
Gilberto Correia
Liberdade e dignidade não caem do céu. Elas não chegam como chuva suave ou presente inesperado. Elas nascem do solo árido da coragem, regadas pelo suor da persistência e iluminadas pelo fogo da consciência. Quem acredita que direitos são dádivas se engana. Eles são arrancados da pedra, esculpidos na resistência, conquistados à força de mãos que não se cansam de lutar e vozes que não se calam diante do silêncio da indiferença.
A democracia adormece quando o povo se acomoda. A liberdade escapa pelos dedos que se fecham em medo. A dignidade murcha na sombra de filas vazias, na fome disfarçada de estatísticas, no olhar que se faz cego diante da injustiça. Cada omissão é uma fresta aberta para a sombra crescer, cada silêncio é espaço cedido para que retrocessos avancem. Lutar não é empunhar armas. É caminhar contra ventos contrários, é enfrentar noites longas sem perder a luz interna. É transformar gestos pequenos em revolução silenciosa. É escrever pontes sobre abismos de desigualdade, erguer palavras como monumentos de resistência, dançar no compasso firme da consciência, mesmo quando o mundo parece desmoronar ao redor.
A história nos ensina que nada se dá sem luta. Direitos conquistados, vitórias sociais, liberdade, tudo isso foi arrancado da escuridão da apatia, de mãos calejadas, de sonhos insubmissos, de coragem que recusou a morte silenciosa do medo. Cada voz que se levantou, cada ato que ousou, cada passo firme sobre pedras soltas desenhou o mapa da justiça que hoje ainda habitamos.
Liberdade e dignidade não são heranças automáticas. São conquistas que exigem vigilância permanente. Vivem na persistência dos que acreditam, na audácia dos que agem, na esperança dos que não se deixam enganar pelo canto doce das ilusões. Exigem paciência de quem sabe que grandes mudanças se constroem lentamente, como rios que esculpem vales. Exigem coragem de quem se recusa a deixar que interesses tomem o lugar do direito, que privilégios se confundam com justiça. O céu, por mais azul e silencioso que pareça, nunca se curva sozinho à vontade humana. Ele apenas observa. Somos nós, cidadãos e cidadãs, que devemos plantar, regar, cultivar e proteger.
É no suor das mãos, no vigor das vozes e na fé da consciência que liberdade e dignidade florescem. Viver sem liberdade é existir na sombra. Viver sem dignidade é caminhar sem alma. Por isso, a luta não termina. Ela se renova a cada geração, a cada voz que se levanta, a cada gesto que desafia a indiferença e a injustiça. Liberdade e dignidade não caem do céu. Elas dependem de nós. Sempre de nós. E quem esquece disso esquece a própria humanidade.

Gilberto Correia da Silva é professor universitário aposentado, jornalista, poeta, escritor e teólogo