PSTU: Todos às ruas
PSTU: Todos às ruas
Jair Bolsonaro sofreu uma derrota em sua ofensiva golpista do dia 7 de setembro. Acuado e sofrendo a pior crise de seu mandato, ele jogou todas as fichas para promover uma grande demonstração de força, capaz de criar confusão e intimidar o Supremo Tribunal Federal (STF), forçando um recuo no processo contra ele e sua família, ao mesmo tempo em que tentava estancar o derretimento de sua base. Obrigado a recuar, porém, seu desgaste aprofundou-se ainda mais, inclusive em sua base. Mas, ele ainda demonstra que não vai parar em seu projeto de ditadura.
A preparação para o 7 de setembro de Bolsonaro levou meses, contou com o aparato do Governo Federal, assim como de inúmeros mandatos bolsonaristas pelo país, além do financiamento do agronegócio, de olho na votação do Marco Temporal no STF. Como não poderia deixar de ser, esse megaesquema levou milhares às ruas. Em Brasília, algo como 40 mil compareceram. Na Avenida Paulista, a Polícia Militar contabilizou 125 mil. Atos grandes, sem dúvida, mas bem abaixo do que o governo esperava e anunciava: entre 1 e 2 milhões, só em São Paulo, por exemplo.
O perfil social dos atos bolsonaristas mostra que ele também não conseguiu furar sua bolha. Pesquisa do Monitor Digital da USP atesta que foram formados por um público mais velho (com 53% acima dos 45 anos), 43% com renda acima de cinco salários mínimos e 60% de brancos. Passou longe da população mais explorada, jovem, negra e precarizada. Também não houve a adesão da base das Polícias Militares, sobre as quais foi realizada uma massiva convocação. Seja pela ameaça de punição por parte dos governos estaduais, seja como parte de uma estratégia do próprio Bolsonaro de preservar esses setores para utilizá-los mais à frente, como parte de suas milícias.
Às manifestações se seguiu um ensaio de “lockout” de caminhoneiros, coordenado basicamente por seis grandes empresas do agronegócio, particularmente interessadas na aprovação do Marco Temporal no STF, que permite o agronegócio roubar terras indígenas. Algo que, contudo, começou a escapar do controle do próprio governo e ameaçou precipitar uma crise institucional de maiores proporções contra o próprio Bolsonaro. A tentativa de “lockout”, aliado ao discurso flagrantemente golpista do próprio Bolsonaro nos atos (menores que o previsto) esticaram a corda e deixaram o Centrão, o STF e a própria burguesia num impasse. Se antes já não apoiavam a reeleição de Bolsonaro, mas tampouco pareciam dispostos a um impeachment, depois do dia 7 se viram forçados a dar uma resposta. O processo de impeachment ou a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão foram colocados na mesa.
Foi então que Bolsonaro mandou um jatinho buscar Temer para articular uma reaproximação com o STF, acalmar o Congresso Nacional e os mercados, através da tal carta pedindo desculpas pelos arroubos no “calor do momento”. Foi o suficiente para colocar panos quentes e impedir o avanço de uma crise que poderia levar ao fim do mandato, sem que o Congresso e o STF saíssem desmoralizados. O aparente recuo de Bolsonaro, porém, segue seu “modus operandi” desde sempre: o famoso morde e assopra. Vai testando os limites do regime, e nisso consolida sua ofensiva autoritária, normalizando a perspectiva de golpe e deixando um clima permanente de intimidação. E ainda que desta vez ele tenha saído derrotado e que a crise e desmoralização em sua base pareçam ter sido mais sérias, ele não vai parar.
Ao mesmo tempo em que ocorriam as manifestações golpistas, a Campanha Fora Bolsonaro realizava os atos junto ao tradicional “Grito dos Excluídos”. Ainda que tenham sido importantes, foram bastante insuficientes para demarcar um contraponto à ofensiva golpista. Isso aconteceu porque, ao invés de jogar tudo na preparação e organização das mobilizações, as direções da Campanha priorizam as eleições. Enquanto o governo organizava sua tentativa de golpe, Lula fazia uma turnê pelo Nordeste, se reunindo com figuras como Eunício Oliveira (MDB) e demais líderes do Centrão e da direita que até ontem eram chamados pelo PT de “golpistas”, por terem apoiado o impeachment de Dilma. A direção da CUT, por sua vez, tampouco jogou peso na organização dos atos, a exemplo do que fez no dia 18 de agosto, Dia Nacional de Luta e Paralisação dos Servidores Públicos.
É possível e necessário massificar as manifestações, levar milhões às ruas para expressar a real correlação de forças, mostrando o quanto Bolsonaro é minoritário. Mas, para isso, as direções dos partidos de oposição e do movimento precisam jogar peso, e as grandes centrais e demais organizações da classe trabalhadora preparar, desde a base, uma Greve Geral. A coordenação da Campanha Fora Bolsonaro definiu o próximo dia 2 de outubro como um novo dia nacional de manifestações. É necessário, porém, que não seja apenas mais um dia de lutas no calendário. Diante da escalada golpista de Bolsonaro e da boiada que segue atropelando direitos no Congresso Nacional (leia abaixo), é preciso dar uma resposta à altura. Isso passa pela organização de manifestações proporcionais ao crescente desgaste e indignação contra o governo. E, junto a isso, a preparação de uma Greve Geral. “Esse dia deve ser construído com todas as organizações sindicais, populares e os partidos políticos que estiverem dispostos a levantar o Fora Bolsonaro e a defesa das liberdades democráticas. Além disso, seguimos defendendo e fazendo o chamado às demais centrais. É preciso construir uma Greve Geral que coloque, de fato, o governo em xeque”, defende Atnágoras Lopes, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas e da direção do PSTU.
No último dia 12, setores da direita liberal capitaneados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) convocaram manifestações contra o governo. Sob o mote de “Nem Lula nem Bolsonaro”, ainda que a direção do movimento tenha mudado no último segundo, foi uma convocatória com o evidente objetivo de se construir o que chamam de “terceira via”: uma candidatura alternativa a Bolsonaro, no campo da direita. Isso, além do fato de o MBL estar completamente desmoralizado diante de seu histórico bolsonarista e da defesa de pautas típicas da ultradireita, levou pouca gente às ruas.
De forma contraditória, o PT e puxadinhos, como o PCO, afirmam não ser correto estar junto com setores da direita nas ruas, ao mesmo tempo em que Lula, neste exato momento, articula uma frente ampla para governar com a burguesia. Ou seja, ao invés da mais ampla unidade para lutar e derrubar Bolsonaro, já, e independência de classe para definir um programa para o país, fazem um discurso sectário para as mobilizações e oportunista no programa e alianças. Estar na rua contra a direita não pode; mas governar, sim. A realidade é que, tanto o PT quanto o que vem tentando se cacifar como terceira via (como Ciro Gomes e o próprio MBL) não querem, de fato, derrubar Bolsonaro agora, mas desgastá-lo e apostar tudo em 2022. A máxima prioridade para a classe trabalhadora, porém, é tirar Bolsonaro, já. E, para isso, é preciso a mais ampla unidade, inclusive com a direita que esteja disposta a ir às ruas por isso. Ao mesmo tempo em que se deve ter a mais ampla unidade para lutar, a classe trabalhadora e suas organizações, sindicatos etc., devem intervir com independência política e ir construindo uma ação sua: uma greve geral que bote abaixo este governo e impeça um golpe mais adiante. Algo que não dá para confiar que os setores da direita e da burguesia, e mesmo da esquerda parlamentar, estejam dispostos a levar até o fim.
É preciso organizar um polo independente de classe para, nas mobilizações, lutar para derrubar este governo e também a boiada que ele, junto ao Congresso Nacional, tenta passar contra os trabalhadores. A Medida Provisória 1045, da Minirreforma Trabalhista, foi derrotada no Senado, mas existe, ainda, a Reforma Administrativa, que ataca duramente os servidores e os serviços públicos, além do Marco Temporal, que está sendo votado no STF e que já tem projeto de lei pronto na Câmara, caso seja derrubado na Corte.
Além de Bolsonaro, é preciso derrotar a sua política econômica de desemprego, fome, miséria, carestia e entrega do país. Política econômica que, inclusive, é defendida pelos partidos de oposição e todos esses setores liberais que tentam construir a “terceira via”. E, também, é fundamentalmente a mesma que o PT impõe onde é governo. Enquanto fechávamos esta edição, os servidores públicos realizavam uma nova manifestação em Brasília contra a Reforma Administrativa. Nos últimos dias, os povos originários também deram um grande exemplo de luta contra o Marco Temporal. É necessário avançar na organização da classe para derrotar o projeto de Bolsonaro e Guedes e avançar num programa dos trabalhadores.