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Fotografia é memória 

Daniel Aarão Reis Filho, professor doutor de História Contemporânea da UFF
Antônio Lopes, professor doutor em Ciências da Religião

Renato Dias 

Ele testemunhou in loco as guerras e a fome na África, a revolução dos Cravos em Portugal, fez registros da tragédia do povo palestino, viu incendiar poços de petróleo no Kwait, diagnosticou o desmatamento da Amazônia, com a destruição da cultura e o território dos povos originários e ainda cobriu as lutas históricas dos sem terras. Morto aos 81, deixa a vida e entra para a História.

Nascido em Minas Gerais, em 1944, Sebastião Salgado transferiu-se para o Espírito Santo, graduou-se em Economia. Sob a ditadura civil e militar no Brasil, ao lado de Lélia Salgado, após o AI-5, decretado em 13 de dezembro de 1968, opta pelo exílio em Paris, França. Como doutorando em Economia, trabalha também com café. O contato com a máquina fotográfica ocorre em 1970.

Longe, no exílio frio da Europa, resolve trocar a estabilidade no mundo do trabalho pelas aventuras com uma ideia na cabeça e a câmera nas mãos. A revolução faltou ao encontro com o economista marxista. Ele integrou a Ação Libertadora Nacional [ALN]. Organização da luta armada fundada pelo carbonário baiano Carlos Marighella. Morto em 4 de novembro do ano de 1969 a sangue frio.

Sebastião Salgado mostra em suas produções estéticas, fotografias em preto e branco, chagas abertas e feridas não cicatrizadas das guerras, migrações forçadas, dramas dos refugiados, além da desumanização do trabalho pelo capital. Assim como a destruição do Planeta Terra. Mais: em alta voltagem. Imagens que viram narrativas de que um outro mundo é possível sim e urgente. 

Andarilho, circula como uma missão por 130 países. Dos 195 vinculados, hoje, à Organização das Nações Unidas [ONU]. Dramas políticos, sociais, humanitários e tragédias ambientais o atormentavam. Longe de produzir a estética da pobreza, o fotógrafo Sebastião Salgado formula uma denúncia, narrativas críticas à miséria humana em sua longa aventura na História. Fotografia é memória, já dizia.

Obituário 

 

A fotografia em preto e branco de Sebastião Peixoto faz a denúncia do capitalismo predador, produtivista e excludente, observa o professor doutor da Universidade Federal Fluminense [UFF], Daniel Aarão Reis Filho.

O escritor e ainda pesquisador do Tempo Presente diz com exclusividade a www.renatodias.online que as suas imagens estabelecem narrativas visuais da exploração dos trabalhadores da América Latina, da África e da Ásia.

Ele descreveu as infames condições de vida dos povos, explica. Além de defender a preservação do Planeta Terra, pregou em obras o desenvolvimento sustentável, frisa. Um artista em luta contra as desigualdades sociais, vê.

Sem alarde, Sebastião Salgado produziu e apresentou uma arte engajada, em tempos em que ela estava sob críticas neomodernas. É o que analisa, hoje, em 2025, Lúcia Rincón. Professora doutora marxista de História da PUC de Goiás. 

O fotógrafo nos brinda com belas obras, tanto no século XX quanto XXI, ela afirma. Veja: assim como estimulou também a ousadia da crítica social radical, dispara. Em toda forma de arte, analisa, emocionada, a líder feminista.

Em tempo: professor doutor de História da Universidade Federal de Goiás [UFG], David Maciel revela que o artista Sebastião Salgado possuía um sólido compromisso com a viabilização das lutas sociais dos oprimidos do mundo.

Peruano, o professor doutor da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, Carlos Ugo Santander, informa que a fotografia de Sebastião Salgado seria a fusão entre arte e consciência política. Uma ferramenta de denúncia, relata.

A sua produção estética não mostra apenas a dor, ela aponta caminhos para a transformação, dá voz aos invisíveis, como sem terras, indígenas e refugiados, exige consciência ecológica em tempos de destruição capitalista, afirma.

A cada imagem uma denúncia, como Serra Pelada, o homem em movimento, em suas relações econômicas e políticas, com a natureza, sob a Era Pós-Moderna, sublinha Antônio Lopes, professor doutor de Ciências da Religião, em Goiânia [GO].

Além do horizonte estético, a obra fotográfica de Sebastião Salgado redefine os limites do que pode ser classificado como a necessidade da arte para a vida do ser humano, fuzila o professor de Arquitetura Lenine Bueno Monteiro.

A sua herança não se limita à fotografia, metralha o intelectual público. É a síntese do humanista em diálogo permanente com múltiplos campos, aponta, A câmera é instrumento de defesa dos humilhados e ofendidas, admite o docente.

Com o sentimento internacionalista, ele defende o meio ambiente em sua extensa e longeva produção estética e trabalha com o claro e o escuro do espaço cênico, a plataforma da vida, diagnostica o arquiteto gauche Lenine Bueno Monteiro.

Ícone da fotografia mundial, Sebastião Salgado fazia uma revolução permanente nas imagens, expôs as feridas abertas da humanidade, lutou pela construção da democracia no Brasil com intensidade, observa o gestor público Erotides Borges.

Tanto Mar, Chico Buarque, versão sem cortes da censura, elegia da Revolução dos Cravos, em Portugal, testemunhada in loco por Sebastião Salgado

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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