Leopoldo Paulino
Política

O enterro das armas no Chile

Leopoldo Paulino e o muro que saltou para enterrar armas.

 

Salvador Allende 1908-1973

1973 – Golpe no Chile

O enterro das armas

 

Leopoldo Paulino

 Desde os primeiros dias do golpe de 1973, no Chile, a TV chilena divulgava nota da Junta Militar instigando a população a denunciar os estrangeiros exilados no país. Não fomos delatados, pois os vizinhos de esquerda nos apoiavam e os de direita não nos entregariam por amizade.  O vizinho em frente era de direita e aplaudiu o golpe. Mas, quando foi ao centro da cidade, voltou assustado com a quantidade de cadáveres que viu nas ruas e boiando no Rio Mapocho.

Salvador Allende

Em 16 de setembro de 1973 Manoel e Garcia, contatos do PS no prédio, já acreditavam que o golpe se consolidara. A resistência fora submetida pelos golpistas, a luta contra Pinochet seria de longo prazo. Propuseram, então, que enterrássemos nossas armas e o material cirúrgico que estava com Garcia. Para isso, saltamos o muro que separava os nossos prédios do Instituto Pedagógico e, em sacos plásticos, enterramos o material. Depois de engraxá-lo bem.

Augusto Pinochet

Tomamos o máximo de cuidado possível, pois o campus da Universidade estava ocupado pela Força Aérea. Terminada a tarefa, saltamos o muro de volta e já nos dirigíamos à nossas casas quando Garcia lembrou de que as peças do material cirúrgico continham as iniciais de seu irmão, médico que participava da resistência. Pulamos o muro de novo, abrimos a cova, retiramos todo o material cirúrgico e enterramos novamente as armas no mesmo local.  Já terminávamos a tarefa, quando ouvimos passos e vozes das pessoas que vinham em nossa direção.

Partido Comunista

Corremos para o muro, que escalei com extrema velocidade e de cima ajudava os companheiros a saltá-lo, quando os recém-chegados deram de cara conosco. Passado o susto de ambos os lados, todos riram, pois eram quatro militantes do Partido Comunista que lá estavam para fazer o mesmo serviço. Em 2009 quando voltei ao Chile perguntei para os moradores do residencial se o muro havia sido modificado e eles me disseram que o muro conservava a mesma altura que tinha quando o saltei. Fiquei perplexo do quão alto já era em 1973.

A luta continua

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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