Política

Anos de chumbo – Traições, cachorros e tragédias Alberi Vieira dos Santos.O ‘cabo Anselmo do Sul’

Anos de chumbo Traições, cachorros e tragédias

Alberi Vieira dos Santos.

O cabo Anselmo do Sul

Onofre Pinto e mais cinco militantes queriam, em 1974, deflagrar uma tardia guerrilha rural. A ordem de Ernesto Geisel era matar!

Obsessão e delírio, inspirados pelas revoluções em Cuba e no Vietnan, em uma suposta bolha, com os seus mortos e desaparecidos

 

Onofre Pinto, José Lavechia, Daniel José de Carvalho, Joel José de Carvalho, Victor Ramos, Enrique Ruggia integram a lista dos mortos e desaparecidos

Aluizio Palmar

 

Enrique Ruggia era argentino, estudante, peronista de esquerda

Aluizio Palmar

 

Alberi Vieira dos Santos, um cachorro, agente, de Paulo Malhães

Aluizio Palmar

 

Renato Dias

Da Editoria de Política e Justiça

Seis revolucionários. À espera da guerrilha rural. O dia fatal da destruição da ditadura civil e militar no Brasil e do início da construção do socialismo. De armas nas mãos. Tempos Sombrios. Épocas de utopias. Da luta armada. De violência como política de Estado. A ordem  de Ernesto Geisel e de João Baptista Figueiredo era matar!. Os militantes saem da Argentina. Em julho do ano de 1974. Dois anos antes do golpe de Estado civil e militar. De Jorge Rafael Videla e companhia Ltda. 24 de Março de 1976. Eles estariam em uma suposta bolha. Com os exilados, presos, torturados, mortos e desaparecidos. De uma revolução que faltou ao encon­tro.  Impulsionados pelo imaginário da revolução cubana e da guerra do Vietnã. A guerri­lha rural seria uma obsessão. Um delírio.  À esquerda.  Sob a hegemonia de Onofre Pinto. Da VPR.

– Os últimos moicanos.

É o que revela, com exclusividade, Aluizio Palmar. Ex-guerrilheiro. Os insurgentes que­riam tomar de assalto os céus. Como Onofre Pinto. Um ex-sargento do Exército Brasileiro e  fun­da­dor da VPR. A Vanguarda Popular Revolucionária. A organização que teve, em seus quadros, Car­los Lamarca, o capitão da Guerrilha, morto no sertão da Bahia, esquálido, faminto, em 17 de setembro de 1971. À queima roupa. Assim como  José Lavechia, sapateiro, ex-quadro do PCB, integrante da Guerrilha do Vale do Ribeira, em 1970, que  saiu da prisão com a captura, não é sequestro, que constitui crime comum, do embaixador alemão Alexander Von Holeben. Além de Daniel José de Carvalho, metalúrgico e fundador do Sindicato de Diadema.  Joel José de Carvalho, gráfico. Victor Ramos, escultor. Enrique Ruggia, um argentino peronista gauche.

– A VPR teria sido desmobilizada. No inverno de 1973. Em uma casa na região de Talagante.  No interior do Chile.

Romper o cerco

O foco guerrilheiro seria a saída para a resistência armada sair do cerco a que estava submetida nos centros urbanos, explica o pesquisador. Uma ideia fixa dos seis, pontua.  Já temperados com o trauma do golpe de 11 de setembro de 1973, no Chile, com a deposição e morte do presidente marxista, o médico Salvador Allende, inventor da via pacífica e tensionada para o socialismo na América Latina. Um agente, ‘cachorro’, conceito formulado para definir um ex-esquerdista que passa a trabalhar para a repressão política e militar e entrega companheiros e camaradas para a morte, Alberi Vieira dos Santos, orientado por Paulo Malhães, homem forte da ‘Casa da Morte’, em Petrópolis, Rio de Janeiro, inventou uma história mirabolante de uma suposta área cheia de camponeses para retomar a guerrilha rural.

– A área imaginada seria no sudoeste do Paraná

O agente da repressão Alberi Vieira dos Santos ‘vendeu’ para o grupo dos seis revolucio­nários o que eles queriam ‘comprar’. Eles estariam respirando em uma suposta bolha, com os mortos, desaparecidos e torturados. Mais: impulsionados pelas revoluções em Cuba e no Vietnan. A guerrilha rural seria uma obsessão. Um delírio.  À esquerda. Onofre Pinto depositou as suas esperanças no ex-sargento Alberi Vieira dos Santos. Com a promessa de um amplo apoio camponês, que não existia. Uma área estruturada na fronteira, que não era verdade. Com bases e sítios para dar cobertura ao projeto de volta à revolução. À guerrilha rural. O foco guerrilheiro idealizado por Régis Debray. Francês preso nas selvas da Bolívia. Aventura de Ernesto Guevara de La Serna. O  Che Guevara. Morto em 9 de outubro de 1967. Trágico. Mito.

– Era o caminho delineado pelo cabo José Anselmo dos Santos do Sul do Brasil, em 1974. Seis cadáveres.

De Buenos Aires

A viagem começou na charmosa Buenos Aires. Com financiamento de parte dos dólares de Ana Capriglione. Codinome Dr. Rui. A amante do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros. O homem do ‘rouba, mas faz’. Morto em 1969, na França. Oriundos da ação mais espetacular da luta armada. Em 1969. A  VAR-Palmares foi a protagonista. Com a expropriação de um cofre com 2,5 milhões de dólares. Aluizio Palmar informa que Pedro Lobo lhe revelou que participaram do projeto de retomada da luta armada, em 1974, Onofre Pinto, Joel José de Carvalho, Daniel Carvalho, José Lavechia, Víctor Ramos e Enrique Ruggia. O agente infiltrado era o ex-sargento da Brigada do Rio Grande do Sul Alberi Vieira dos Santos. Ele participou da ‘Operação Três Passos’, o primeiro levante armado contra o golpe de Estado de 1964. No Brasil

Alberi Vieira dos Santos foi preso e passou para o outro lado.

O cachorro saiu da prisão em 1972. Após celebrar acordo com a repressão. Um pacto de sangue. Sob o comando do coronel Paulo Malhães. Após a chacina, o agente infiltrado Alberi Vieira dos Santos virou bandido comum e acabou assassinado em janeiro do ano turbulento de 1979, relata o historiador e jornalista. Um ex-preso político trocado pelo embaixador da Suíça Giovanni Enrico Bucher, em 16 de janeiro de 1971. A turma dos 70. Eles embarcaram para o Chile. De Salvador Allende. As mortes ocorreram em dois momentos. Joel José de Carvalho, Daniel Carvalho, José Lavechia, Víctor Ramos e Enrique Ruggia foram assassinados a sangue frio, em julho de 1974. Onofre Pinto teria sido poupado no primeiro momento. Para ser assassinado 15 dias depois. Com uma dose letal de Shelltox. Uma injeção para matar cavalos.

– A Operação, Juriti.

Matar: a ordem!

A ordem de Emílio Garrastazu Médici [1969-1973], Ernesto Geisel [1974-1978] e João Baptista de Oliveira Figueiredo [1979-1985], os três últimos generais-presidentes da República, era matar e não deixar rastros. A pesquisa de Aluizio Palmar resultou na identificação dos locais onde estariam os restos mortais dos seis guerrilheiros. Um dos membros da equipe, um ex-soldado que serviu de motorista, nos indicou o local, confidencia. Aluízio Ferreira Palmar nasceu em 24 de maio de 1943, em São Fidélis, Estado do Rio de Janeiro. Ele mora, hoje, em Foz do Iguaçu, Paraná. Desde 1979, narra. É casado e pai de cinco filhas e de um filho. O periodista está perto de terminar de escrever ‘Os meninos da Vila Nova’. Livro de memórias. É autor do memorável  ‘Onde foi que vocês enterraram nossos mortos?’. Triste e necessário.

– À memória, justiça e verdade.

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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