Os voos da morte e sequestros de bebês
Argentina
Análise histórica
Os voos da morte e
sequestros de bebês
Relatos do ex – guerrilheiro, ex – preso político, exilado e anistiado Lenine Bueno
Renato Dias
Buenos Aires, Argentina. A capital mais charmosa do Cone – Sul. 24 de março de 1976. A presidente da República, María Estela Martinez de Perón, é deposta. Golpe de Estado civil e militar. Protagonismo das Forças Armadas. Com a anuência do Deus Mercado. A imediata chancela da Embaixada dos EUA. Ela havia sido avisada da conspiração com antecedência. O suporte dos conglomerados de comunicação. O silêncio sepulcral do Judiciário. A colaboração de frações da Igreja Católica. Tempos sombrios. Uma noite que durou sete anos. Com 30 mil mortos e desaparecidos políticos. Além de 500 bebês sequestrados. Mais de 100 já resgatados.
_ Até 10 de dezembro de 1983. Com o ‘Relatório Nunca Más’ e Justiça de Transição.
Ex – preso político sob a ditadura civil e militar no Brasil, exilado no Chile e depois na Europa, o arquiteto e urbanista, Lenine Bueno, herdeiro das generosas utopias despertadas pela revolução de 25 de outubro ou 7 de novembro, na Rússia, enquadra a operação nos marcos da Guerra Fria [1945-1991]. O recorte aponta para os últimos 18 anos anteriores, explica. Com a queda de Juan Domingos Perón, em 1955, atira. Desestabilizações institucionais em 1966, 1970, 1971, 1973, assim como sucessivos generais, recorda – se. A referência é a Roberto Marcelo Levingston, Pedro Eugênio Aramburu e Alejandro Lanusse. Do partido da farda, dispara.
_Juan Domingos Perón, morto em 1º de julho de 1974, e Getúlio Vargas, que se suicidou em 1954, constituem o ‘populismo’ no Cone _ Sul. Com as medidas trabalhistas e populares.
Sem Juan Domingos Perón, a ingovernabilidade abre feridas no País, pontua. O massacre do Aeroporto de Ezeiza, ocorrido dia 20 de junho de 1973, com 13 mortos, 360 feridos, em números extraoficiais, é uma emboscada da extrema-direita argentina, narra. A eleição e renúncia de Hector José Câmpora Demaestre, a ascensão e morte do ícone do Peronismo e a posse de sua vice, Isabelita de Perón, sob a assessoria especial de Lopes Rega, bruxo, alimentam a Tríplice AAA [Aliança Anticomunista Argentina], relata. Lenine Bueno informa, com exclusividade a www.renatodias.online , que passou por Córdoba, no exato dia em que a extrema-esquerda, os Montoneros executavam uma operação política de armas e fuzis nas mãos.
_ Era, sim, possível escutar o matraquear das armas.
A luta armada, na Argentina, tinha uma verdadeira expressão numérica, confidencia. Tanto o ‘Peronismo de Esquerda’ quanto os trotskistas, com o Exército Revolucionário do Povo, o ERP, sublinha. Alvos preferenciais dos voos da morte e dos sequestros de bebês, ele atira. Terror de Estado, extrajudicial, com 30 mil mortos e desaparecidos, com o uso da tecnologia dos golpes deflagrados no Brasil, 1964, República Dominicana, 1966, e Chile, 1973, registra. Momento dramático da História da América Latina, desabafa. Do Tempo Presente, lamenta. Trágico, diz.
_ Uma experiência diferente dos Tupamaros, circunscrita a Montevidéu, Uruguai.