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40 anos depois, rock não morreu

1980-2020

40 anos depois, rock não morreu

 

História do surgimento do gênero musical, em Goiânia, contada por uma testemunha ocular. Sob o clima de final da ditadura civil e militar, a mudanças nos costumes e a ‘Era da Aids

 

Renato Dias

_  Vive lanarquie. Vive Lanarquie.

O agudo do vocalista do ‘band leader’ do  17º Sexo, Mário Martins, ecoava. Inventiva, a mais original banda de garagem de Goiânia.  Eram os turbulentos anos da década de 1980. Século 20. O Brasil em processo de reconstrução de sua frágil República Democrática. Fraturada por um golpe de Estado civil e militar. Em 2 de abril de 1964. Uma noite que durou exatos 21 anos.

Restos da Cultura Proibida
Restos da Cultura Proibida

O rock’n roll surgiu na Capital de Goiás na década de 1970. Goiânia foi fundada em 1933. Pelo médico Pedro Ludovico Teixeira. Com a sua arquitetura inspirada na Art Déco. De Paris, França. Velho Mundo.  Uma concepção desenvolvida pelo arquiteto e  urbanista Attílio Correia Lima. Um pioneiro do estilo usava o nome artístico: Markan Camaralina. Autor de Rock de Cabedelo.

_ Já a revolucionária banda Língua Solta contava com Almir e Delcione.

Irreverente, meio punk, pós – Sex Pistols _ Pistolas Sexuais_, banda inglesa de 1975 que explodiu em 1977, com Johnny Rotten, um traço trash,  o Fox Trot, com Samuel, arrebentou as estruturas conservadoras da metrópole. Som pesado, roupa preta, coturno, madeixas longas, despenteadas, performances com devaneios sexuais. Novidade naquelas épocas na cidade.

Língua Solta

_ ‘Anjinho’ participou de uma cena antológica de sexo. Explícito.

Graduado em História, com formação esquerdista, um leitor dos barbudos Karl Marx e  Frie­dri­ch Engels, do advogado de classe média, com um cavanhaque indefectível, Vladimir Ilich Ulia­nov, codinome Lênin, além do nascido em Yanovka, Ucrânia, Liev Davidovich Bronstein, nom de guerre Leon Trotsky, assim como de Antônio Gramsci. Perfil do professor Marcelo Benfica.

Marcelo Benfica
Marcelo Benfica

_ Um homem além do seu tempo. Quem? Marcelo Benfica.

Bar da galera

Sindicalista, ele defendia melhores condições de salário, trabalho, liberdade dentro da sala de aula, adepto das ideias de Paulo Freire.  Marcelo Benfica acabou demitido de seus empregos. Na rede particular de ensino. Em Goiânia. O caminho, alternativo, foi montar um bar. Descolado. No Setor Marista. De classe média. O ‘Banana’. Palco para grupos. De rock e punk.

Eclipse

_ Programação. Domingo à tarde. Imperdível. Com chuva ou sol.

Marca Registrada, com Francisco Kleber Paulo Paes Landim, guitarrista e vocal; Lúcio Malagoni, guitarrista; Renato Marra, contrabaixo; Wagner Calil, bateria. O 17º Sexo teve ainda em sua formação Eládio Sá, guitarra e vocal _ com a inesquecível ‘Alquimia’_; Lúcio Malagoni; Renato Marra e Wagner Calil. O Marca Registrada e o 17º Sexo possuía uma legião de seguidores.

17º Sexo – Segunda formação –
17º Sexo

_ Extensa lista. João Júnior [Cirurjoão], Sebastian Teatinni, Ricardo Dias, Emerson _ Lake e Palmer_, Paulo Anderson Garcia[Galinha] e Edilberto Dias eram chamados de ‘Redondos’.

Carlos Mello, Cláudio Mello, Rafeize e Serjão montaram o Eclipse. Com um toque refinado. Rivais do Marca Registrada e do 17º Sexo, eles foram apelidados de Krispes. Um clima pesado rolou entre os dois grupos. Depois, com a entrada em cena da turma do deixa-disso marcaram uma partida oficial. Para definir a pendência. Sem violência. Os ‘Redondos’ eram os favoritos.

17º Sexo – Segunda formação – Com Eládio Sá
17º Sexo – Segunda formação – Com Eládio Sá

_ Os Krispes ganharam o jogo. De futebol. No último segundo. Local: Colégio Marista. Depois, todos viraram amigos.

Antes, um mistério pairava no ar. Quem pichou a casa de Cláudio Mello e Carlos Mello? O pai dos irmãos era delegado de polícia aposentado e advogado. Lúcio Malagoni teria sido o autor da façanha. Jadson Júnior flertava tanto com os Redondos quantos com os Krispes.  Restos da Cultura Proibida pintaram no mercado underground. Com um som, balada e letras instigantes.

João Júnior _ Joãozinho ou Cirurjoão – In memorian
João Júnior _ Joãozinho ou Cirurjoão – In memorian

_ João Carlos [Joca], o ‘band leader’, Edson Lenine, Afonsim.

O tempo passa

O tempo passou. Mário Martins e João Júnior morreram. Lúcio Malagoni virou psiquiatra. Para cuidar das cabeças dos membros dos Redondos. Carlos Mello e Cláudio Mello, produtores artísticos e culturais. Francisco Kleber Paulo Paes Landim, procurador do Estado aposentado. Eládio Sá, cineasta. Marcelo Benfica, mestre da UEG e professor da Secretaria de Educação.

_ Apesar disso, 40 anos depois, o rock não morreu.

Marca Registrada
Marca Registrada

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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