Até quando?
Renato Dias
Preso na porta de sua casa, na favela da Rocinha, acabou levado à uma Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP. Veja: depois, é submetido a 40 minutos de torturas. Com choques eléctricos pelo corpo, saco plástico em sua cabeça para sufoca – lo. Métodos comuns à época da ditadura civil e militar no Brasil. Heranças de Dan Mitrionne [EUA] e Paul Aussaresses [França]. Morto em 14 de julho de 2013, o seu corpo inerte nunca foi entregue à viúva, seis filhos. Para o ritual do luto. Sem corpo, não há rito de passagem.
É. Cadê o Amarildo, pergunta até hoje, após dez anos, o cantor e compositor Caetano Veloso. Pedreiro que compõe o mosaico de vítimas com a Carteira de Identidade, o CPF, o comprovante de endereço, da violência do Estado. Doze policiais foram condenados. O Superior Tribunal de Justiça sentenciou o pagamento de uma indenização de R$ 500 mil e de dois salários mínimos por mês. Os atingidos, invisíveis, nunca viram a cor do dinheiro. Além de conviverem com a dor e o trauma da fragilidade da vida nas favelas.
Amarildo Dias de Souza é dos mortos que se recusa a morrer, diz o professor doutor da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, em Goiânia, Flávio Sofiati. Para mostrar que é desumanizadora a sociedade atual, explica. Não esquecer o seu martírio estratégia de resistência à opressão do Estado e do capital, analisa. A sua memória exige pensar uma nova sociedade, observa. Em alusão a Walter Benjamin, que se suicidou em 1940. Em trágica fuga contra o nazismo na Europa
O historiador David Maciel defende o fim da violência estatal, assim como também da manutenção da cultura da impunidade. Nas 26 unidades da Federação e até no Distrito Federal. Relembrar o desaparecimento de Amarildo Dias de Souza é fundamental, hoje, dispara o professor doutor da Faculdade de História da UFG. Veja. Não somente para a punição, registra. É preciso acabar já com os crimes promovidos contra a vida pelo e em nome do Estado, no Brasil. É o que desabafa o pesquisador do Tempo Presente.
Desaparecimentos ocorrem no dia a dia no Brasil, revela Fernando Casadei Salles. Os que morrem sao negros, pardos, pobres e periféricos, destaca. O episódio de Amarildo Dias de Souza fugiu do controle do Estado e obteve uma repercussão mundial, aponta. Milhares de casos começam com prisões e ficam sem registros nem corpo, aborda o professor doutor em Educação da Uniso-SP. O desaparecimento foi usado como tática de guerra sob a ditadura, fuzila. A morte encerra o ciclo, desaparecimento, não, crê.
O projeto de Segurança Pública no Rio de Janeiro e no Brasil fracassou, insiste Fred Frazão. Professor de História, adepto das ideias de Karl Marx e de Leon Trotski. A desmilitarização da Polícia Militar pode ser uma alternativa, recomenda. Câmeras e áudios modernos impediriam os abusos de autoridade e a incidência da violência do Estado, acredita o intelectual. A mobilização da sociedade civil para a elucidação das mortes de Amarildo Dias de Souza e de Marielle Franco devem ser permanentes, diz.
Já Frederico Vitor de Oliveira, um pensador marxista, graduado em Jornalismo e em História, quer ainda em 2023 o fim da Polícia Militar. Trata-se de um “entulho da ditadura civil e militar”, reitera. A PM não pode mais continuar como uma máquina voraz de moer carne humana, lamenta. De negros, pobres, favelados, moradores em situação de rua, examina o especialista em Geopolítica, na Cultura de Guerra e armamentos. Unificação das polícias, desmilitarização, mudança de doutrina e valores de direitos humanos, diz.
Cineasta premiado, Ângelo Lima afirma que o Brasil exige hoje a elucidação e relembrar o assassinato do pedreiro Amarildo Dias de Souza, em uma UPP, em 14 de julho de 2013, há dez anos, por homens que deveriam sim cuidar de sua segurança, já que são pagos com recursos do erário para executarem a missão cidadã e não a de anunciar a morte na minúcia das sombras. Não custa lembrar: os seus restos mortais, os despojos, nunca foram entregues aos seus entes queridos. Como no Estado Novo e anos de chumbo.
Com uma Justiça de Transição tardia e incompleta, da ditadura civil e militar para a Nova República, o Brasil não cultiva ainda os valores universais de Memória, Verdade e Justiça. É o que interpreta ao Portal de Notícias www.renatodias.online Henrique Pizzolato, alvo de Lawfare, de 2005 a 2023. O Estado deve executar Políticas Públicas para preserva-los, relata. Talvez seja o motivo para a repetição dos erros do passado, ele faz um exercício de reflexão. Um passo à frente e dois para trás, critica.
Cineasta Ângelo Lima
David Maciel, professor doutor de História da UFG
Frederico Vitor de Oliveira, historiador e jornalista
Fernando Casadei Salles, professor doutor de Educação da Universidade de Sorocaba [SP]