Vidas negras não importam?
George Floyd e João Pedro
Vidas negras não importam?
Renato Dias
George Floyd, imobilizado e algemado. Deitado no chão. Com um joelho em seu pescoço. Assassinado em Minneapolis, Estados Unidos das Américas, por um
agente do Estado, Derek Chauvin. Policial que deveria garantir a sua segurança. Não é um ato isolado. É a chaga do racismo. Presente tanto nas terras de Donald Trump quanto no Brasil Patropi de Jair Messias Bolsonaro. Longe de apaziguar os conflitos que incendeiam os EUA, o inquilino da Casa Branca repete o bordão _ quando os saques começam, os tiros também _ joga gasolina, inflama afrodescendentes, brancos e destila ódio racial e à democracia não consolidada no Império.
_ Vidas negras importam, sim.
Doutor do Departamento de História Contemporânea, da Universidade Federal Fluminense [UFF], Daniel Aarão Reis Filho diz que a execução de George Floyd, pelo policial branco, mostra o racismo persistente nas forças policiais. O pesquisador aponta que a revolta em curso é compreensível. É necessário aprovar uma legislação para punir, com rigor, os policiais racistas, desabafa. O escritor anuncia a sua total solidariedade à luta contra o racismo. Nos Estados Unidos das Américas e no Brasil. Tempos Sombrios. Do século 21. Sob a Pandemia do Covid 19.
Daniel Aarão Reis Filho [RJ]PodCast
Daniel Aarão Reis Filho
_ O racismo amplia os seus espaços. Com o suporte de Estado. Não é único.
‘Supremacista’ racial, o pato Donald Trump incentiva a violência contra negros, estrangeiros, desempregados e trabalhadores, pontua o doutor em Sociologia da PUC [GO], Sílvio Costa. A revolta é de brancos, desempregados e sem-teto, não apenas contra o racismo estrutural, dispara o intelectual marxista. Negros e mulheres recebem, no Brasil, os menores salários e constituem o maior índice de desempregados, observa. Jair Bolsonaro é racista, metralha. As lutas nos EUA iniciaram-se pelos Direitos Civis desde a década de 1950, do século 20, relata.
_ Qual o motivo da inexistência massiva de protestos contra a morte de negros, no Brasil?
Doutor em Educação, Fernando Casadei Salles [SP] diz que as matrizes raciais e históricas são as mesmas, a escravidão, em condições históricas, geográficas e culturais diferentes. Ambas derivam do mesmo tempo histórico e racial, registra. A escravidão nos EUA é singular, fuzila. A escravidão dos EUA e do Brasil não seriam equivalentes, explica. Não é somente na totalidade, atira. É indispensável apreender os detalhes, frisa. A memória dos negros foi esquecida nos EUA, ataca. Eles são evangélicos, narra. A herança religiosa afrodescendente é presente, diz.
_ No Brasil. Já a segregação racial nos EUA se apresenta de forma explícita e têm um racismo de Estado. No Brasil é dissimulado. Não é público. A segregação não é tão escancarada.
O Estado exerce violência brutal contra a população negra nos EUA, analisa o jornalista, historiador, especialista em geopolítica mundial, Frederico Vitor. Os negros possuem consciência de classe social e de raça, informa. “Os negros, no Brasil, constituem as elevadas estatísticas de mortes nas periferias, uma herança do escravismo colonial, da cultura da Casa Grande & Senzala, do capitalismo tardio, dependente e integrado ao sistema mundial capitalista de poder.” A desarticulação, um subproduto da miscigenação, explica a ausência de revoltas no País, atira.
_ Uma ferida não cicatrizada. Nos EUA. Não é inédito. Já que recorrente.
Doutor da Universidade Federal do Maranhão, com estágio pós-doutoral nos EUA, em Literatura Comparada, Rickey Marques admite, hoje, estar depressivo e sem esperança, com o Brasil e o mundo. Ele relata que a violência e as desigualdades econômica, social, cultural e de oportunidades constituem elementos materiais e simbólicos para explicar o motivo de 65% dos jovens do País manifestar interesse em mudar do Brasil. Um território abandonado, lamenta. Eu tenho, sim, medo do futuro, desabafa o pesquisador da área de Humanidades.
_ Triste. Trágico.
De São Paulo, o marxista, adepto das ideias de Liev Davidovich Bronstein, ‘nom de guerre’ de Leon Trotski [1879-1940], Frederico Zapelloni revela que EUA e Brasil possuíram formações históricas similares. Com diferenças, destaca. O Sul dos EUA, escravista, derrotado na Guerra da Secessão, foi nutrido pelo racismo e o conservadorismo estruturais, de direita, fuzila. A colonização ocorreu de forma distinta, porém, sublinha. A escravidão nos EUA acaba sob uma guerra civil, informa. A abolição da escravatura no Brasil por pressão externa, diz o estudioso.
_ A República, proclamada em 1889, concedeu aos proprietários de escravos uma compensação material, subsídios, pelo fim da escravidão. Aos latifundiários. O escravo, sem casa, trabalho, miserável acabou nas ruas. A direita dos EUA é a fração que perdeu a guerra civil.
Doutor em Biologia, na Unicamp [Universidade Estadual de Campinas], centro de referência mundial em produção científica, com estágios pós-doutorais na Espanha, Canadá e EUA, radicado, hoje, em Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, Marcos Roberto Dias Batista afirma, com exclusividade à reportagem, que o brasileiro nega, sim, a existência do ‘outro’. De qualquer etnia, gênero, faixa etária e região, metralha o pesquisador. Um intelectual refinado. Cientista da área de Biológicas. O que poderia ser classificado como um ‘egoísta’, aponta ele.
_ Os negros são massacrados. Ao longo da história. Pelo redor do mundo.
É o que afirma a antifascista, estudante secundarista, do Colégio Átrio, em Goiânia, Maria Rosa Martins Dias. A intenção dos agentes do Estado era matar George Floyd, insiste. Brutal, a sangue frio, filmada, atira. A revolta é uma resposta a Donald Trump, supremacista, negacionista, que não adota medidas para impedir 100 mil mortes sob a Pandemia do Coronavírus Covid 19, alerta a garota de 14 anos. Os brasileiros não se importam mais com as mortes de negros, informa. A Polícia Militar do Brasil é uma das que mais mata no Planeta Terra, denuncia ela.
_ Faltam líderes, no Brasil, como Nelson Mandela, da África do Sul, e Martin Luther King, dos EUA. É preciso sair às ruas. Multiplicar os protestos. Sem luta, nada muda.
Covarde. Brutal. Desumana. Documentada. Com pedido de socorro. Assim foi a morte de George Floyd. Em Minneapolis, Estados Unidos das Américas. É o que diagnostica Jardel Sebba. Médico, ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás, deputado estadual por quatro mandatos consecutivos, ex-prefeito de Catalão, ex-secretário de Estado de Gabinete, produtor rural. Negros morrem assim também no Brasil, denuncia. Imagino que se um assassinato de um negro for filmado e compartilhado haverá uma revolta social, no País, crê.
_ É estrutural. Décadas terão que transcorrer. Para tais crimes acabarem.
Rivanildo Gomes afirma, hoje, não enxergar perspectivas de melhorar o cenário político, econômico, social, sanitário e de saúde no Brasil. O que ocorre nos EUA, o atual presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, copia-o e tenta implantá-lo no País, reclama. George Floyd, em Minneapolis, EUA, e João Pedro, no Brasil, lembra a professora de italiano, funcionária pública
municipal, Marta Zanini, uma mulher cult, gauche, chic e bela. Os EUA constituem o centro das contradições econômicas, políticas, sociais e raciais, diz o professor de História, Gugu. Jornalista e escritor de São Paulo, Eduardo Reina diz que se tratam dos efeitos Donald Trump.
_ O que o Brasil passará nos próximos períodos. [Eduardo Reina, jornalista e escritor, é autor de ‘Cativeiro sem fim – As histórias dos bebês, crianças e adolescentes sequestrados sob a ditadura civil e militar no Brasil’]
Jornalista, especialista em ‘estilo gonzo’, com referência estética em Gay Talese e Norman Mailler, o escritor Marcus Vinícius Beck diz que a morte de George Floyd, nos EUA, Minneapolis, ocorre em um Estado do Sul, com o racismo no seu DNA. Assim como traduz em ato, a banalização do mal, a violência e o conservadorismo das direitas americanas, dispara. A professora, cantora de marchinhas, carnavalesca, escritora Nádia Pires vê a passividade do Brasil, banalização do mal e da morte. Uma alusão explícita aos conceitos de Hannah Arendt.
_ Pobres e negros.
É o perfil da população a ser atingida pela escalada de mortes da Pandemia do Coronavírus Covid 19, no Brasil. É o que denuncia o deputado federal do PT Rubens Otoni Gomide [GO]. Os EUA já totalizam 100 mil mortos. O País caminha, a passos largos, para um genocídio, alerta o parlamentar red, rojo, socialista. A Pandemia avança para as periferias das capitais, informa o líder petista. A doença atingirá populações em condições de vulnerabilidade, insiste. Irresponsabilidade e omissão do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, critica ele.
_ Não podemos chegar a 30 mil mortos.