

Renato Dias
Cabeça arrancada. Tiros na nuca. Pulsos amarrados. Mais: com 132 mortos, 113 suspeitos presos, 91 fuzis, duas pistolas e 11 motos apreendidos. Uma operação executada por Polícia Militar e Polícia Civil. Duas instituições do Estado. Zona norte. Já é a mais letal da História da República. O Carandiru do Rio de Janeiro. Verdadeiro derramamento de sangue. Vil.

Retrato do colapso da segurança pública. Longe de proteger o cidadão, o Estado é um histórico e cruel aparelho de moer crianças, adultos, idosos. O CEP define a vida. Breve ou longeva. A Carta Magna Cidadã promulgada em 5 de outubro de 1988 não subiu ainda o morro. Tanto do Alemão quanto da Penha. Racismo estrutural. A naturalização da barbárie.

As PMs e as PCs já se transformaram em máquinas de matar, uma herança do golpe de Estado civil e militar de 1964, denuncia o professor doutor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense [UFF], Daniel Aarão Reis Filho. Chacinas constituem tragédias urbanas corriqueiras, avalia. O quadro dos feridos e mortos é sempre o mesmo, ele afirma.

Os alvos das expedições repressivas do Estado são jovens, negros, pobres, favelados, atira. O crime organizado é um problema internacional, sublinha. A violência e a ausência de políticas públicas efetivas aumentam o descrédito nas instituições e até na democracia, insiste o escritor. Um especialista em autoritarismos no Tempo Presente.

A repressão violenta e a pena de morte, recusada pelo ordenamento jurídico, é executada de forma sistemática pelas polícias Militar e Civil no Brasil, relata. A PM da Bahia é a mais letal, metralha. Mata mais do que a dos EUA, informa a renatodias.online “A segurança é, hoje, o tema que lidera as pesquisas de opinião pública como prioridade para o cidadão”.

Crítico, o professor doutor de Educação aposentado na Universidade de Sorocaba [SP], Fernando Casadei Salles, lembra que o senador Flávio Bolsonaro [PL-RJ] clamou Donald Trump para atingir alvos na baía da Guanabara. Os EUA assediam a Venezuela, diz. A chacina constitui a essência do programa da extrema direita, fuzila. Para as eleições de 2026, condena.

Sem nada a entregar à sociedade, além do caos no transporte público, queda na qualidade dos serviços básicos das empresas privatizadas, restam, hoje, aos governadores da extrema direita, o espetáculo, analisa o professor doutor de História da UFG, Roberto Abdala. Assim como faziam no século XX Benito Mussolini e Adolf Hitler, ele explica.

Espetáculo que mobiliza emoções em estratos sociais adoecidos, pontua. O pesquisador conta que a escalada da violência do Estado somente renova o segundo ou terceiro escalões das organizações criminosas. Ação que preserva o topo da pirâmide no mundo do crime, da qual fazem parte políticos e empresários [Faria Lima], diagnostica.

Chefes do Executivo que mobilizaram as suas bancadas federais para não aprovarem a PEC da Segurança Pública, vocifera. Chico Buarque cantava, frisa. “Malandro oficial, de terno e gravata”, cita o intelectual público. Veja: quatro governadores do Rio de Janeiro foram presos, recorda-se. O TSE pode cassar os direitos políticos de Cláudio Castro.

A extrema direita acredita que os direitos humanos se aplicam apenas aos seus, reclama Roberto Abdala. Como no caso do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro, arquiteto da tentativa de golpe de Estado civil e militar no Brasil de 8 de janeiro de 2023, sublinha. Ela opera a necropolítica, resume. Em busca de claques e likes, destaca. Em tom ácido.

Nascido no Peru, o professor doutor da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, Carlos Ugo Santander, registra que a operação é puro suco de necropolítica. É o Estado que decide quem deve morrer e pode viver, acusa. A morte apresentada como solução e o medo um método de governo, conceitua. O poder administra corpos e territórios com terror, metralha.

O sociólogo recomenda a unificação, hoje, das polícias civil e militar, colocá-la sob controle civil, com novos currículos e doutrinas fundados nos direitos humanos e no Estado Democrático, o que exige a desmilitarização da segurança pública. Segurança não é matar mais, alerta. “A democracia não pode continuar armada contra os negros, pobres, favelados”.

Além de cortar os vínculos entre política, banda podre do aparelho policial estatal, milícia e corrupção, ele propõe. Com investimentos em inteligência, prevenção ao crime, pontua. Com a real urbanização das favelas, vê. Presença do Estado em Educação, Cultura, Esportes, empregos, pondera. Sem caveirões, dispara. É a universalização da cidadania, observa.

Professor doutor de História da UFG, David Maciel define a operação policial, hoje, como mais um ato da “guerra civil permanente” contra as populações pobres. O projeto é sim de “controle” do conflito social e político, admite. Além de matar e horrorizar trabalhadores, ela é um reposicionamento da extrema direita no cenário político, desabafa também.

Após o fracasso, que pode ser ou não temporário, da Anistia a Jair Messias Bolsonaro, a extrema direita quer pautar 2026 com as agendas da segurança pública e dos costumes, analisa. Os movimentos sociais e as esquerdas devem exigir a denúncia, indiciamento, julgamento e condenação de Cláudio Castro por terrorismo de Estado, ataca.

Professor da PUC [GO] e Uni-evangélica, graduado, mestre e doutor em Arquitetura e Economia Urbana, Lenine Bueno Monteiro revela a renatodias.online que a extrema direita surfa sobre cadáveres. Para capitalizar as execuções, sublinha. Como a “Solução Final” utilizada na Segunda Guerra Mundial por Adolf Hitler, lamenta. “Ação espetacular, pirotécnica”.

Crônica da morte anunciada, reitera. Um artefato político necrófilo, desfia. É o fracasso do Estado no exercício de vigiar e punir, completa. Territórios livres para o extermínio, acusa. De negros, pardos, mulatos, pobres, favelados. Testemunha in loco de golpes de Estado no Brasil [1964] e Chile [1973] e exilado político na Bélgica sob a ditadura civil e militar.

Primeiro, Flávio Bolsonaro pede um bombardeio a Donald Trump, narra. Segundo, um pacto de governadores sai em defesa da barbárie, enumera. Terceiro, arquitetura do caos programa se contrapor às negociações da União, fundadas na defesa da soberania, com a Casa Branca, coloca em debate. Qual será a próxima cartada?, ele pergunta.
Ninho tucano

Sebba e Traldi expõem visões
O ex-presidente da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás Jardel Sebba [PSDB] diz a renatodias.online lamentar as mortes, vê vidas de inocentes ceifadas, solidariza-se também com as famílias dos policiais abatidos e cobra uma solução sustentável no longo prazo para a violência, crime organizado, milícia e caos, hoje, no Rio de Janeiro.

O ex-deputado estadual por quatro mandatos consecutivos critica o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. Ele monta um palanque eleitoral, faz campanha antecipada e tenta surfar sobre cadáveres, diz. Triste, desabafa. Até oferece PMs para participarem de operações nos morros, ataca. Faltam PMs em 81 cidades de Goiás, fuzila.

Ex-prefeito de Goiatuba, o engenheiro agrônomo graduado na USP Hermes Traldi diz que a operação policial desgasta a imagem do Brasil no mundo. Sinais de desrespeito à vida, violações de direitos humanos e insegurança no cartão postal do país, ele pontua. Uma reação radical do governo, resume. Sociedade vítima da incompetência, diz.

Uma tragédia, afirma. O ex-presidente da Agexp analisa ser necessário acabar com a miséria, a fome, o desemprego, a prostituição. Com a adoção de políticas públicas de Saúde, Educação, Cultura, além de excelência na área de Saúde Mental para dependência em álcool, drogas e tabaco, recomenda o produtor rural, empresário e socialdemocrata.

Operações tristes, dramáticas, desabafa. Anos de falhas do Estado, reclama. Do poder público: executivo, legislativo, judiciário, MP, critica. Nas três esferas, observa. Estadual, federal e municipal, dispara. Ausência de Estado, fuzila. Omissão, atira. Medidas preventivas devem ser executadas, propõe. É preciso gestão e políticas de longo prazo, frisa
Reflexões

Manzi dá diagnóstico e vê saída
Diretor regional do Dieese, de Imprensa e Divulgação do Sindsaúde, membro da CUT e da EPS do PT, Ricardo Manzi classifica como tragédia a operação policial no Alemão e na Penha. Não é um caso isolado, antecipa. É o histórico da violência das políticas públicas de Segurança no País, complementa.

Estado, com seu aparelho de repressão, impõe o método de extermínio da população pobre, negra, da favela, dá o seu diagnóstico. Ele vê relação com o Massacre do Carandiru, São Paulo, ano de 1992, com 111 mortes. Presídio, sob tutela estatal, lembra o sindicalista.”No Rio, ao ar livre, nas ruas, casas e matas”.

As declarações, tratados e pactos de defesa dos direitos humanos constituem letras mortas nos bolsões periféricos e favelas, constata. Não há nos referidos espaços urbanos o direito de viver em paz, com segurança e cidadania, diz Ricardo Manzi. Um adepto das ideias do filósofo Karl Marx [1818-1883].

Não basta apenas matar com requintes de crueldade, indigna-se. É preciso ainda transformá-lo em espetáculo, tira o Raio X. O padrão de eliminação é uma herança do escravismo colonial, aborda o intelectual orgânico dos trabalhadores. “A saída para o enfrentamento ao crime organizado transnacional é complexa”.

Cult, o ativista gauche, um humanista radical, propõe o uso da inteligência, pacto dos entes federados. Com um contraponto democrático à necropolítica da extrema direita, defende. Medidas de prevenção, unificação das polícias e desmilitarização, atacar a economia do crime organizado. É o que ele sugere.

Interpretações críticas
A chacina promovida pelo governador do Estado do Rio de Janeiro, Claudio Castro, é somente um pequeno recibo de que a coluna vertebral é muita coisa para os homens no Tempo Presente, avalia o advogado Gustavo Alves de Oliveira.

Deus morreu, caso algum dia existira, ele filosofa. Logo civilização, amor, ética, democracia, valores universais, constituem meras e necessárias ilusões para manter a convivência, o contrato social, observa o operador do Direito.
Marxista, o engenheiro e ativista da Frente Brasil Popular Rosemar Cardoso Maciel alerta que a extrema direita se alimenta de mortes de civis. Nenhum dos seus governadores de Estado defende a PEC da Segurança Pública, relata.

Ação midiática, inútil, carnificina, resume o sindicalista. É necessário asfixiar o crime nas suas finanças e obtenção de armas, atira. Uso da inteligência para acabar com a corrupção policial, diz. “A repressão ocorre há 40 anos sem efeito”.
Trotskista, o historiador Fred Frazão vê fracasso na operação. Midiática e eleitoreira, define-a. Maior e mais letal chacina da História, critica. A população continua com medo e insegura, crê. “Saída é atacar as finanças e no poder político”.

O coração do crime organizado no Brasil, explica o professor. Tanto da milícia ou das facções, insiste. Como demonstrou a operação da Polícia Federal que atingiu a Faria Lima, o andar de cima, afirma. Sem tiros muito menos sangue nas mãos.
Herança do escravismo colonial, com duração de três séculos, a crise nos morros é estrutural, revela o historiador Reinaldo Pantaleão. Os pobres são os mais atingidos, frisa. A extrema direita manipula a opinião pública, denuncia.

O pesquisador defende a ampliação dos investimentos em Educação, Cultura e Esportes nas favelas, com geração de emprego e renda, presença do Estado nos bolsões de pobreza nas 5.700 cidades do Brasil. Mudar o país, propõe.
A Operação Contenção com 132 mortos traduz a fórmula que a extrema direita propõe resolver o drama do tráfico e do ciclo da violência, diz o economista Fernando Safatle. “Ações semelhantes já foram realizadas e não deram resultado”.

Ele defende, hoje, um método heterodoxo: asfixiar as contas, as finanças ilegais do crime organizado. Com uma verdadeira caçada real aos tubarões do tráfico. No país. Com exercício do trabalho da área de inteligência e não somente nas favelas.

STF
Moraes determina preservação de provas e acesso
As provas da Operação Contenção, com 132 mortes, deverão ser preservadas pelo governo do Estado do Rio de Janeiro para controle e averiguação sob a responsabilidade do Ministério Público. A determinação é do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Relator da ADPF das Favelas [Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental], ele garantiu à Defensoria Pública do Estado o amplo acesso aos elementos periciais da ação das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro nas favelas do Alemão e Penha. Zona norte

Leonel Brizola
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Traço explosivo de Miguel Paiva



















