Leitor compulsivo de Karl Marx, Friedrich Engels e de Vladimir Ilich Ulianov, codinome Lênin, Edgard de Aquino Duarte era membro da clandestina Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais. Nascido em Bom Jardim, Estado de Pernambuco, participa da assembleia da corporação realizada no dia 25 de março de 1964. No Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro. Os manifestantes apresentam uma pauta com reivindicações. O ministro da Marinha, Sílvio Mota, alega a quebra da disciplina e da hierarquia e determina prisões dos insurgentes. O presidente da República, João Belchior Marques Goulart, demite o titular da pasta, nomeia para o cargo Paulo Mário da Cunha Rodrigues e anistia os revoltosos. A conspiração já estava em andamento.
Leitor compulsivo
de Karl Marx,
Friedrich Engels e de
Vladimir Ilich Ulianov
João Belchior Marques Goulart, presidente da República
Civil e militar, com a participação da CNBB, ABI, OAB, FIESP, o suporte dos conglomerados de comunicação, monopólios de mídia, sem regulação democrática, um golpe de Estado obtém protagonismo político das Forças Armadas e derruba Jango. As tropas de Olímpio Mourão Filho, a ‘vaca fardada’ do Plano Cohen, que instala o Estado Novo, em 10 de novembro de 1937, saem dia 31 de março. O presidente do Congresso Nacional, Auro Soares de Moura Andrade, decreta em 2 de abril, a vacância da presidência da República, com o inquilino do Palácio do Planalto no Brasil. A corte suprema avaliza. Os EUA reconhecem o novo governo federal. A Operação Brother Sam movimenta-se. Uma estranha derrota. Sem resistência. Nem derramamento de sangue.
Olímpio Mourão Filho
Filho de José Duarte e de Francisca Duarte, o rebento que nasceu em 22 de fevereiro de 1941, Edgard de Aquino Duarte é expulso, logo com a edição do Ato Institucional número um, da Marinha. Sob a repressão política e militar, faz a opção pelo exílio. O desterro. Primeiro, o México. Segundo, Havana, o farol da revolução socialista em ‘Nuestra América’. O retorno ao Brasil, a Pátria em Chuteiras, ocorre em 1968. O ano que não terminou. Longe da luta armada e de sua miríade de organizações rivais, ele ingressa na Bolsa de Valores do Estado de São Paulo. A Bovespa. É o que revela com exclusividade ao Portal de Notícias www.renatodias.online o então delegado oficial da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, José Duarte dos Santos.
Edgard de Aquino Duarte
é expulso, com a edição
do Ato Institucional
número um, ano de 1964
José Duarte dos Santos
José Duarte dos Santos é irmão de Antônio Duarte dos Santos, membro da Diretoria-Executiva da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais. Ele informa ter sido preso antes do golpe de Estado civil e militar que depôs Jango. Apesar do cerco, em arriscada operação, consegue fugir, embarca para o México, República Tchecoslováquia e Cuba, para submeter-se a treinamento político e militar. Em Havana trocou confidências com o médico argentino revolucionário Ernesto Guevara de La Serna, El Che, e conversou com o comandante Fidel Castro Ruz. Com passagem pelo Uruguai, o ativista político ingressa no Movimento Nacionalista Revolucionário. Sob a hegemonia do barulhento Leonel de Moura Brizola. O MNR fez três tentativas, derrotadas
José Duarte dos Santos.
Delegado oficial da
Associação dos Marinheiros.
PCB, MNR, ALN e Partidão
Para derrubar a ditadura civil e militar. 1965, com o coronel Jefferson Cardim. 1966, a guerrilha do Triângulo Mineiro. 1967, a guerrilha de Caparaó, com um desaparecido encontrado na Cova 312, por Daniela Arbex. Em ruptura com o PCB, entra para a ALN. A Ação Libertadora Nacional. Fundada pelo carbonário baiano Carlos Marighella, morto em 4 de novembro de 1969, à Alameda Casa Branca, número, São Paulo. Homem de ação política de vanguarda, José Duarte dos Santos participa de operação armada e liberta nove camaradas da prisão. Um deles, o seu velho irmão Antônio Duarte dos Santos. Acuado, cercado pela repressão política e militar, cai em 1969. É preso e torturado. Até que a VPR captura o liberal Giovanni Enrico Bucher, em 1970.
Giovanni Enrico Buccher, embaixador da Suíça, no Brasil
Não é sequestro, tipificado como crime comum. Trata-se de ato revolucionário. O embaixador da Suíça no Brasil, Giovanni Enrico Bucher, para no cativeiro provisório da revolução socialista. Quarenta dias de negociações tensas. Coordenadas por Carlos Lamarca. O capitão da guerrilha. Morto em 17 de setembro de 1971, no sertão da Bahia. Esquálido e faminto. Ao lado de Zequinha Barreto. Antes, Iara Iavelberg, a sua companheira, e Nilda Cunha caíram. Os quatro do Movimento Revolucionário Oito de Outubro [MR-8]. Emílio Garrastazu Médici aceita o acordo e liberta 70 presos políticos. Quando? Em 16 de janeiro de 1971. Em troca do diplomata. José Duarte dos Santos integra a lista ecumênica. Ao lado do Frei dominicano Tito de Alencar Lima.
Os setenta são
libertados em
16 de janeiro de
1971, rumo ao Chile
Assim como da estudante de Medicina, da VAR-Palmares [Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares, fundada em 1969], Maria Auxiliadora Lara Barcelos, além de Jean-Marc von Der Weid, ex-presidente da UNE e dirigente da Ação Popular [AP]. Os setenta desembarcam em Santiago, Chile. Com festa no Aeroporto Internacional de Pudahuel. De Salvador Allende. Da Unidade Popular. O médico marxista que se elegera presidente da República em 1970. Um golpe de Estado civil e militar, em 11 de setembro de 1973, acaba com a experiência chilena pacífica ao socialismo, sob a Guerra Fria, e o leva ao México. Depois, quatro anos na Bélgica. Angola, dois meses. Moçambique, os últimos dias de exílio. Com a Anistia, em 1980, a volta ao País.
Salvador Allende
Sob o nome falso de Ivan Marques Lemos, instalado à Rua Martins Fontes, número 268, Consolação, São Paulo, e trabalho formal na Bovespa, Edgard de Aquino Duarte encontra-se com José Anselmo dos Santos, ex-presidente da Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais, em 1964, que havia chegado de Cuba. Cabo Anselmo fica hospedado em seu imóvel. Um apartamento. Preso, o líder da revolta dos marinheiros e fuzileiros navais faz um acordo com o delegado do Deops-SP, Sérgio Paranhos Fleury, e passa a colaborar com o porão. Como ‘cachorro’. Remunerado, entrega ex-camaradas de armas. O agente duplo delata, como queima de arquivo, para a sua colaboração não ser descoberta, Edgard de Aquino Duarte: em 3 de junho de 1971.
Cabo Anselmo delata
Edgard de Aquino Duarte.
Ele é preso em 3 de junho.
Do ano de 1971: desaparece
Sérgio Paranhos Fleury
É levado ao Deops-SP e ao DOI-CODI-SP. Torturado e desaparecido. Ao agente Cabo Anselmo são atribuídas as quedas de Edgard de Aquino Duarte, Paulo de Tarso Celestino da Silva, Heleny Telles Guariba, Inês Etienne Romeu e os seis mortos da VPR, no ano de 1973, em Paulista, Granja São Bento, Estado de Pernambuco. Como Soledad Viedma Barret, sua mulher grávida, Jarbas Marques, Eudaldo Gomes Silva, Evaldo Luiz Ferreira de Souza, Pauline Reitschul e José Manoel da Silva. Dias 7 e 8 de janeiro de 1973. O último comandante militar da ALN Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, o Clemente, informa que teve um ponto, encontro clandestino com Cabo Anselmo, em São Paulo. Após a reunião, o guerrilheiro decidiu segui-lo e avistou – o.
José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo
Cena: Cabo Anselmo afável, cachorro, ao lado dos homens do porão, responsáveis pela guerra suja. De arma nas mãos, Clemente não titubeou e disparou. A bala pegou de raspão no nariz do torturador Sérgio Paranhos Fleury. Em 1° de maio de 1979, o chefe do Esquadrão da Morte de São Paulo morreria afogado, em Ilha Bela, litoral paulista. Cabo Anselmo está vivo e enclausurado. José Duarte dos Santos mora, hoje, em Goiânia, a capital do Estado de Goiás. A justiça federal condenou, em sentença inédita, à prisão, o delegado aposentado Carlos Alberto Augusto, Carlinhos Metralha, pela prisão ilegal, tortura, morte, desaparecimento, ocultação de cadáver de Edgard de Aquino Duarte. Crime de sequestro continuado. Imprescritível. Sem anistia.
Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz
Justiça federal condenou,
em sentença inédita, à prisão,
o delegado aposentado
Carlos Alberto Augusto,
o Carlinhos Metralha
O delegado aposentado do extinto Deops – SP Carlos Augusto, o Carlinhos Metralha
Renato Dias, 56 anos, é graduado em Jornalismo, formado em Ciências Sociais, com pós-graduação em Políticas Públicas, mestre em Direito e Relações Internacionais, ex-aluno extraordinário do Doutorado em Psicologia Social, estudante do Curso de Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos do Estado de Goiás, ministrado pelo médico psiquiatra e psicanalista Daniel Emídio de Souza. É autor de 22 livros-reportagem, oito documentários, ganhou 25 prêmios e é torcedor apaixonado do maior do Centro-Oeste, o Vila Nova Futebol Clube. Casado com Meirilane Dias, é pai de Juliana Dias, jornalista; Daniel Dias, economista; e Maria Rosa Dias, estudante antifascista, socialista e trotskista. Com três pets: Porquinho [Bull Dog Francês], Dalila [Basset Hound] e Geleia [Basset Hound]. Além do eterno gato Tutuquinho, que virou estrela.