Os próximos 100 anos serão de busca, conquista e prática do poder político socialista no Brasil

Euler Ivo Vieira

Queridos e queridas camaradas do PCdoB

Eu venho saudar a todos vocês militantes, quadros e dirigentes de nosso glorioso partido comunista, criado por orientação direta de Lênin, que nesse um século lutou com resistência, bravura e tenacidade por sua existência, sempre integrado na luta de nosso povo e nossa pátria. Ao longo dos 100 anos de atuação ininterrupta na história, o PC do B foi se transformando numa espécie de instituição do povo. Ele caminha para ser um partido sem dono, cacique ou coronel. Acredito que nesses 100 anos fomos um partido da resistência e da sobrevivência. 

Porém agora, nesse momento de comemoração do passado, e também nesses primeiros passos de um novo século que se inicia em sua história, ainda que lentamente e com algumas resistências, haveremos de passar em revista nossa prática, nosso rumo político em que fomos metidos. E traçar uma nova atuação, não apenas da continuidade da resistência e da sobrevivência e da atuação por reformas, que tivemos até agora, mas assumir com destemor, o papel que sempre foi esperado de nós:  A missão de organizar os assalariados.

Os despossuídos e os excluídos. Para buscar e tomar o poder político em nosso país. Como a mais importante ferramenta para construir o socialismo no Brasil. O poder político não virá da maior ou menor presença dos comunistas no parlamento e no estado burguês brasileiro. Ainda que importante, ela será sempre minúscula e impotente. O poder político está nas armas e nas forças armadas. Se o queremos conquistar, teremos de encarar essa realidade de fren­te. Estudar e atuar nas questões e instituições não só políticas e sociais, mas militares.

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Tomar consciência, compreender e adotar medidas para que a sociedade também compreenda isso e nos ajude nessa tarefa. Só grandes multidões populares, previamente preparadas, poderão ajudar que nossas forças armadas mudem seu rumo. Já é hora de levantar um movimento político e popular de ajuda e socorro, de controle e influência sobre nossas forças armadas, hoje sucateadas e subservientes aos comandos estrangeiros, combatendo o entreguismo e o ódio aos movimentos sociais, e propagando o patriotismo e o amor ao país e nossa gente.

Ainda que nosso partido, por esse um século passado, tenha aprendido atuar com mais desenvoltura na chamada “grande política”, ela é sempre prisioneira de uma ação nos limites de um capitalismo cada vez mais dependente. Mesmo que nossos poucos parlamentares comunistas sejam abnegados, e tenham grandes atuações, essa atuação se limita e se submete à organização e ao caráter de um parlamento profundamente elitista, contra as grandes massas do povo. Subalterno e servil aos monopólios e bancos estrangeiros.

Como preparo e parte da transformação política e social que o Brasil precisa, é que se faz necessário alterar urgentemente, a nossa atuação partidária, colocando o centro de gravidade de nossa atuação, diretamente junto das massas populares, das classes sociais mais exploradas e oprimidas de nosso povo.  Mobilizar o povo, diretamente e independentemente, por seus direitos. Organizar e libertar a ação e mente das grandes multidões trabalhadoras abandonadas e hoje manobradas pelas elites. Esse é o desafio.

E com base na luta, organizar milhões de associações de massas de todo tipo, forma ou tamanho e orientá-las para ações e práticas políticas amplas, na conquista de objetivos concretos e viáveis, num trabalho de acumulação de forças, de conscientização e radicalização constante. E integrar essa prioritária atividade de massas, com a conquista de cadeiras no parlamento burguês hoje existente, como ferramenta auxiliar do movimento popular, através de atuação em frentes partidárias.

Federação Brasil da Esperança?

Colocar na prática a importância e nossa atuação na luta popular, acima da luta parla­mentar. Conscientemente estudar e descobrir os indícios de novas organizações populares que estão nascendo entre o povo. E propor e criar um grande movimento de solidariedade e ajuda mútua, que hoje cresce entre as massas das cidades e áreas rurais, para ajudar e socorrer as massas hoje abandonadas. Talvez organizar uma espécie de Irmandade Solidária, estruturada, que pode ser deliberadamente e metodicamente organizada em cada município e estado.

Um partido do bem comum

Sob o lema de servir ao povo, com atuação e direção ampla e diversificada, e integrar os dirigentes partidários dentro dela, na vida, no trabalho e na luta do povo. Realizar uma forte e massiva propaganda do socialismo e da revolução entre as massas populares e não apenas para uma pequena elite intelectual. Criar e divulgar palavras de ordem do socialismo.  Saber atualizar nossas palavras de ordem, para um partido do bem comum.

Socialismo realmente existenteE explicar para toda a sociedade, os avanços da superioridade socialista, inclusive na compreensão de que só ele é capaz de ter e aplicar um projeto nacional de desenvolvimento, que inclusive apoie e fortaleça até mesmo as forças de mercado, que tentam prosperar e não avançam, no atual sistema capitalista monopolista e rentista. Explicar e ganhar as massas para a bandeira do Socialismo de Mercado. E mais que isso. No novo projeto de busca do poder político, trazer para o partido milhares e dezenas de milhares de líderes populares inteligentes, destemidos e corajosos.

Não apenas para organismos de base, mas também para assumir os postos dirigentes do partido, e mergulhá-los no estudo do marxismo, da revolução socialista e dos novos horizontes socialistas.  Nosso partido precisa urgentemente mudar sua composição social, particularmente dos que assumem postos dirigentes. Aplicar a ciência da luta de classes em nossa atuação e também na construção partidária. Prestigiar a classe operaria e demais assalariados, de preferência dos setores mais estáveis, inclusive como celeiro para quadros de direção.

Nosso partido precisa resgatar sua característica leninista, de se estruturar em cima de organizações coletivas de base, com reuniões presenciais e de grande amizade e camaradagem entre seus membros. Não é só relações de interesses políticos, mas também escolas de transformação das pessoas, capaz de nos fazer mais humanos, amigos e camaradas. O partido precisa ser disciplinado, ter vida coletiva presencial e prática da crítica e autocritica. Nossa união e ação comunista não se estrutura em cima de redes sociais de celulares.

Precisamos voltar a ser partido de ação política de bases de massas, onde cada um de seus militantes, quadros ou mesmo dirigentes, precisam estar vinculado com as massas, que conviva com as pessoas onde elas moram, trabalham ou estudam. Toda pessoa do partido tem de ter uma atuação num organismo de base e entre as massas. Seja para ajudá-las, seja para compreendê-las, seja para se livrar da mentalidade egoísta capitalista, e se transformar em pessoas melhores, mais humanas, mais comunistas.

Todo nosso partido precisa de livrar da maldição do praticismo espontaneísta.  João Amazonas dizia que o grande dirigente internacional Dimitrov falava que os comunistas brasileiros eram resistentes ao estudo da teoria marxista leninista. E ainda somos. Dizia ele que éramos uns “miseráveis praticistas”.  Só a teoria do marxismo poderá iluminar o partido e cada um de seus membros, na nova etapa que se inicia, da luta pelo poder político socialista. Sem a compreensão teórica disso, não romperemos o reformismo do capitalismo, que estamos habituados a fazer.

Enfim, que nos primeiros passos desse novo século que se inicia para o PCdoB, nosso partido levante a bandeira da busca pelo poder político socialista. Essa decisão é estratégica e sacudirá todo o partido, provocando mudanças profundas em todos os setores de sua atuação. Essa decisão consciente não será fácil, até mesmo pela força do costume, tradição e formas atuais de direção e relação entre os dirigentes partidários, construída e continuada por tanto tempo.

Colocar a luta pela busca e conquista do poder político socialista será um desafio que implicará na mobilização de todo o partido, para encontrar novos rumos, para pesquisar, mergulhar no estudo e na busca dos caminhos da luta popular, que hoje já existem dispersos e fracos entre as massas abandonadas. Mas que por nossa atuação consciente, paciente e metódica, precisamos transformar essas novas e incipientes organizações de massas, numa grande força revolucionária transformadora.

100 anos

E que essa data 25 de março de 2022 seja a linha divisória da política da sobrevivência, para uma nova política, um novo rumo e uma nova prática, da luta pela conquista do poder político socialista. Só a luta pelo poder político socialista e sua conquista é o verdadeiro caminho para socialismo, inclusive no Brasil. Viva o passado de lutas e sobrevivência do PCdoB! Viva o futuro da busca, conquista e exercício do poder político socialista do PCdoB