Lágrimas a Alain Krivine
Velho revolucionário da IV Internacional
Herdeiro das ideias de Leon Trotski
Valerio Arcary
Alain Krivine, um dos principais tribunos da juventude nos dias do Maio 68 francês, morreu. Ele esteve na primeira linha da noite das barricadas no Quartier Latin [Bairro Latino] e foi um dos inspiradores da marcha de milhares até à fábrica da Renault/Billancourt. O que impulsiona a unidade operário-estudantil. Oi gatilho da greve geral contra Charles De Gaulle. O NPA, a Quarta Internacional e o movimento trotskista internacional, estão de luto. Aos oitenta anos, Krivine era um dos mais destacados veteranos da geração que assumiu a luta em defesa da tradição internacionalista, nos últimos sessenta anos.
Militante incansável e responsável, orador intenso e brilhante, polemista mordaz e elegante, permaneceu uma vida inteira leal ao programa da revolução permanente. De família judia da Ucrânia que emigrou à França no final do século XIX, sob os pogroms: a violência de perseguição antissemita que era crônica sob o jugo do Império Czarista. Durante a ocupação alemã, foi escondido pelos pais em Danizy, no Aisne, interior da França. Eleito para a direção da UEC, em 1958, integrou as redes de apoio à Frente de Libertação Nacional [FLN] durante a Guerra da Argélia, uniu-se a 4ª Internacional, foi expulso do Partido Comunista Francês em 1966.
Em abril de 1966, ao lado de Daniel Bensaïd, funda a Juventude Comunista Revolucionária [JCR]. Com Comitês contra a Guerra do Vietnã. A JCR, uma das mais dinâmicas organizações durante as semanas iniciadas em maio de 1968 que culminaram em uma imensa greve geral. A JCR foi ilegalizada em junho de 1968. Alain Krivine é preso em 10 de julho e libertado no outono. Ele apresentou sua candidatura presidencial em 1969 pela Liga Comunista e obteve 1,1% dos votos. Em 1974, conquista audiência muito maior. Eleito deputado ao Parlamento Europeu em 1999, em lista comum LCR/Lutte Ouvriére que superou os 5% e elegeu cinco deputados.
O jovem carteiro ativista sindical Olivier Besancenot trabalhou ao seu lado na construção do mandato, e foi Krivine um dos que apoiou a sua indicação como candidato às presidenciais em 2002, quando a LCR conquistou 4,25% dos sufrágios. Publicou em 2006 uma autobiografia: Isso vai te passar com a idade [Ça te passera avec l’âge], pela editora Flammarion. Uma apaixonante narrativa das circunstâncias, peripécias e aventuras de uma vida honesta e comprometida. Até o fim permaneceu ativo no NPA [Novo Partido Anticapitalista, da França], em modesto escritório na sede da gráfica da legenda em Montreuil, arredores de Paris.
Nós estivemos juntos há quatro anos, em uma reunião internacional. Ele mantinha a mesma altivez de sempre. Um dos primeiros a chegar na abertura da sessão. Assim como mantinha uma máxima concentração. Ele tomava notas. Registro: e, quando chegou a hora de fazer a sua intervenção política e ideológica, um imponente silêncio das duas centenas de lideranças presentes, vindos dos cinco continentes, confirmou o respeito conquistado por uma militância exemplar.