História

Basta!

O fascismo, no Brasil, é anterior a Jair Messias Bolsonaro. Ele o gerou. Arrefece, mas não desaparece

Valterli Guedes

Renato Dias 

Abolicionista, Abraham Lincoln [EUA] foi morto a tiros por um escravocrata, em 14 de abril de 1865. Dallas, Texas, 22 de novembro de 1963, John Fitzgerald Kennedy, depois de impedir a terceira guerra mundial, na crise dos mísseis, é assassinado. Arquiteto do Welfare State na Suécia, Olaf Palmer morreu à saída do cinema: 28 de fevereiro de 1986.

Fascismo não perdoa, ataca, fuzila Márcia Tiburi, filósofa. Veja: os ataques aos Estado Democrático de Direito, aos Três Poderes da República, não acabaram com a derrota política do golpe de Estado civil e militar no Brasil de 8 de janeiro de 2023, em Brasília [DF]. É o que diagnostica o pesquisador do árido tema João Cézar de Castro Rocha.

Calúnia, injúria, difamação, agressão física e mesmo uma suposta participação em atos antidemocráticos. É a tipificação dos crimes dos acusados de atacarem o presidente do TSE e ministro do Supremo Tribunal Federal [STF] Alexandre de Moraes e sua família. Os crimes ocorreram na Itália. Local: Aeroporto internacional de Roma. Por brasileiros.

Graduado em Direito na UFG, especialista em Direito Público, na UniAnhanguera, o advogado Gustavo Alves de Oliveira, com 30 de carreira, frisa que a pena de calúnia é de seis meses a dois anos de detenção, além de multa. Agressão, três meses a um ano e multa, vê. Difamação, detenção de três meses a um ano e multa, ele examina.

O operador do Direito informa ao Portal de Notícias www.renatodias.online que o crime de injúria é correspondente à uma ofensa à honra, à dignidade ou ao decoro e prevê uma pena de um até seis meses de detenção. Assim como uma multa a ser definida, atira. A detenção pode começar o cumprimento da pena em regime aberto ou semiaberto.

Fascistas não avisam com antecedência de seus ataques vis, já que dissimulam-os. É o que reitera o professor doutor em Filosofia, Wilame Borges. Ação mascarada investida de eficácia, complementa. Mais: duradouro, incômodo, que atinge a sociedade, resume. Calamidade social, alfineta. O 8 de janeiro de 2023 não acabou, insiste o intelectual.

O Brasil precisa, sim, olhar com atenção estratégica aos passos da direita no País, observa Fernando Casadei Salles, professor doutor em Educação aposentado, hoje, da Universidade de Sorocaba [Uniso-SP]. Apesar de que, na História, não foram os adeptos de Jair Messias Bolsonaro [PL] que criaram o monstro, registra o docente.

O fascismo tem bases materiais, políticas e institucionais, relata David Maciel. Professor doutor em História da UFG, ele aponta ainda presença da referida ideologia em frações do empresariado, classes médias e em uma miríade de atores de extrema direita nas Forças Armadas, PMs, PCs, MP, Judiciário, Congresso Nacional e nos governos municipais e estaduais.

O neofascismo está vivo e não se encerra em 8 de janeiro de 2023, avalia o professor Paulo Henrique Costa Mattos, de História e Sociologia, da Universidade de Gurupi [TO]. Reinaldo Azevedo sublinha que as ideias e o legado do capitão Jair Messias Bolsonaro constituem uma sentença de morte para o Brasil no limiar do século 21, metralha.

O protagonismo político e midiático das cúpulas hierárquicas das Forças Armadas produziu 8 de janeiro de 2023, analisa o jornalista colaborador do UOL, Folha de S. Paulo, Opera Mundi, Eduardo Reina. Não como um golpe de Estado civil e militar clássico, destaca. O pesquisador é autor do instigante livro “Cativeiro Sem Fim”.

O estudioso relata ser indispensável lembrar que oficiais formados na AMAN nos anos de 1970 e 1980, de forma massiva, organizada, foram os mentores e os cabos eleitorais da chapa presidencial 2018 encabeçada por Jair Messias Bolsonaro e Olímpio Mourão. “Braga Netto, formado na turma de 1978 da AMAN, exerce influência no núcleo de poder”, recorda-se.

O dia 8 de janeiro de 2023 não acabou, nem é o início, muito menos o fim das ameaças ao Estado de Direito, afirma o advogado Fernando Dolci. Bertold Brecht lembra que a cadela do fascismo está sempre no cio, recorda-se. O Brasil vive sob tensão desde 1889 com o papel das Forças Armadas, que invoca o direito de poder moderador, frisa.

A ex-deputada estadual e ex-presidente do PC do B em Goiás Isaura Lemos detecta a polarização política e ideológica, a luta de classes, e o racismo estrutural, a misoginia, a homofobia como elementos motivadores da violência no Brasil, de 2013 a 2023. O Brasil corre perigo, admite. É necessário frear abusos e valores medievais, crê.

Karl Marx

Marxista em sua linhagem trotskista, o professor de História Fred Frazão observa que Jair Messias Bolsonaro perdeu as eleições, saiu derrotado em 8 de janeiro de 2023 e tornou-se inelegível. O Estado de Direito está sob ameaça, acredita. Para garantir as suas taxas de lucros, o capital recorre sempre ao fascismo, ele conceitua.

País com uma Justiça de Transição tardia e incompleta da ditadura civil e militar para a democracia formal, o Brasil vive à sombra do fantasma de um golpe de Estado, sob a tutela das Forças Armadas e ameaça permanente às instituições, reflete o digital influencer do Espírito Santo Francisco Celso Calmon. Um ativista dos direitos humanos.

Sociólogo e Youtuber de São José dos Campos [SP], Guilherme Soares desabafa que apenas na e pela luta de classes será possível derrotar a extrema direita. Uma força política e social que destrói os direitos históricos dos trabalhadores e avança hoje contra o Estado de Direito, dispara. É a unidade nas ruas para golpear o fascismo, fuzila.

Um intelectual orgânico dos trabalhadores, Itamar Borges admite, hoje, que o Estado Democrático de Direito, no Brasil, definido pela Constituição de 1988, continua sob ameaça. Uma réplica civil ou militar de Jair Messias Bolsonaro é reconstruível até 2026, crê. Só não está agora sob perigo e risco iminente como outubro e dezembro de 2022, afirma.

Violento, o dia 8 de janeiro de 2023 acabou, um crime impossível, um golpe, natimorto desde a sua concepção, testemunha. Veja: ele tinha de ser tentado e falhado. Motivo: para acalentar também a abstinência da extrema direita já no novo governo, avalia. O fascismo ainda continua, desabafa. É uma certeza e um juízo estético, conta o ‘enragé’.

O ataque a Alexandre de Moraes, em Roma, na Itália, é um sintoma de que, hoje, bolsões radicais da extrema direita conspiram contra os Três Poderes da República, mesmo após a derrota de 30 de outubro, o fracasso de 8 de janeiro de 2023 e a inelegibilidade de Jair Messias Bolsonaro. A observação, ácida, é do jornalista Frederico Vitor de Oliveira.

O fascismo dos seus adeptos veio, sim, para ficar, confirma ao site o escritor e Youtuber Henrique Pizzolato. Ele aponta uma conexão internacional hoje da extrema direita. Não creio em um velho golpe de Estado civil e militar clássico, explica. É que a História nos mostra que a democracia no pais é frágil, diz. Os Três Poderes devem estar vigilantes, anuncia.

Carlos Ugo Santander, peruano, professor doutor de Sociologia

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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