hoje.

O filme aborda o mal-estar na Sétima Arte, ataca a banalização da violência no cinema e em um drama recorre ao humor refinado. Um recorte autoral premiado em Cannes.

Giovanni, interpretado pelo próprio Nanni Moretti, é o alter ego do cineasta. O seu nome real é Giovanni Moretti. Em revista às suas ideias do passado e do presente.

Uma ruptura com o passado stalinista. Além da adoção de heresias políticas. À época da guerra fria, de polarização entre capitalismo e socialismo. Assim como o novo e o velho

Mais: o inventivo diretor opta a referências por atacado à produção cinematográfica mundial do século XX, como Apocalipse Now, dirigido por Francis Ford Coppola [EUA].

Cena final

Nascido em Yanokva, em 7 de novembro de 1879, líder da insurreição do dia 25 de outubro de 1917, na Rússia, Liev Davidovich Bronstein, Trotski é reabilitado à história.

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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