Golpe no Chile e as prisões
Golpe no Chile e as prisões
Leopoldo Paulino
Na invasão do meu apartamento buscando por Denise Crispim, mulher do revolucionário Bacuri, exilada no Chile e que de fato havia ali morado com sua mãe, consegui ler o papel que os policiais traziam em português com nome de Denise e o endereço com a anotação “Aparelho da ALN”. Nossa prisão com certeza ocorreu por intercâmbio entre as ditaduras latino-americanas, que seria mais tarde nominado “Operação Condor”.
Em 2009, visitei o Estádio Nacional onde detenções, torturas e assassinatos foram cometidos pela ditadura chilena. Em 2012, visitamos o Memorial Londres 38. Quando subíamos as escadas, reconheci o local: em 1972, com o companheiro Juca Alves, lá estive quando era a sede do Partido Socialista Chileno e toquei em evento pelas festas pátrias.
Os militares fascistas transformaram a sede em centro clandestino de torturas, conhecida como “A Casa dos Sinos” devido à proximidade da Igreja de San Francisco. Os sobreviventes encapuzados, contaram que não sabiam onde estavam, mas escutavam sinos. Inúmeros foram os presos de forma clandestina e torturados na Londres 38, com um número de assassinados difícil de ser contabilizado já que seus corpos nunca foram encontrados.
Entre os paralelepípedos da rua vê-se os nomes dos assassinados gravados em placas de metal e pedras brancas simbolizando os desaparecidos. Saí de lá muito impressionado, pela coincidência de já haver estado na casa antes do golpe, pela proximidade do local onde estive preso no dia 17/09/73 e por imaginar os companheiros presos e torturados ali. É tão bela, quanto forte, a imagem das pedras brancas e dos nomes dos assassinados políticos gravados nas pedras daquela rua. Com um nó na garganta, passou-me pela cabeça que “quase virei pedra” quando fui preso no Chile.
Leopoldo Paulino