É o único animal que acredita em promessas
Especial
Homem
É o único animal que
acredita em promessas
Odemar Leotti
De Rondonópolis, Mato Grosso
Em cima do leito. Murmúrios lucrativos, sexo sensato, modo fundamental, que liga poder, saber. A sexualidade também. A que preço é a paga? Transgredir a lei, suspender o que interdita. Romper com as desditas? Mas e as palavras aparentemente tão inocentes? Participaste de sua escrita? De sua aprovação? O que estava em jogo e não se viu? Ah! E agora? Reinstituiu o prazer? Suspendeu o real? Captura do prazer, sim, já é tarde para a possibilidade do gozo. Meu real suspenso? Traços do passado que não se viu, mas se sentiu. Sim antigos poderes, podres poderes. Mas, fiques tranquilo.

Teus desejos estão encaminhados, protegidos enquanto constrói riquezas. Já estarás tomado de sentidos. Já te inscreveram no futuro. Seu gozo? Será inscrito na postergação do prazer. Meu prazer? Sim amigo. Seu prazer. Mas ele não é de agora, são de traços antigos, dos velhos pudores. Pudores versus prazeres. E olha que tu aplaudiste. Mesmo? Eu mesmo? Sim. Até balançava bandeira, verde e amarela, lutando para que não fosse vermelha. É o que queria. É o que se poderia. Diria alguns amigos seus. Mas não se preocupe. Não se exaspere. Mas e a minha liberdade? Ah! Bem lembrado, bem lembrado. Você é de boas lembranças. Boas. Muito boas. Assim seu líder te dizia.
Mas ele não negou a ti a liberdade, só não lhe disse que ela seria futura, pura, totalmente aperfeiçoada, evoluída. Mas até hoje ela não veio? Sim e você não gozou a liberdade do instante, aquele do dia a dia, do bar, da alegria. Você passava rompante, ereto, cheio da empáfia se achando patriota. Nos chamavam de vagabundos. Pois é, apenas vivíamos o prazer do momento, pois não havia o amanhã para nós. E agora? Agora ficas com a liberdade prometida. Liberdade que massacrou quem não a aceitava, e maltratava tudo que encontrava que fosse diferença não entendida. A diferença, ah! A diferença.

Vistas como coisas baixas, inferiores, atrasadas no tempo: diziam os colonizadores. Seus lugares são de futilidades, diziam os moralistas reduzindo o prazer às coisas perdidas. Sexo se torna subversivo, viver tornara-se excedente à vida. Vida sob as normas que regem o viver, a arte, enfim o éter da vida. Viver é exceder a norma, é conjurar o presente, é trair o futuro. Enfim: é não crer na promessa, nem em nova lei do amanhã o bom sexo, amanhã a vida, hoje o provisório. Para amanhã o bom sexo! Diria o sensato. Nos ensinaram a esperar o gozo prometido!
