Queda do PIB & recessão impactarão cadeia cultural
A cadeia de Cultura, com a crise na saúde e o stress do mercado, já está comprometida. É o que denuncia o presidente da União Brasileira dos Escritores, mestre em História e professor da UEG [Universidade do Estado de Goiás, criada em 1999], Ademir Luiz. Filmes de elevado orçamento foram adiados, aponta. Como o novo 007 e o solo da Viúva Negra, informa.
_ É preciso mudar a estratégia.
O intelectual orgânico afirma ainda, com exclusividade, que a paranoia histérica gerada pelo Coronavírus – Covid 19 afeta também os pequenos empreendedores da arte, que garantem seu sustento dia a dia. Com os seus espetáculos, shows, lançamentos, peças suspensas, metralha. Um dos elos mais fracos do mercado, o consumo de arte foi comprometido, atira.
– Isolar os idosos e grupos de risco, acabar com a quarentena para as pessoas em idade produtiva. Ou fazemos isso ou essa histeria coletiva pode comprometer a economia por anos.
A pandemia do Coronavirus – Covid 19 afetará 100%, diz o presidente do Conselho Estadual de Cultura, Carlos Willian Leite. Poeta, escritor, editor de livros e diretor – editorial da Revista Bula, é taxativo. Os artistas terão que se reinventar, crê. A internet se torna a principal protagonista, aponta o caminho. O que era presencial, por um longo período será apenas online, diz.
_ A tendência dos mecanismos de fomento é sua extinção temporária.
Carlos Willian Leite, artista inventivo, lembra que nesse caso, não se trata apenas da vontade política, mas de prioridade. O que fica garantido é que o mundo será diferente a partir de agora em todos os aspectos políticos, geográficos e econômicos e cultural, projeta. O que, na América Latina, sempre foi tratado como algo menor, vai ser um dos mais prejudicados, atira.
A crise irá impactar, sim, a cadeia produtiva da Cultura, afirma o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás e ex-prefeito de Catalão Jardel Sebba. Médico, estudioso de infectologia, lembra que a quarentena pode chegar até o dia 30 de abril de 2020. Crise grave, resume. “Múltiplos setores da economia, primário, secundário e terciário, sofrerão o baque.”
_ O pós- Coronavirus Covid 19 será inédito na história da humanidade.
É o que calcula José Sebba Júnior. Não é possível dimensionar o volume das perdas, frisa. Nem nacional, muito menos global, atira. Qualquer prognóstico, hoje, é pura especulação, fuzila. Um dos sinais da globalização, da modernidade líquida, como anotava Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, um dissidente da ‘Cortina de Ferro’, da ‘Era Stalinista’ no Leste Europeu.
– Um quadro caótico.
Na contracorrente
Historicamente, a produção literária se desenvolve com fecundidade nas dificuldades e crises cíclicas, analisa o ex-diretor da Receita Estadual, ex-secretário da Fazenda interino, Paulo Miguel Diniz. Em um grave ambiente de crise, as angústias se multiplicam e inspiram homens e mulheres da cultura, pontua o advogado especialista em Direito Tributário e Empresarial.
_ O impacto já atinge a cadeia produtiva.
A análise é da escritora, cantora e professora da rede pública, ativista cultural Nádia Pires. Quem depende de recursos oriundos de artes, espetáculos e produtos estéticos enfrentarão dificuldades financeiras, metralha, em um tom de indignação. O fomento do poder público, União, Estado e Município é estratégico para estancar a sangria no setor artístico, ela avalia.
_ A crise na área do audiovisual será pior do que na ‘Era Fernando Collor de Mello’.
O alerta geral é do produtor cultural, Virgílio Alencar Santana, que prevê ‘Tempos Sombrios’. O audiovisual é alvo de um forte apagão do fomento da União, desabafa. A cultura no Brasil já andava estonteante, ele lamenta. Agora, com a pandemia e os rumos do governo federal, crise aguda na certa, vocifera. O fantasma da censura assombra o setor, denuncia o ativista.
_ Não podemos aceitar.
O ex-secretário de Estado da Cultura, ex-presidente da UBE, seção de Goiás, prêmio Jabuti no explosivo ano de 2012, Edival Lourenço, reflexivo, admite que, apesar de as democracias modernas reconhecerem a cultura como um direito humano fundamental, estratégico, quando há crise econômica, é a primeira área que os gestores começam a cortar os recursos.
_ O direito fundamental da cultura ainda está se firmando.
O escritor, poeta celebrado e contista consagrado, conta que existe um efeito positivo da quarentena. Com relação à cultura. É o aumento do consumo do entretenimento cultural, pontua. Ele pode ser acessado sem sair de casa, como filmes, músicas e livros, observa. O que não chega a impactar na produção, relata. A pessoa consumirá o que já tem acesso, sublinha.
_ Pode ser que a quarentena lance raízes de hábitos mais voltados para o consumo de bens culturais e mesmo aumentar a percepção de valor da cultura e dos artistas.
A cultura teve reconhecimento como direito fundamental a partir da Constituição de 1988, recorda-se. É um direito recente, de última geração, registra. Ainda está “pegando” com fragilidades, avalia Edival Lourenço. As estruturas de garantias ainda são frágeis, com idas e vindas, marchas e contramarchas, narra. “Depende do humor e do grau de ilustração de cada gestor”.
_ A crise, como efeito colateral da pandemia do Coronavírus, leva dificuldade às atividades econômicas.
Artistas e produtores culturais carecem de um socorro urgente, insiste. Os seus meios de sobrevivência, dependentes de públicos, foram totalmente paralisados, destaca. É uma situação singular e requer providências extraordinárias, afirma. É preciso flexibilizar as exigências das leis de incentivo e liberar recursos para o segmento cultural, para produções futuras, propõe.
_ Sim, haverá prejuízos para a cultura de imediato e de médio prazo. Mas a atividade cultural é resiliente, sobreviverá e se fortalecerá a longo prazo.
O vírus começou a se disseminar com o golpe pós – moderno, de 2016, diz o premiado cineasta Ângelo Lima. Filho legítimo de 1968, ele refere-se ao que depôs Dilma Rousseff e levou à eleição do capitão reformado às pressas Jair Messias Bolsonaro. Um mix de porão da ditadura civil e militar, neopentecostalismo e da tardia e ultrapassada agenda neoliberal, alfineta.
– Não passarão.
Eládio Sá, cineasta de vanguarda, cantor, compositor, guitarrista, um herdeiro do velho rock´n roll, personagem de destaque do circuito cultural do Brasil e do Centro-Oeste, atribui a atual crise no setor tanto a Jair Messias Bolsonaro quanto a Ronaldo Caiado. Com os cortes nos mecanismos de fomento à cultura, diz. O Palácio do Planalto flertaria ainda com a censura, frisa.
– Resistiremos.
Fotógrafa com olhar singular, Jake Vieira explica que a atual política cultural, na esfera federal, é centrada no lucro das empresas. Mais: na renuncia à tributação através do Imposto de Renda [IR]. Com a crise econômica derivada do Coronavírus, a desvalorização do Real e as perdas das bolsas de valores, o crescimento negativo do Produto Interno Bruto trará a recessão, sublinha
_ As empresas terão prejuízos, impactando imediatamente nas contribuições com renuncia fiscal através da lei Rouanet.
A literatura poderá ter um tipo de reação, por causa da quarentena, acredita o fotógrafo cultuado no mercado Vinícius Schmidt. Sebastião Salgado do Centro-Oeste, o artista frisa que é alto o número de pessoas que leem e que optarão pela leitura voraz para passar o tempo. Cinema, música e teatro serão afetados, conta. Com a proibição de aglomerações, dispara.
_ A crise irá produzir oportunidades. Para ampliar e reinventar a criação.
É o que aposta Hermes Traldi. Analista do comportamento do mercado, no Tempo Presente, época da globalização da economia, o empresário vê espaços para o incentivo do capital e até público para criatividade na indústria do entretenimento. O Brasil reagirá com excelência nos setores primário e secundário da economia, ele prevê. Com uma dose alta de otimismo.
_ Não faltarão oportunidades e financiamentos para as artes, espetáculos e produtos estéticos de qualidade.