Márcio Santilli
Política

Evangelho da corrupção

Milton Ribeiro

Evangelho da corrupção

Márcio Santilli

Especial para o

Portal de Notícias

www.renatodias.online

Já estourou o esquema de corrupção que se apropria do Fundo Nacional de Educação [FNDE] para enriquecer supostos pastores evangélicos que recebem gordas propinas para liberar recursos para as prefeituras. A quadrilha envolveu o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro que está sob investigação no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), gestores do FNDE indicados pelo Partido Progressista [PP]. Além dos “pastores” Gilmar Silva dos Santos, presidente da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil [CGADB], e Arilton Moura, assessor de Assuntos Políticos da CGADB. Eles não têm cargos no MEC, mas participavam, com frequência, das agendas de Milton Ribeiro. O que levou à sua queda.

Edir Macedo

Não é o primeiro escândalo que envolve relações entre supostos evangélicos e Jair Bolsonaro. A Igreja Universal do Reino de Deus, liderada pelo bispo brasileiro Edir Macedo, levou ilegalmente de Angola para a África do Sul, a cada três meses, US$ 30 milhões, segundo denúncias de bispos angolanos às autoridades do país. Os valores chegam a US$ 120 milhões por ano. O pastor e ex-diretor da TV Record África, Fernando Henriques Teixeira, é o responsável direto pelos desvios nos últimos 11 anos. A Igreja Universal, que domina o Republicanos [partido da base de sustentação de Jair Bolsonaro], tentou impor o nome de Marcelo Crivela, genro de Edir Macedo, como embaixador do Brasil em Angola. A indicação foi rechaçada pelo governo angolano.

Marcelo Crivela

 

O  reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente “mundial” da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários [SENAH], protagonista de uma tentativa de intermediar a venda superfaturada de vacinas da Astrazeneca junto ao Ministério da Saúde, em conluio com a Davati Medical Supply, em plena pandemia. Ele contou com o apoio da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, na “obra” frustrada após denúncia do deputado federal Luís Miranda [DEM-DF] à CPI da COVID, no Senado Federal. Antes de mais nada, é preciso dizer que não se trata, aqui, dos evangélicos, nem das igrejas em geral. Mas daqueles que se tornaram ricos e poderosos manipulando a boa-fé dos que creem no Evangelho. Dos que roubam dinheiro público por emendas secretas da bancada evangélica. Dos que falam de Deus para servir ao demônio. O Evangelho de São Mateus diz: “Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos. Pode alguém colher uvas de um espinheiro ou figos de ervas daninhas? ”

Silas Malafaia e Jair Messias Bolsonaro

Talvez seja este o caso do pastor Silas Malafaia, presidente da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que mantém destacada atuação política. Porém, o seu discurso é de ódio e de agressões chulas disparadas contra pessoas que ele julga pecaminosas. O seu Deus está expressamente ligado a uma “teologia da prosperidade”, na qual é pródigo e já acumula uma fortuna pessoal de mais de 150 milhões de dólares. Questionado sobre o esquema evangélico no MEC, Malafaia, com vergonha, disse que a defesa do ministro é fraca e pediu a quebra do sigilo dos pastores envolvidos. Pastores e igrejas que traem os ensinamentos de Cristo não são dignos dos verdadeiros evangélicos. Transformam o dízimo em um saque diabólico. Também se lê em Mateus: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou dedicar-se-á a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza”. Esse é o caso dos Arilsons, dos Edires, dos Crivelas, dos Amiltons e de parasitas de má-fé.

Grupos cristãos têm reagido à corrupção e à coligação desses pastores com o governo. Um manifesto da Coalizão Evangélica contra Jair Messias Bolsonaro afirma: “O bolsonarismo cria uma religiosidade mentirosa que nada tem a ver com o verdadeiro Evangelho, causando perversão e idolatria cega, além de uma ignorância negacionista, tanto da ciência como dos ensinamentos libertadores e verdadeiros de Jesus Cristo”. Por tudo isso, na opinião de Ariovaldo Ramos, a credibilidade de Jair Bolsonaro entre os cristãos, e não apenas os evangélicos, não tem como ser recuperada.

Dólares

O problema não se esgota em Jair Bolsonaro. O crescimento do movimento evangélico no Brasil teve muito a ver com a erosão da credibilidade da Igreja Católica por conta do envolvimento de padres e bispos em práticas anticristãs, que vão de perversões sexuais ao enriquecimento ilícito. Histórico que ainda hoje perturba o Papa Francisco, não turvam os exemplos de vida que nos dão católicos como Dom Pedro Casaldáliga, que nos deixou em agosto de 2020. Na sua pluralidade e diversidade, sempre houve casos mais ou menos isolados de desvios envolvendo pessoas ou igrejas evangélicas. O que se vê agora é uma avalanche de perversões ditas religiosas, sobrepostas às relações promíscuas com o governo federal. Resta ver até que ponto a situação impactará, ou não, o crescimento do evangelismo no Brasil.

Jair Messias Bolsonaro

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

Avatar photo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *