Odemar Leotti
Cultura

Ciclo aborda crise da modernidade

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Ciclo aborda crise da modernidade

A violentação física e discursiva de formas de cultura, aponta Odemar Leotti

Odemar Leotti

O Ciclo de Palestras ‘O discurso da modernidade e sua crise na contemporaneidade’ tem como proposta apresentar um estudo/debate sobre o pensamento moderno e a crise  contemporânea que desaguou no momento considerado como Pós-Modernidade. O pensamento ocidental, impondo-se às múltiplas formas culturais, instaura-se em sua forma moderna no final do século XVIII e entende como desvios as diferenças culturais, reduzidas, por uma taxonomia cujo dispositivo mensurador impõe uma leitura hierarquizante, a saberes tidos como menores, inferiores e exóticos. Esse saber colonizador que teve como fundamento o eurocentrismo tornou possível a violentação física e discursiva de outras formas de cultura.

Como consequência tornou proscritas as múltiplas propostas de vida, ao fechar o mundo, ao integrá-las às teorias de um pensamento histórico-filosófico oficial. Tal pensamento, de cunho eurocêntrico, submeteu as diversas singularidades à sua inteligibilidade sistematizante, técnica e metafísica, ao nomeá-las como exóticas, selvagens, inumanas. Porém, todo esse aparato conceitual, na verdade, não admite os seus limites de leituras e não passa de tentativas universalizantes e dissolventes de reconhecimento do mundo. A tentativa de buscar um tempo de estabilidade marcou o pensamento moderno em sua imposição do modelo único. Porém nunca foi imaginado por ele que a unicidade somente se dá em sua forma singular e multiplicadora.

Zygmunt Baumann

Por outro lado, o que presenciamos é o ponto de chegada de uma forma de resistência produzida pela força poética singular e múltipla, desde os começos modernizantes até o tempo presente; é a prova de resiliências dos espaços agenciais das múltiplas culturalidades, provando, tal qual falou Jean François Lyotard em sua obra A condição Pós-Moderna, ser impossível controlar nuvens. À impossibilidade mensuradora do que é incomensurável próprio do nomadismo do ato de ser, garante o  “desuso do dispositivo metanarrativo de legitimação” que, para Lyotard “corresponde sobretudo a crise da filosofia metafísica e a da instituição universalizante que dela dependia” (LYOTARD, 2002, p, XVI).

Jean François Lyotard

Às tentativas da institucionalização dos desejos com a imposição do regime da arte poética em seu devir intenso, as intervenções universalizantes se deparam com o dispersar dos saberes empíricos em uma volatilidade como se o determinismo local fosse nuvens. Portanto, estamos em um tempo em que as tentativas consensuais se deslegitimam perante a realidade de que tudo é provisório, tudo está em jogo, mas está vivo.Mudaram as regras, mas não impediram o ato de jogar-se como criação. Tudo é deslizante, é escorregadio, nada é tão sólido e indestrutível. São relações de poder que se define por jogos de forças nos quais se situa a vida em distintas formas de pensamento que se modificam como se nuvens fossem. Para dar uma contribuição à discussão dessas questões, que lançam desafios à leitura, à escrita, à pesquisa, à extensão, propomos este ciclo de palestras. É preciso problematizar os fundamentos determinantes da modernidade, em um tempo em que tudo é provisório, em que o que se queria sólido desmancha-se no ar, já afirmava Marx no Manifesto Comunista, e o que está por vir ainda não se instaurou. Estariam os lugares em jogo, nessas condições em que nada se segura e tudo se desmancha, nesse renovar da vida em sua multiplicidade? Assim pensando, iremos continuar aceitando

Karl Marx

exercer o ato de pensar nos limites do permissível ou nos inclinaremos para a rebeldia resistente? Servirmos como consolidadores das ordens? Seremos remetentes e destinatários submissos ou proporemos táticas de pensamento poético em seu livre pulsar? Contra os tempos das determinações de uma filosofia da história e de sua moral instituidora do determinismo temporal e espacial seria possível agenciar o ato de restabelecimento dos lugares da poética em busca de um mundo como obra de arte? É preciso restabelecer as condições de sujeitos de uma autentica autonomia, em busca da libertação da liberdade desses lugares da multiplicação, que desde fins do século XVIII e início do século XIX viveram em estado de proscrição.

É nesse marcador da vida que o Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais Contemporâneos PPG-ECCO da Universidade Federal de Mato Grosso UFMT apresenta aos seus pós-graduandos e ao público o ciclo de palestras O discurso da modernidade e sua crise na contemporaneidade. Para tanto foram convidados estudiosos de diferentes lugares, que darão grande enriquecimento à nossa experiência como estudiosos no campo da pesquisa, do ensino e da extensão. O cronograma vem a seguir, com as apresentações que ocorrerão de 28 de junho a 2 de julho e de 5 a 9 de julho de 2021 as 19:30 horas:

 

Abertura

Prof. Dra. Ludmila Brandão.

19h45

Conferência de abertura. Prof. Dra. Maria Luiza Süssekind –

“Conversas pós-abissais: (im)possibilidades, descolonização e cotidianidade nos estudos curriculares”.

Mediadora: Profa. Ms. Adelice Alves da Conceição (SEDUC, MT).

29/06/21 _  19h30

Prof. Dr. Odemar Leotti (UFR): “Da necessidade de repensar a superação da metanarrativa moderna em contemporaneidade”. Mediadora: Profa. Dra. Beatriz de Oliveira Feitosa (UFR)

 

30/06/21_ 19h30

Prof. Dr. Antônio Celso Ferreira (UNESP-ASSIS, aposentado) – “Uma visão literária da promessa e do fracasso do Império dos EUA”. Mediador. Prof. Dr. Marcel Lapuente Mahl (UFU)

01/07/21 _ 19h30

Profa. Dra. Eliana Kuster (IFES). “Nossas cidades estão nos deixando doentes? Relações entre vida urbana e formas contemporâneas de padecimento.”. Mediador: Prof. Dr. Almir Carvalho Junior (UFAM)

02/07/21 _ 19h30

Profa. Dra. Beatriz de Oliveira Feitosa. (UFR) – “Trajetórias Humanas sob  impacto da Modernidade Líquida: agenciamento estatal e territorialização precária”. Mediadora: Profa. Dra. Ana Carolina Borges (UFMT).

05/07/21 _ 19h30

Prof. Dr. Pedro Alexander Cubas Hernández – (UFR). Pensando um Brasil moderno nos inícios da República Velha. Mediadora: Profa. Dra. Clícea Maria Augusto de Miranda

06/07/21: _ 19h30

Prof. Dr. Benjamin Rodrigues Ferreira Filho – “Engrenagens maléficas da política: o contexto amazônico de Inglês de Sousa”. Mediadora: Profa. Dra. Talita Tatiane Martins Freitas (UFR)

07/07/21 _  19h30

Profa. Dr. Rachel Tegon de Pinho (UNEMAT) “Loucura, segregação e o direito à cidade.” Mediadora: Profa. Dra. Talita Leite Tavares (UFR).

 08/07/21 _  19h30 Conferência de encerramento:

Prof. Dr. Robert Moses Pechman: “A cidade não é aquilo que se vê̂ do Pão-de-Açúcar: Ler a cidade com Rubem Fonseca”. Mediador. Prof. Dr. Fernando Pinho (UFPA)

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 20 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 20 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. 

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