Giocondo Dias
Política

Saga revolucionária de Giocondo Dias

Saga revolucionária de Giocondo Dias

Putsch de 1935, em Natal

 

Uma história a ser contada

História de vida do cabo é thriller político

 

Giocondo Dias, revolucionário de 1935

 

explosivo
explosivo

 

Renato Dias

O mantra A Internacional parece ter regido a sua vida. Um homem atingido por tiros. Em dois episódios históricos. Cabo que deu voz de prisão ao então governador do Rio Grande do Norte, Rafael Rodrigues, em Natal, sob o putsch político e militar do Partido Comunista do Brasil, Aliança Nacional Libertadora [ANL] e a Terceira Internacional, em 27 de novembro de 1935. A quatro anos da deflagração da Segunda Guerra Mundial [1939_1945]. Eleito deputado estadual pelo PCB [BA] , em 2 de dezembro de 1945, teve o mandato cassado. Dois anos depois. Até a legalização da sigla, sombras da clandestinidade. Vida como thriller político. A de Giocondo Dias

O secretário-geral do PCB, Giocondo Dias

De formação militar, com a perda da tribuna do parlamento, vivia escondido em aparelhos. Operacional, cuidou da segurança do ‘Cavaleiro da Esperança’, Luiz Carlos Prestes, secretário – geral da legenda da foice e do martelo. O farol, Kremlin. A sua família, mulher e filha, têm medo e dificuldades. Tempos sombrios. Da ditadura civil e militar. Pós-AI-5, os comunistas enviam Luiz Carlos Prestes e Maria Prestes ao exílio em Moscou. À Rua Arbat. O VI Congresso do PCB recusa a luta armada. Em suas múltiplas táticas e estratégias. A primeira ruptura, 1962, é do PC do B. 1967: ALN, PCBR, Dissidência da Guanabara, que viraria Movimento Revolucionário 8 de outubro [MR-8].

Luiz Carlos Prestes e o putsch de 1935

Dez horas. É o tempo de diálogo e saliva dispensados por Giocondo Dias para tentar demover o ex-deputado federal constituinte da Bahia, filho de um italiano de olhos azuis, com uma negra, da etnia Haussa, neta de escravos, Carlos Marighella. Ele queria deflagrar, como em Cuba, a guer­ra de guerrilhas. O seu adversário: o Estado Nacional, com Forças Armadas regulares, apare­lho de repressão clandestino. Além do suporte do Mercado, STF, TSM, STJ, Congresso Nacional, monopólios de mídia, EUA, Inglaterra e França. Não conseguiu. O PCB queria um acordo com as forças liberais e democráticas, a atuação no MDB, no parlamento e restaurar a democracia.

 

Carlos Marighella _ executado

General do Exército Brasileiro, Ernesto Geisel havia assumido a presidência da República em 15 de março de 1974. Dezesseis dias depois, em reunião, autoriza a execução extrajudicial de supostos subversivos. É o que aponta documento de 10 de abril do mesmo ano de Willian Egan Golby, diretor da CIA [EUA], enviado ao secretário de Estado, da Casa Branca, Henry Kissinger. Sob o mandato do republicano Richard Nixon. A senha que faltava. Para colocar em andamento a Operação Radar. Vinte e um membros do PCB liquidados. Dez mortos e desaparecidos. Do Comitê Central da sigla da foice e do martelo. Giocondo Dias parte para o exílio. Já em 1976.

Henry Kissinger

O esquema montado obtém a anuência de Luiz Carlos Prestes. Com o aval e recursos da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas [URSS]. Assim como com o suporte indispensável dos comunistas da ‘hermana’ Argentina. Registros da História: fardados e civis deram um golpe de Estado em 24 de março de 1976. O que não impediu a sua fuga rumo à Europa. Ao Velho Mundo. Com auxílio de duas embaixadas. Da Alemanha Oriental [RDA] e da URSS. Giocondo Dias chega à Pátria – mãe do socialismo mundial com honras e status de chefe de Estado. Disputas internas fratricidas aquecem o ambiente político e ideológico do Partidão. Já dilacerado pós-1962.

Kremlin em Moscou

José Sales arquiteta o plano com a KGB [Polícia Política da URSS]. A operação seria feita via Bue­nos Aires. Dora Costa entra em contato, no Brasil, com Zulma Guimarães. O passaporte é em no­me de um argentino. A saída é pelo Uruguai, Missiones, e entrada pela Argentina. Com des­ti­no à URSS. Giocondo Dias, após seis meses mantido sob controle por Luiz Carlos Prestes, implora para sair da Rússia e radicar-se, em Paris, França. É a despedida de sua mulher que, doente, logo morre. A reivindicação é aceita. O velho tovarish aglutina os comunistas exilados. Sob a ditadura civil e militar. Com o projeto de retorno. À pátria em chuteiras. O que não demora a ocorrer.

Luiz Carlos Prestes, secretário-geral do PCB

A Anistia sai em 28 de agosto de 1979. Luiz Carlos Prestes perde a disputa interna e solta a Carta aos Comunistas, em março de 1980. Giocondo Dias é conduzido pela maioria ao cargo máximo de secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro. O PCB opta por realizar um congresso nacional aberto em 1982. Sob a presidência do general do Exército Brasileiro João Baptista de Oliveira Figueiredo. Os participantes terminam presos e soltos. O PCB é legalizado, como o PC do B, na Nova República:1985. Roberto Freire concorre às eleições ao Palácio do Planalto, em 1989, e apoia Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno. Com a Globo, Fernando Collor vence.

João Baptista de Oliveira Figueiredo
João Baptista de Oliveira Figueiredo

O seu apelido era Neném. Nascido na Bahia, era um camarada que fazia a opção pela conversa. Nunca elevar o tom. Sem ter sido torturado, aprovou o retorno ao PCB dos militantes e dirigen­tes que revelaram informações sob a selvageria da violação dos direitos humanos. Observador da geopolítica, dos rumos do Estado, da Economia e da Política, previu o fim do socialismo realmente existente. Para a tristeza de Jorge Amado, Giocondo Dias morre no dia 7 de setembro do ano de 1987. Roberto Freire disputa a eleição presidencial, em 1989. O Muro de Berlim cai em 9 de novembro. A URSS, em 25 de dezembro de 1991. O PCB vira PPS, em 1992. O PCB ressurge, com capilaridade, em 2006. Sigla atua até, hoje, em 2021: Fora, Jair Messias Bolsonaro.

A queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989

Renato Dias

Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.

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