A nota divulgada ontem pelos comandantes militares é lamentável. Foi uma tentativa de intimidar a CPI da Pandemia e seu presidente, o senador Omar Aziz, protegendo militares suspeitos de envolvimento com corrupção.
Note-se que não houve qualquer acusação às Forças Armadas em si. Surgiram apenas nomes de militares isolados e nem mesmo eles foram acusados por Omar Aziz. Simplesmente depoimentos de terceiros trouxeram seus nomes à baila. Como era lógico, a CPI considerou conveniente convocá-los para depor.
Foi o que bastou para que os chefes militares se alvoroçassem. Ora, as Forças Armadas são instituições de Estado necessárias a um país soberano. Não interessa a qualquer brasileiro vê-las enxovalhadas. Mas é preciso que se dêem ao respeito. Ou elas próprias estarão contribuindo para o seu desgaste.Não é razoável por exemplo, que, diante da constatação de que o general Eduardo Pazuello participou de um ato político em apoio a Jair Bolsonaro, o Exército aceite a versão de que aquilo não passou de um passeio de motocicleta. E, em seguida, estabeleça sigilo por cem anos (sim, cem anos!) para a publicidade de qualquer investigação sobre o caso.
Isso ajuda a imagem das Forças Armadas? É evidente que não. É preciso repetir: a CPI da Pandemia não fez qualquer acusação ao Exército, à Marinha ou à Aeronáutica. Simplesmente está apurando os fatos, que são gravíssimos, trazendo elementos para posteriormente responsabilizar quem cometeu atos de corrupção. Sejam civis ou militares. Afinal, vivemos numa república. Todos são – ou deveriam ser – iguais perante as leis. Tudo indica que dois grupos disputavam o controle das compras no Ministério da Saúde: um, formado por parlamentares do chamado Centrão; outro, integrado por militares, levados por Jair Bolsonaro e Pazuello.
Não há razão para que se deixe de investigar as acusações num momento em que está claro que a demora na aquisição de vacinas não foi fruto apenas de incompetência. Foi um artifício para, depois, numa situação emergencial, negociar a preços superfaturados com outros fabricantes, com quem se tinha esquemas de corrupção.
Por isso, o atraso na aquisição de vacinas. Este crime contribuiu para a morte de mais de meio milhão de brasileiros.
Assim, num momento em que, talvez por corporativismo, os chefes militares tentam intimidar o senador Aziz, todos os que defendem a lisura em relação à coisa pública devem se solidarizar com ele. É o que faz hoje a ABI, entidade com 113 anos de história em defesa das boas causas do povo brasileiro.
Rio de Janeiro, 8 de julho de 2021
Paulo Jeronimo – Presidente da Associação Brasileira de Imprensa